18/06/2025
Agradeço ao primeiro-ministro Carney o convite para participar desta sessão ampliada. Cinco dos atuais sete líderes do G7 chegaram ao poder desde a Cúpula de Apúlia. Essa renovação denota a força da democracia, mas impõe desafios quando é preciso dar respostas rápidas e coordenadas. A mudança do clima não espera, nem pode ser combatida sem esforço coletivo.
O G7 nasceu em reação às crises do petróleo. Os choques dos anos setenta mostraram que a dependência de combustíveis fósseis condena o planeta a um futuro incerto. Mas o mundo resiste em aceitar que a diversificação é chave para a segurança energética.
O Brasil foi o primeiro país a investir em larga escala em alternativas renováveis. 90% de nossa matriz elétrica provém de fontes limpas. Somos hoje o segundo maior produtor mundial de biocombustíveis. Fomos pioneiros no desenvolvimento de motores flexíveis. Nossa gasolina tem 30% de etanol em sua composição e nosso diesel conta com 15% de biodiesel. Veículos híbridos, que combinam combustão e eletricidade, já são uma realidade na nossa indústria automobilística.
Estamos na vanguarda na produção do hidrogênio verde e do combustível sustentável de aviação. A expansão de parques eólicos e solares e a descarbonização do setor de transportes e da agricultura dependem de minerais estratégicos. É impossível discutir a transição energética sem falar deles e sem incluir o Brasil. Contamos com a maior reserva mundial de nióbio, a segunda de níquel, grafita e terras raras e a terceira de manganês e bauxita. Mas não repetiremos os erros do passado.
Durante séculos, a exploração mineral gerou riqueza para poucos e deixou rastros de destruição e miséria para muitos. Ela não deve ameaçar biomas como a Amazônia e os fundos marinhos. Essa foi a mensagem que levamos à Cúpula dos Oceanos em Nice na semana passada.
O Brasil não vai se tornar palco de corridas predatórias e práticas excludentes. Países em desenvolvimento precisam participar de todas as etapas das cadeias globais de minerais estratégicos, incluindo seu beneficiamento. Essa foi nossa posição no G20 e tem sido nossa tônica no BRICS. Parcerias devem se basear em benefícios mútuos, não em disputas geopolíticas.
Se a rivalidade prevalecer sobre a cooperação, não existirá segurança energética. Tampouco haverá segurança energética em um mundo conflagrado. Ano após ano, guerras e conflitos se acumulam. Gastos militares consomem anualmente o equivalente ao PIB da Itália. São 2,7 trilhões de dólares que poderiam ser investidos no combate à fome e na transição justa.
📷 Ricardo Stuckert