24/07/2025
Depois de ouvir a entrevista do Senhor Presidente João Lourenço à CNN Portugal, não posso esconder a minha indignação com a sua afirmação sobre a intenção de indicar o seu substituto, quer no MPLA, quer na liderança do país. Em que Constituição ele se apoia para isso? Em que estatutos do MPLA essa figura do "herdeiro político" está prevista? Vai suspender a Constituição para nomear o seu sucessor por decreto? Comparar-se a Agostinho Neto e ao contexto da transição para José Eduardo dos Santos é uma afronta à inteligência dos angolanos. Em 1979, vivíamos num regime de partido único, em plena guerra fria e sem eleições. Hoje, vivemos — ou deveríamos viver — num Estado Democrático onde a sucessão de poder deve ser determinada pelo voto popular e pelos processos internos democráticos dos partidos. O tempo dos “ungidos” já devia ter terminado. Essa obsessão em escolher o sucessor cheira a medo. Medo de perder o controlo, medo de prestar contas, medo do escrutínio. E mais: será que essa persistência em impor políticas impopulares que se vive hoje, tem como objetivo criar uma crise fabricada, um álibi perfeito para decretar um estado de excepção e impor um sucessor ao país tal como alguns analistas avançam? Se o Presidente acha que pode brincar com a Constituição, está a subestimar gravemente o povo angolano.
By Artur Cussendala