02/07/2025
🩺 Eu sou o enfermeiro
Eu sou o Michael Mayamba,
o enfermeiro que carrega histórias que não são suas, mas que pesam no peito como se fossem.
Já vi olhos se apagarem diante dos meus, vi mãos se soltarem, corações pararem, e ouvi o silêncio frio que vem depois do último suspiro.
Já abracei mães que choravam por não levar o filho nos braços,
e outras que sorriram entre lágrimas ao ouvir o primeiro choro de vida.
Vi famílias se desmancharem em orações, sabendo que não haveria mais volta.
Vi homens fortes desabarem,
e vi fé nascer no desespero.
Sou o Michael Mayamba, o enfermeiro que escutou um obrigado mais verdadeiro que qualquer medalha, de alguém que voltou da beira do abismo.
Sou aquele que ouviu um grito de alívio:
“Graças a Deus não fui eu a ir para a morgue”,
e vi nos olhos de quem ficou
a culpa escondida atrás do alívio.
Eu sou Michael Mayamba,
e vejo a dor vestir todos os rostos.
No hospital, não há cor que proteja, não há riqueza que compre mais tempo.
Aqui, a vida e a morte se olham nos olhos e ninguém está acima disso.
Vi maridos aflitos esperando pela esposa no bloco, rezando até mesmo sem crer.
Vi o amor em sua forma mais crua,
e a dor em sua forma mais sincera.
Eu sou Michael Mayamba,
o enfermeiro que testemunha a igualdade verdadeira a da vulnerabilidade humana.
Seja rico, pobre, hétero, gay, branco, negro, crente ou ateu
aqui, ou você sai curado, ou não sai.
E mesmo com tudo isso,
eu volto todos os dias.
Com o coração marcado,
mas com a alma pronta
para mais uma batalha silenciosa
no campo da vida.
Autor: Michael Mayamba