Maka Angola

Maka Angola Maka Angola: Supporting Democracy/Fighting Corruption
Maka Angola: Em Defesa da Democracia/Contra a C Esta é a Maka! O que é a Maka? A Maka é de todos, colabore!
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Maka Angola é uma iniciativa dedicada à luta contra a corrupção e à defesa da democracia em Angola, fundada e dirigida pelo jornalista Rafael Marques de Morais. Maka é um substantivo em Kimbundu cujo significado, em português, se refere a um problema delicado, complexo ou grave. Angola é dotada de imensuráveis riquezas naturais e tem registado na última década um impressionante crescimento económi

co, sem impacto positivo no quotidiano da maioria dos angolanos, que continuam a viver na miséria. Escreva para Maka Angola. Rafael Marques de Morais – Fundador e Director
Jornalista e defensor dos direitos humanos, tem centrado a sua actividade na investigação e denúncia de actos de corrupção e violações dos direitos humanos, em particular nas zonas diamantíferas. Pelo seu trabalho, esteve preso em 1999 por ter chamado ditador ao presidente José Eduardo dos Santos num artigo intitulado O Baton da Ditadura. A justiça angolana notificou-o da acusação que pendia contra si apenas no dia da sua libertação. Recorreu, em instância internacional, da sentença do Tribunal Supremo, que confirmou a sua condenação a seis meses de prisão e ao pagamento de uma indemnização a Dos Santos. Em 2005, o Comité de Direitos Humanos das Nações Unidas concluiu que o Estado angolano havia violado os seus direitos e liberdades fundamentais, e instou-o a pagar uma indemnização. O regime do Presidente Dos Santos recusou-se a acatar o veredicto da justiça internacional. Em 2000, recebeu o Percy Qoboza Award [Prémio Percy Qoboza para a Coragem Exemplar] da Associação Nacional dos Jornalistas Negros dos Estados Unidos da América. Em 2006 venceu o Civil Courage Prize [Prémio de Coragem Civil] da Train Foundation (E.U.A.) pelas suas actividades em prol dos direitos humanos. Publicou vários relatórios sobre a violação dos direitos humanos no sector diamantífero em Angola, incluindo Diamantes de Sangue: Corrupção e Tortura em Angola (2011). Rafael Marques de Morais é Mestre em Estudos Africanos pela Universidade de Oxford e é formado em Antropologia e Jornalismo na Goldsmiths, Universidade de Londres. Foi académico convidado do Departamento de Estudos Africanos da Johns Hopkins University (2012) e pesquisador no National Endowment for Democracy (2011), em Washington, D.C., E.U.A. É actualmente membro do conselho directivo do Goree Institute, Senegal.
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Maka Angola is an initiative dedicated to the struggle against corruption and to the defense of democracy in Angola, funded and directed by journalist Rafael Marques de Morais. Maka is a noun in Kimbundu, one of the indigenous languages of Angola, referring to a delicate, complex or serious problem. Angola is endowed with immeasurable natural wealth and the last decade has seen impressive economic growth but most of the population still lives in poverty. This is the Maka! Rafael Marques de Morais – Founder and Director
Rafael Marques de Morais is an Angolan journalist and human rights defender focused on investigating government corruption and abuses in the diamond industry. Mr. Marques was imprisoned for his work in 1999, for calling President Dos Santos a dictator in an article titled The Lipstick of Dictatorship, and released after international advocacy efforts on his behalf. His case was eventually taken up by the United Nations Human Rights Committee, which delivered a precedent-setting ruling in 2005 according to which Angola had violated the journalist’s fundamental rights. In 2000 he won the Percy Qoboza Award for Outstanding Courage from the National Association of Black Journalists (USA). In 2006, he received the Civil Courage Prize, from the Train Foundation (USA) for his human rights activities. In 2011, Human Rights Watch awarded him a Hellman/Hammett grant for his contribution to freedom of expression in Angola. He has published various reports on human rights abuses in the diamond industry in Angola, including Blood Diamonds: Corruption and Torture in Angola (2011). Marques holds an MSc in African Studies from the University of Oxford, and a BA Hons in Anthropology and Media from Goldsmiths, University of London. He was a visiting scholar at the African Studies Department of SAIS/ Johns Hopkins University (2012) and a Reagan-Fascell Democracy Fellow at the National Endowment for Democracy (2011), both in Washington, D.C. He is currently a board member of the Goree Institute, Senegal.

Ao fim de três dias, o ministro do Interior, Manuel Homem, prestou finalmente declarações públicas, apresentando o balan...
31/07/2025

Ao fim de três dias, o ministro do Interior, Manuel Homem, prestou finalmente declarações públicas, apresentando o balanço dos trágicos eventos como se contasse parafusos de uma fábrica, em tom de enfado e confusão. Entre os números lançados com frieza, surge o mais chocante: 22 mortos. Não há memória de repressão de uma manifestação popular que tenha causado tantos mortos na era de José Eduardo dos Santos.
por MOIANI MATONDO

LER TEXTO INTEGRAL:
Depois de reunião de Conselho de Ministros, ao terceiro dia de fortes protestos da população, Manuel Homem, o ministro do Interior, apresentou finalmente declarações públicas, como quem se tivesse esquecido do papel principal na peça ou acabasse de perder no jogo de faz-de-conta. A sua função? Fazer o balanço dos eventos recentes em Angola. O tom? Um misto de enfado e confusão, como se o tumulto fosse uma arruaça colectiva e não uma revolta popular com sangue e dor.

Para Manuel Homem, os acontecimentos que ocorreram durante a greve dos taxistas foram puro vandalismo, como se o povo tivesse saído à rua apenas para destruir e saquear — e não por razões bem mais profundas e dolorosas.

No seu inventário tragicómico, o ministro apresenta vítimas como quem enumera produtos numa lista de supermercado: dois carros, uma ambulância, três autocarros… ah, e sim, umas quantas pessoas também. Dá quase a entender que a importância da chapa metálica é idêntica à do ser humano. Na sua lógica, parece que uma ambulância amolgada dói o mesmo que a mãe indefesa, Ana Mutuila, morta por um tiro nas costas. Parece que o destino de um autocarro é tão trágico como o de um jovem caído a tiro. A gramática da tragédia ficou toda trocada.

A aparência do ministro Manuel Homem também não ajudou — uma cara redonda e pacata, mais adequada para organizar tardes de futebol salão do que para comandar operações com gente fardada e armada. Nada ali inspirava respeito, muito menos autoridade. Se era para impor medo ou tranquilizar, falhou em ambas. E entre números lançados com frieza, surge o mais chocante: 22 mortos. Vinte e duas vidas interrompidas como notas rasgadas de uma música que nunca chegou a tocar. E, ainda assim, a entrega da estatística parecia coisa rotineira, como quem fala das vendas trimestrais da fábrica de parafusos:

"Temos 22 mortos, destes, a destacar, um efectivo da Polícia Nacional de Angola, que, em serviço, foi, infelizmente, vítima desta acção que aconteceu na província de Icolo e Bengo. Igualmente, temos registos de 197 feridos e também 1214 cidadãos detidos pela prática de actos de vandalismo e pilhagem e também instituições como: 66 lojas da rede de várias entidades — são várias empresas que aqui não importa realçar — e que, também, entre outras instituições, destacam-se agências bancárias e também viaturas de cidadãos e de instituições públicas, como viaturas da Polícia Nacional e ambulâncias, autocarros, que foram vítimas deste vandalismo, que os órgãos do Ministério do Interior tomaram as medidas para assegurar que voltássemos à normalidade."

Não há memória de repressão de uma manifestação popular que tenha causado tantos mortos na era de José Eduardo dos Santos. A era de Lourenço superou na matança.

No meio dos acontecimentos, sobressai a história brutal da mãe que caiu morta ao tentar proteger o filho dos disparos da polícia. A zona não tinha supermercado, não havia assalto, tampouco se vislumbra algum risco que justificasse a intervenção armada.

Era apenas uma mãe e um filho — e uma ordem, aparentemente, para disparar indiscriminadamente. Matar! F**a a sensação inquietante de que a Polícia Nacional recebeu sinal verde para semear o terror e silenciar o povo. E esse descontrolo, por mais conveniente que seja atribuí-lo a factores externos, parece ter nascido da ausência gritante de liderança por parte do ministro do Interior. Perante esta gestão da intervenção das forças de segurança, ouvimos o ministro dizer no seu discurso: "Queremos transmitir uma mensagem de confiança nos órgãos de segurança nacional" e ainda: "Estaremos sempre atentos para dar resposta adequada a cada situação." É isto que o actual governo considera uma resposta adequada?

Mas a culpa não se limita a Manuel Homem.

Ele é apenas uma peça, talvez a menos polida, no tabuleiro de nomeações feitas ao sabor de amizades e jogos de bastidores. Ministros escolhidos como quem escolhe convidados para um banquete: "Este é simpático", "Aquele elogia bem", "O outro conhece alguém importante".

Meritocracia? Nem vê-la. O resultado é um governo de equívocos, em que o Interior é entregue a quem parece mais talhado para cuidar de interiores domésticos do que da segurança pública.

E no epicentro deste carrossel de más escolhas está o nome que ecoa por entre as ruínas da credibilidade política: João Lourenço. A dança das cadeiras, alimentada por bajulações e favores, desenha um retrato deprimente de um país onde a liderança não lidera, apenas decora. E entre estatísticas, lojas saqueadas, veículos danificados e corpos caídos, resta a sensação amarga de que alguém confundiu democracia com um catálogo de peças danificadas.

Urge a demissão de Manuel Homem, para que a segurança pública seja tratada com um mínimo de seriedade e responsabilidade.

Com ar de quem acabou de perder no jogo de faz-de-conta, Manuel Homem, o ministro do Interior, lá apareceu ao terceiro dia, como quem se esqueceu do papel pri

O vandalismo desencadeado durante a greve dos taxistas é sem dúvida um crime. Porém, em Angola, os actos de vandalismo n...
29/07/2025

O vandalismo desencadeado durante a greve dos taxistas é sem dúvida um crime. Porém, em Angola, os actos de vandalismo não surgem como fenómenos isolados. São consequência de um sistema que tem falhado em garantir condições mínimas de dignidade à maioria da população. É preciso enfrentar esta realidade e dar-lhe respostas políticas urgentes.
por RUI VERDE

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Comecemos pelo óbvio. O vandalismo é, sem dúvida, um crime. A legislação angolana é clara e severa na sua punição, reflectindo a necessidade de manter a ordem pública e proteger os bens comuns. A sua prática reiterada representa não apenas uma afronta ao Estado de direito, mas também uma ameaça à estabilidade da ordem constitucional.

Nos últimos tempos, este discurso tem sido reiterado a propósito dos eventos ocorridos em Luanda durante a greve dos taxistas. E é certo que, numa primeira leitura, temos perante nós uma questão de segurança pública que exige uma resposta das forças policiais e da justiça.

Contudo, esta leitura, embora válida, é insuficiente. Não chega e não resolve nada.

Reduzir o fenómeno do vandalismo à mera ilegalidade é ignorar a sua profundidade política e social. Em Angola, os actos de vandalismo não surgem como fenómenos isolados, mas sim como consequências de um sistema que tem falhado em garantir condições mínimas de dignidade à maioria da população.

O vandalismo é, em muitos casos, expressão da frustração colectiva diante de promessas políticas não cumpridas. Sobretudo depois da esperança de 2018/2019, é também fruto de décadas de desigualdade social, de políticas económicas desconectadas da realidade concreta do país – inspiradas num Fundo Monetário Internacional que tende a ignorar a história, o contexto e as instituições de cada país – e, acima de tudo, do abismo cada vez maior entre a vida faustosa das elites dirigentes e a miséria do povo.

O cidadão comum, esmagado pela inflação, pelo desemprego e pela escassez de serviços públicos, assiste ao desfile de carros de luxo e mansões opulentas dos seus governantes como quem vê um mundo paralelo e inacessível. Esse contraste é mais do que um insulto: é uma ferida aberta que alimenta a revolta social. O que é juridicamente um crime torna-se politicamente um grito desesperado por reconhecimento.

Episódios semelhantes têm ocorrido em outras geografias africanas lusófonas, como em Moçambique, onde a falta de transparência do processo eleitoral fez explodir o país.

Estas manifestações, longe de serem simples actos de delinquência, são sinais evidentes de tensões sociais profundas, que exigem respostas políticas imediatas e estruturantes. O erro comum tem sido tratar o sintoma — o vandalismo — com repressão, ignorando a doença — o sistema desigual e excludente que o gera. Erro em que o recente comunicado do MPLA sobre os eventos de segunda-feira, dia 28 de Julho, cai absurdamente.

A repressão policial, por mais eficaz que possa parecer no curto prazo, não elimina as causas. Pode conter os surtos momentâneos, mas, sem uma transformação estrutural, novos episódios irão inevitavelmente surgir.

A solução não está na força, mas na escuta, na justiça e na coragem política para enfrentar os problemas de frente. A paz social não se constrói com gás lacrimogéneo, mas com pontes.

Angola precisa urgentemente de uma remodelação profunda no seu governo. Vários ministros, da área económica e social, devem ser imediatamente demitidos. Novas caras, novas ideias e novas práticas são imperativas. Mas não basta trocar figuras – é preciso mudar mentalidades, quebrar a cultura de ostentação e promover uma liderança verdadeiramente comprometida com o serviço público.

A introdução das eleições autárquicas é imperativa agora, por ser uma poderosa ferramenta nesse processo, ao trazer os cidadãos para o centro da política, promovendo diálogo directo entre as comunidades e o Estado. Quando o poder é partilhado com quem vive o dia-a-dia das dificuldades, as decisões tornam-se mais humanas, mais eficazes e mais legítimas.

Para além da reforma institucional, é vital reforçar os canais de comunicação permanente com a sociedade. Criar espaços onde a voz do povo seja escutada com seriedade, onde as preocupações sejam atendidas e as soluções sejam construídas de forma participativa. Valorizar a escuta activa é reconhecer que o conhecimento da realidade não está apenas nos gabinetes ministeriais, mas também nas ruas, nos mercados, nos bairros periféricos, onde se vive a dura realidade angolana.

Ignorar estes passos é correr o risco de transformar o confronto entre governo e “vândalos” numa guerra fratricida. Uma guerra onde não há vencedores, apenas perda — da coesão social, da confiança institucional e, acima de tudo, da esperança. O vandalismo, neste contexto, é um apelo desesperado por dignidade. E a dignidade não se impõe com autoridade; constrói-se com justiça social, com oportunidades reais, com políticas públicas sensíveis e com coragem para mudar.

Portanto, o debate sobre o vandalismo não pode resumir-se à criminalização. Deve abrir espaço para uma reflexão profunda sobre o modelo de sociedade que se está a construir. Uma sociedade onde muitos vivem à margem – sem acesso a educação de qualidade, saúde adequada, emprego digno e participação política efectiva – está fadada ao conflito.

O verdadeiro desafio, para Angola, é reconhecer este apelo oculto, este clamor por respeito e inclusão, e responder-lhe com a grandeza que se exige: construindo um país mais justo, mais equilibrado e verdadeiramente baseado no consentimento popular.

Comecemos pelo óbvio. O vandalismo é, sem dúvida, um crime. A legislação angolana é clara e severa na sua punição, reflectindo a necessidade de manter

As associações de táxis, em Luanda, iniciaram hoje uma greve. Foi o primeiro de três dias de protesto contra o aumento d...
28/07/2025

As associações de táxis, em Luanda, iniciaram hoje uma greve. Foi o primeiro de três dias de protesto contra o aumento do preço do gasóleo. Para além da paralisação parcial da capital, a greve foi acompanhada de incontáveis actos de vandalismo e agitação popular.
por RAFAEL MARQUES DE MORAIS

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Cada vez mais, as medidas tomadas pelo presidente João Lourenço têm agravado a situação socioeconómica da maioria da população, sem apresentar políticas públicas que demonstrem mudanças para o bem comum. O contrário tem sido a norma.

É o caso do sector dos transportes. Para a mobilidade da maioria dos dez milhões de habitantes de Luanda, não há alternativas aos táxis privados (vulgo, candongueiros). O Governo de Lourenço já gastou cerca de 800 milhões de dólares em autocarros para melhorar o sistema de transportes públicos, mas os resultados foram negativos e tão-somente favoráveis à corrupção e à pilhagem legalizadas. A maioria dos 1500 autocarros adquiridos, num total de 742, foi distribuída entre operadoras privadas de indivíduos ligados ao poder, muitas das quais não os colocaram em circulação. Outras centenas foram distribuídas pelos ministérios e mantidas em reserva para as campanhas do MPLA.

Assim, com os táxis privados em greve, Luanda paralisa, porque não há um sistema de transportes públicos funcional.

Entre 2021 e o primeiro semestre de 2024, o subsídio aos combustíveis custou ao Estado cerca de 9,1 biliões de kwanzas, o que equivale a cerca de 15 mil milhões de dólares ao câmbio médio do período. Contudo, a retirada parcial destes subsídios não se traduziu em melhorias reais no transporte público ou no poder de compra da população. Em Luanda, cidadãos com salários mínimos não conseguem pagar os transportes. Alguns chegam a gastar até 44 mil kwanzas por mês apenas em deslocações, montante que representa mais de metade do salário mínimo oficial.

VANDALISMO

Antónia Sebastião, residente no Bairro Golf II, conta como a área em que vive descendeu ao caos.

“Inicialmente ouvimos que haveria uma greve de táxis e depois manifestação. Mas, aqui, as pessoas bloquearam as estradas com queimas de pneus, vandalizaram carros na via pública, arrombaram lojas, armazéns e puseram-se a saquear. Há muitos tiroteios, há o registo de um jovem de 16 anos morto a tiro, não sabemos por quem. Está uma confusão muito grande”, descreve.

Nas redes sociais abundam imagens de vandalismo. Destaca-se a de um jovem ferido na boca por uma bala, no Bairro do Golf II, assim o vídeo de uma viatura que está a ser atacada por uma multidão, com o automobilista a acelerar, atropelando dois cidadãos dos atacantes. Este episódio, ocorrido no Bairro Nova Vida, foi presenciado de perto pelo bastonário da Ordem dos Advogados, José Luís Domingos, que também teve a sua viatura vandalizada pelo mesmo grupo quando se dirigia à sede da organização que dirige.

Rafael Inácio, presidente da Cooperativa de Táxis Comunitários de Angola, que controla quatro mil taxistas, manifesta a sua solidariedade para com os taxistas em greve e demarca-se dos actos de vandalismo.

“A Cooperativa não faz parte da greve, mas solidariza-se com a causa. Todavia, condenamos veementemente os actos de desordem, de anarquia e de aproveitamento político que estão a ser feitos”, afirma.

Este interlocutor refere que os taxistas têm “lutado de forma isolada, ordeira e pacífica, seguindo as normas legais para reivindincar os seus direitos”. “Mas, as pessoas estão a aproveitar-se dessa luta para assaltar supermercados, as cantinas dos oeste-africanos, vandalizar as viaturas. O que é que os supermercados têm a ver com a greve dos taxistas? É arrepiante. A situação está fora de controlo”, lamenta.

Como ilustração do descontrolo, Rafael Inácio explica que esteve retido no Bairro da Calemba II, durante a manhã e por mais de três horas, “porque os moradores locais bloquearam certas vias para impedir a circulação do trânsito”.

Apesar da crise interna, o presidente João Lourenço mantém uma agenda externa imparável de voltas ao mundo, utilizando aviões VIP cujo custo por hora pode ultrapassar os 74 mil dólares e sempre acompanhado de um séquito de mais de cem pessoas.

