
06/09/2025
O DIA DO PARTO
Hoje, 6 de setembro de 2025, a minha filha Katleya completa um ano de vida. Um ano desde a madrugada em que vivi a experiência mais intensa, mais dolorosa, mais assustadora e, ao mesmo tempo, mais bonita da minha vida.
Para muita gente, o nascimento de um filho é só aquele momento em que chega a notícia: “Nasceu, correu tudo bem”. Mas para mim não foi assim. Eu não recebi a notícia, eu vivi a notícia. Eu não só assisti, eu participei. Eu fui testemunha, ajudante e até parteiro naquele momento.
E é por isso que hoje, no aniversário da minha filha, quero contar com detalhe como foi aquela noite e aquela madrugada em que ela chegou ao mundo, nunca partilhei minha vida privada nesta página, mas hoje é um dia especial e quero partilhar essa história.
Era noite de 5 de setembro de 2024. O relógio marcava 22 horas, vocinada em série, ela sempre estava na sala, mas naquela noite decidiu sair muito cedo para o quarto.
— “Já vou ao quarto, não estou a me sentir bem”. Disse ela. Praticamente todos os dias ela reclamava de algo, já era hábito para mim ouvir não estou bem, achei que fosse mais um dia como outros. Deixei ela ir no quarto e eu fiquei na sala a ver TV bem distraído.
Passando alguns minutos fui na casa de banho, abrindo a porta do quarto, encontro minha esposa deitada na cama, a rebolar de dores.
— “Oi, pensei que já estava a dormir”, disse eu.
— “Estou a sentir muitas dores”, respondeu com a respiração pesada.
Olhei para ela com preocupação e perguntei logo:
— “Não seria melhor irmos ao hospital?”
— “Não, ainda não chegou a hora, são dores normais”, respondeu ela, com aquela calma de quem sabe o que está a falar.
Sendo ela parteira, trabalha nessa área. Então, pensei: “Se ela diz que é normal, é porque entende. Eu não posso questionar”. Mas mesmo assim, meu coração não sossegava. Daí desliguei a Tv e voltei ao quarto, tentando lhe mimar. Se acalmou e caímos no sono.
1hora de madrugada , acordo com os gemidos dela entre os gritos e lamentações, acendo a luz e olho para ela e pergunto outra vez:
— “Amor, não seria melhor irmos ao hospital?”
— “Agora não, ainda é cedo. Não são dores de parto”, respondeu firme.
Eu não tinha argumentos. Ela falava com conhecimento, e eu respeitava. Mas por dentro, só Deus sabia como eu estava. Ela não conseguia dormir, era só gemidos.
Às 2 horas, a situação ficou mais difícil. Ela não conseguia mais dormir. Os gritos eram fortes:
— “Mamaweee, uiuiuiii, amor, estou a sentir muitas dores. Amor, já não aguento. Deus, por favor, reduz estas dores!”
Eu fiquei ali, sem chão. Ver a pessoa que tu amas sofrer daquela forma é dor que não se explica. E o pior é não saber o que fazer. A única coisa que conseguia dizer era:
— “Vamos ao hospital, Lu”.
Mas ela insistia:
— “Ainda não é hora, não são dores de parto”.
Eu tentava confiar nela, afinal ela sabia. Mas dentro de mim, a preocupação crescia. Era como se a cada grito dela, uma parte do meu coração se partisse.
Dentro de mim já havia aquele aperto. Desde que ela engravidou, eu vivia com receio. Sempre me vinha à mente aquelas histórias de mulheres que não resistem no parto. Ela mesma, semanas antes, tinha partilhado comigo uma história triste de uma colega que perdeu a vida depois de dar à luz. Essas coisas não saíam da minha cabeça.
Por volta das 4 horas da madrugada, já parecia despedida:
— “Amor, eu não estou a aguentar, não estou a suportar. Mamaweee, uiuiuiii…”
Eu sentado na cama, sem saber o que fazer. