
31/07/2025
E DEPOIS DA MANIFESTAÇÃO?
- Sou órfão de pai e mãe. Eu e os meus irmãos mais novos dependemos exclusivamente do meu irmão mais velho que, além de pôr comida em casa, paga os nossos estudos e o dos meus sobrinhos, filhos da nossa irmã. Ontem, o mano voltou triste a casa. O cyber que construiu com tanto sacrifício foi destruído por manifestantes. Só conseguia exclamar “ O que fiz, Deus!?”, enquanto lacrimejava. Aquelas lágrimas diziam o que a sua voz não conseguia emitir. Como onde ia tirar dinheiro para devolver os nossos risos, mesmo que escassos;
- No momento de euforia, não quis que nenhum transporte circulasse. De raiva, arremessava pedras em todos que passavam. Uma, infelizmente, acertou no olho de uma idosa. Desnorteada e com medo, aos prantos, a idosa ficou impotente no chão. Quando a serenidade permitiu-me ver o que a raiva impedia, percebi que a idosa era a minha avó, que todos os dias ia ao hospital para levar comida ao meu pai que se encontra internado;
- A minha mãe trabalha a uma hora e meia de casa. Por isso, todos os dias, sai à madrugada (4H), para chegar a tempo de não levar uma falta. Hoje, enquanto tentava atravessar a estrada, foi atropelada. Não por imprudência por parte do automobilista, mas por falta de iluminação na via, provocada pela vandalização dos postes. Agora, ela está no hospital.
- Regressei da escola e encontrei a minha prima em casa. Questionei-lhe por que não saiu. E respondeu-me que tiveram de mandar para casa algumas pessoas no supermercado onde trabalha. Já não perguntei o porquê. Naquele momento, lembrei-me que ajudei a saquear o único supermercado do meu bairro. Agora, o que será do meu sobrinho, vítima da fuga à paternidade, que dependia exclusivamente dela?
E se para lutares pelos teus direitos tu tenhas de desrespeitar os meus, a tua luta faz sentido? E se para lutares contra a opressão tu tenhas de me oprimir, a tua luta faz sentido? E se para melhorares tu tenhas de me destruir sabendo que buscamos pelo