Essa dissonância entre os gastos de luxo do presidente e do seu Governo e a emergência interna agrava a frustração popular. A verdade é que a crise, marcada por inflação elevada e dificuldades no sector público, não leva o Governo angolano a cortar uma política de gastos excessivos, especialmente com deslocações presidenciais ao exterior. Esta discrepância entre a austeridade imposta à população e o luxo das despesas governamentais agrava a frustração popular e levanta sérias dúvidas sobre as prioridades do Estado angolano e a seriedade da sua agenda reformista. Só aperta o povo, nunca os dirigentes.

A greve dos táxis é o sintoma de uma política pública desconectada da realidade do povo. Enquanto Lourenço ignora a necessidade de uma rede de transportes públicos funcional e a austeridade penaliza os mais fragilizados, o Estado opera sob uma lógica de espectáculo: compra centenas de autocarros, destina a maioria a esquemas de corrupção e, ao mesmo tempo, reprime quem exige seriedade da sua parte.

A narrativa de progresso e mobilidade do Governo falha quando confrontada com a experiência quotidiana do cidadão – que caminha longas horas, espera e espera, paga muito e viaja pouco. A prioridade política parece estar na projecção internacional, e não na população.

Ao recusar o diálogo com a sociedade e ignorar a necessidade de uma escuta activa, João Lourenço contribuiu para o agravamento da insegurança pública e da desordem social. Ele é o responsável último pelo vandalismo. A ausência de canais eficazes de participação cidadã transformou o espaço público num terreno fértil para o crescimento da criminalidade, da delinquência juvenil e da violência urbana. Essa escolha política, marcada pela indiferença e pela centralização do poder, revela uma desconexão profunda entre os governantes e os governados.

A manutenção de uma governação opaca, sem prestação de contas, alimenta o sentimento de abandono e de revolta entre os cidadãos. Em vez de investir numa cultura de proximidade e transparência, o Estado optou por preservar privilégios e gastos supérfluos, como as viagens presidenciais dispendiosas, enquanto a população enfrenta dificuldades crescentes no acesso à segurança, saúde e educação.

Essa postura não é apenas um erro estratégico – é uma escolha cega que mina a confiança nas instituições e entrega as ruas à marginalidade. Num contexto de crise económica e social, o silêncio do poder é interpretado como desprezo, e a ausência de diálogo transforma-se em combustível para o descontentamento popular.

Governar não é improvisar, Sr. João.

As associações de táxis, em Luanda, iniciaram hoje uma greve. Foi o primeiro de três dias de protesto contra o aumento do preço do gasóleo. Para além da

Na sua recente visita a Portugal, João Lourenço reeditou as técnicas propagandísticas típicas dos regimes autoritários d...
28/07/2025

Na sua recente visita a Portugal, João Lourenço reeditou as técnicas propagandísticas típicas dos regimes autoritários do século XX e encenou uma série de manifestações “espontâneas” de apoio. Não só foi um fiasco total, como abriu espaço para que o líder da extrema-direita português, grande promotor do combate à imigração, se arvorasse em defensor das liberdades dos angolanos.
por RUI VERDE

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Há cerca de um ano (por ocasião do 25 de Abril de 2024), João Lourenço esteve em Portugal e marcou pontos alcançado um grande sucesso com um jantar da comunidade angolana, em que todos, da situação e da oposição, brindaram em uníssono, revelando uma Angola unida e festiva.

Agora, um ano depois, em Julho, aconteceu exactamente o contrário em nova visita de João Lourenço a Portugal. Tentando um sucesso, arranjou-se um fiasco. Por alguma razão, resolveu-se promover uma série de manifestações “espontâneas” de apoio a João Lourenço, frente à Assembleia da República portuguesa e ao palácio presidencial em Belém. Correu mal. Os manifestantes apresentaram-se todos vestidos de forma igual, t-shirt, chapeuzinho e bandeirinha, percebendo-se claramente que lhes tinha sido distribuído um kit. Qualquer aparência de aglomeração espontânea e entusiasta despareceu. Ficou um travo de encenação, típica dos regimes autoritários do século XX.

Para piorar, André Ventura, líder do Chega, partido populista de extrema-direita português que nas últimas eleições se tornou a segunda maior força política em Portugal, e a quem o governo actual recorre cada vez mais para aguentar a sua minoria, não esteve com meias-palavras e denunciou o acto nas redes sociais, flagelando vivamente João Lourenço. E acabou por ser esse o grande evento da visita de Lourenço: a live de André Ventura.

É uma ironia da política moderna, que Ventura surja como o grande paladino das revoluções e libertações em Angola e Moçambique. Lembremo-nos que ainda recentemente apareceu nas redes sociais a promover uma recepção de quase chefe de Estado a Venâncio Mondlane, de Moçambique.

Doutrinalmente, é difícil entender que o partido anti-imigração em Portugal tenha uma postura pró-liberdade e pró-direitos fundamentais em Angola e Moçambique. Contudo, não é impossível. Poderá alegar que quer que Angola e Moçambique sejam países justos e livres, para que os seus cidadãos não tenham de fugir e imigrar para Portugal.

Esta atitude de Ventura pode contribuir para fragilizar os regimes em Angola e Moçambique. Basta que vá convencendo as várias extremas-direitas suas aliadas, designadamente em França e na Alemanha, para que os governos se sintam pressionados a mudar a actual atitude de apoio discreto às lideranças, o mesmo acontecendo em Portugal.

Se este acabou por ser o tema que, em termos mediáticos, se impôs na visita de Lourenço, não foi o único, havendo outros aspectos a realçar.

A comunicação social portuguesa esperava retirar algum proveito do desconforto africano com as novas tentativas da legislação portuguesa sobre os estrangeiros, mas não teve sucesso; o presidente da República português esvaziou o assunto com o rápido envio do tema para o Tribunal Constitucional, e João Lourenço não insistiu de maneira frontal.

Na verdade, a visita teve bastante p***a institucional, parecendo marcar um fim de ciclo, certamente o adeus de Marcelo Rebelo de Sousa, e talvez o de João Lourenço, que entra na fase final do seu mandato, agora com a preparação da festa de Novembro relativa aos 50 anos de independência e depois com a turbulência anunciada do processo de sucessão. Não lhe vai restar tempo para muito mais.

Marcelo Rebelo de Sousa é, ao nível do poder superior do Estado, o “último dos africanistas”, isto é, alguém que, além do afecto por África, tem uma visão estratégica de Portugal no continente africano. Toda a nova geração política que lhe sucede já não tem essa visão, adoptando uma postura meramente tecnocrática e virada para os negócios. Efectivamente, em termos políticos e económicos, Portugal vai perdendo África.

Basta ver a postura do primeiro-ministro português, Luís Montenegro, que apenas sabe anunciar o reforço da linha de crédito de Portugal a Angola. Trata-se de mais financiamento para empresas portuguesas que queiram investir em Angola. Aparentemente, a linha nunca se esgota, e Montenegro anuncia seus sucessivos reforços, sem que seja divulgada uma lista pública das empresas e projectos beneficiados. Algumas fontes referem que estes reforços são uma tentativa de engenharia financeira para resolver o problema das dívidas angolanas a empresas portuguesas. Dizem-nos que, embora apresentada como uma iniciativa de apoio ao investimento português no país africano, aparenta ser um expediente já conhecido: o Estado português cobre dívidas antigas do Estado angolano a empresas portuguesas, reembalando o gesto como novo investimento externo. Este mecanismo terá sido utilizado noutras ocasiões e surge, desta vez, como resposta indirecta aos apelos de empresários portugueses que pressionaram o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, antes da chegada de Lourenço, para que fossem resolvidas pendências financeiras crónicas. Não está confirmado que assim seja, mas também não há transparência no assunto.

O certo é que, como afirmou na sua recente entrevista a um canal de cabo português, talvez para surpresa de alguns, João Lourenço já não considera Portugal como a “porta de entrada” de Angola para a Europa. Já há muito tempo que assim é. Neste momento, segundo os dados mais recentes do Banco Nacional de Angola (BNA), o principal credor do Estado angolano é o Reino Unido, que ultrapassou a China. A diplomacia francesa e a espanhola estão claramente mais activas em Angola do que a portuguesa, e isso verifica-se em várias áreas, dos negócios à academia.

Em 2024, França liderou o volume de negócios com Angola, com cerca de 3700 milhões de euros resultantes de um forte fluxo bilateral de exportações e importações, consolidando-se como investidor e parceiro estratégico incontornável em Angola. Espanha seguiu com um volume total estimado em 1520 milhões de euros, beneficiando sobretudo das importações de petróleo angolano e reforçando o seu papel no comércio energético. Por sua vez, Portugal enfrentou uma queda assinalável nas exportações, registando apenas 753 milhões de euros entre Janeiro e Setembro – uma quebra de 23,4% face ao ano anterior. O volume total de negócios português, estimado em cerca de 1024 milhões de euros, evidencia uma perda de dinâmica comercial. Este declínio acentuado levanta questões sobre a competitividade das empresas portuguesas no mercado angolano e a eficácia das políticas de internacionalização, sobretudo num momento em que outros países europeus estão a fortalecer laços económicos e estratégicos com Angola.

Face a isto, os acordos assinados entre Portugal e Angola nesta visita equivalem a quase zero. Foram assinados 11 acordos de cooperação entre os dois países. Estes protocolos abrangem áreas como segurança, protecção civil, transportes, ensino superior, logística e investimento. Entre os documentos assinados, destacam-se o Programa de Cooperação Técnico-Policial e de Protecção Civil para o biénio 2025-2026, o acordo entre os Ministérios do Interior na área de bombeiros e segurança rodoviária, e diversos memorandos de entendimento no domínio das infra-estruturas de transporte, certificação logística, investigação de acidentes marítimos e cooperação académica com a Universidade Agostinho Neto.

Apesar da sua abrangência temática e do tom diplomático, estes acordos têm pouco ou nenhum impacto prático imediato. Na sua maioria, são memorandos de entendimento que não têm força vinculativa nem estipulam metas mensuráveis. Muitos repetem compromissos já assumidos em anos anteriores, com fraca execução e escassa fiscalização. O financiamento previsto é reduzido – por exemplo, o protocolo técnico-policial prevê apenas 81 mil euros –, o que limita fortemente o seu alcance e ambição. Acresce ainda a ausência de indicadores de desempenho, cronogramas e mecanismos públicos de monitorização.

Por tudo isto, a recente viagem de Lourenço a Lisboa sabe a pouco e tem a nota de rodapé da entrada retumbante de André Ventura nos temas africanos.

Há cerca de um ano (por ocasião do 25 de Abril de 2024), João Lourenço esteve em Portugal e marcou pontos alcançado um grande sucesso com um jantar da com

Sucedem-se as manifestações de protesto por todo o país. Os motivos são sobretudo socioeconómicos: vida cara, pobreza, c...
22/07/2025

Sucedem-se as manifestações de protesto por todo o país. Os motivos são sobretudo socioeconómicos: vida cara, pobreza, condições de sobrevivência. Há uma imensidão de juventude frustrada com o desemprego, o estudo para nada, as elites a voarem para Portugal e investirem no luxo estrangeiro, enquanto eles comem areia em Luanda. A reacção do MPLA mostra-se de tal modo inadequada que podemos perguntar: estarão os representantes políticos afectados pela cegueira?
por RUI VERDE

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Sucedem-se as manifestações por todo o país, umas maiores, outras menores, umas com mais sucesso, outras com menos. Não se podem tirar demasiadas conclusões, nem, sobretudo, ter certezas.

Mas alguns pontos comuns são óbvios: estas manifestações versam essencialmente sobre aspectos socioeconómicos: vida cara, pobreza, condições de sobrevivência. São manifestações do concreto, e não de ideias abstractas, como algumas anteriores que contestavam resultados eleitorais.

Além disso, há uma imensidão de juventude, juventude que não conheceu a guerra, mas convive com a frustração do desemprego, do estudo para nada, de ver as elites a voarem para Portugal e investirem no luxo estrangeiro, enquanto eles comem areia em Luanda.

Se uma parte das manifestações terá organizações e promotores visíveis e conhecidos, outra parte é um movimento orgânico de puro descontentamento.

Ainda há que mencionar, além da parte física e visível, o forte apoio nas redes sociais. Também aqui, este apoio não quer dizer tudo; até pode não ser transformado em realidade, mas é um sintoma igual de repulsa pelo estado de coisas.

O ponto essencial é que há uma realidade efectiva de descontentamento com a situação económica e social que, obviamente, tem fortes repercussões políticas.

José Eduardo dos Santos e o MPLA, após a vitória na guerra em 2002, tentaram fazer um pacto “à chinesa” com o povo, através do qual o MPLA governaria sem contestação, assegurando o desenvolvimento do país. Tratava-se de uma legitimação do poder pelo exercício. É sabido que esse pacto falhou definitivamente em 2015/2016.

João Lourenço retomou-o ao anunciar que queria ser o Deng Xiao Ping de Angola, isto é, mantendo o MPLA no poder, mas reformando a economia do país rumo à prosperidade.

O que estas manifestações representam é a resposta do povo, segundo a qual, mais uma vez, esse pacto não foi cumprido. Não foi assegurado o desenvolvimento para o povo em troca do governo do MPLA.

É evidente que se poderão apresentar estatísticas recentes com o desempenho positivo da economia e de intensa construção de infra-estruturas, que são reais, mas a verdade é que não é esse o sentimento prevalecente.

Sabemos que, na China, houve uma altura em que o povo sentiu que as promessas não estavam a ser cumpridas e se revoltou, dando origem aos famosos acontecimentos de Tiananmen em 1989, que resultaram num massacre dos estudantes às mãos do exército chinês. Depois da violenta repressão, Deng Xiao Ping não recuou nas reformas, pelo contrário, acelerou-as com a sua famosa viagem ao Sul.

A “Viagem ao Sul” de Deng Xiao Ping, realizada em Janeiro de 1992, marcou um ponto decisivo na trajectória da China rumo à modernização económica. Após o retrocesso nas reformas em 1989 e o ressurgimento de ideologias conservadoras, Deng, preocupado com a estagnação do país, decidiu intervir directamente. Visitando cidades como Wuchang, Changsha, Shenzhen, Zhuhai e Guangzhou, defendeu com firmeza a aceleração do desenvolvimento e a abertura ao exterior, reforçando a importância de experimentar, aprender com os erros e adoptar novas ideias e tecnologias. Embora inicialmente ignorada pelos media estatais chinesa, a viagem ganhou destaque internacional e, posteriormente, dentro do próprio país. Os discursos de Deng consolidaram a direcção das reformas, revitalizaram a economia e pavimentaram o caminho para o crescimento acelerado e a ascensão da China como potência global.

Em Angola, a fase actual é pré-Tiananmen. É evidente que são necessárias reformas efectivas na economia e que é preciso desfazer o estrangulamento social. O povo está a fazer ouvir a sua voz.

Qual a resposta do governo e do partido que o apoia? Aparentemente, não vêem. Estarão cegos? E, além de cegos, estarão surdos? O cego pode ser conduzido por quem ouve, mas se ninguém vê nem ouve… não há caminho.

Aquilo a que assistimos no MPLA é a uma forte disputa interna sobre pré-candidaturas à presidência do partido, reciclando velhas figuras, surgindo novas personalidades, mas não se percebendo como tomarão o rumo do desenvolvimento do país.

As lideranças mobilizam as bases, mas seguem os antigos cânones, pouco inspirados e virados para uma população pouco esclarecida. Não falta dinamismo à nova vice-presidente, mas, no final do dia, as palavras soam a repetições do passado que já não mobilizam ninguém. Neste momento, o MPLA é um partido dividido, a que faltam ideias para o país, limitando-se a adoptar as linhas do Fundo Monetário Internacional (FMI), que apenas servem como medidas de estabilização conjuntural e não de desenvolvimento. Basta ver a ausência de efeitos estruturantes das anteriores intervenções do FMI em Angola.

Pior ainda, a imagem que os dirigentes transmitem é de desinteresse pelo povo: não explicam as medidas, aplicam-nas de cima para baixo, sem muita conversa, continuam a exibir sinais exteriores de riqueza totalmente desajustados da realidade nacional, criando um fosso psicológico com o resto da população. Vão e vêm de avião, mostram os seus relógios dourados, a sua roupa de marca, as suas gravatas de seda. A questão não é o facto de terem dinheiro para comprar esses objectos. A questão é que, por actos e omissões, criam um abismo com o povo — o povo que vota e que os elege.

Isto não significa que não haja dirigentes que de facto trabalham e se preocupam com o povo, bem como grupos económicos que criam riqueza no país.

O problema é que tudo isto é suplantado pelas promessas não cumpridas, pelas ilusões de grandeza que soam a falso. Os exemplos poderiam ser dados em cascata.

A promessa, feita em 2017 pelo presidente João Lourenço, de criar 500 mil empregos até ao fim da legislatura não foi cumprida. O plano PAPE, lançado em 2019 com 58 milhões de euros, enfrentou entraves como corrupção, má gestão e falta de capacidade do sector produtivo para absorver trabalhadores. Em 2025, o governo apresentou um novo projecto, agora com apoio do Banco Mundial, para tentar alcançar a mesma meta até 2029, evidenciando que o objectivo inicial fora adiado e reformulado. A taxa de desemprego não descola de uns assombrosos 30% (com ligeiras oscilações) e o desemprego jovem é sempre superior a 55%.

O metro de superfície de Luanda, avaliado em 3 mil milhões de dólares, prometia revolucionar a mobilidade urbana, mas até 2025 ainda não avançou para a fase de construção, envolto em dúvidas sobre financiamento e transparência.

Até Julho de 2025, nenhuma das três principais refinarias previstas em Angola — Cabinda, Soyo e Lobito — está em funcionamento, apesar de promessas recorrentes do governo para reduzir a dependência de combustíveis importados. A refinaria de Cabinda, cujo início de operações estava prometido para Janeiro de 2025 com capacidade para 30 mil barris por dia, continua incompleta, tendo apenas activado sistemas auxiliares. A refinaria do Soyo, com operação prevista em 2026 e capacidade para 100 mil barris diários, mostra um progresso físico de apenas 2%, ainda sem garantias de financiamento sólido. Já a refinaria do Lobito, planeada para entrar em funcionamento em 2027, com capacidade para 200 mil barris por dia, regista um avanço físico de 10,29%, mas continua envolta em indefinição quanto à sua estrutura accionista.

Progresso das refinarias em Angola (Julho de 2025)

Cabinda ███████████░░░░░░░░░░░░░ ~35%
Soyo █░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░░ ~2%
Lobito ██████░░░░░░░░░░░░░░░░░░ ~10.29%

Estes números revelam uma gestão inconsistente dos projectos estratégicos e alimentam o cepticismo em relação às promessas de transformação económica feitas pelo executivo. Demonstram um desfasamento preocupante entre o discurso político e a sua concretização, minando a confiança da população nas instituições.

E este é o problema essencial: a população (ou uma parte muito significativa da população) perdeu a confiança no executivo e no partido que o apoia.

A desconfiança não nasce apenas dos fracassos de gestão, mas também da ausência de escuta activa, de reformas estruturais reais e da renovação de práticas políticas que aproximem os decisores da vida concreta dos cidadãos.

É como se o partido estivesse a gerir o presente com receitas do passado, ignorando que o contexto mudou, que as exigências sociais são maiores e que a tolerância ao discurso vazio é cada vez menor.

Sucedem-se as manifestações por todo o país, umas maiores, outras menores, umas com mais sucesso, outras com menos. Não se podem tirar demasiadas conclusõ

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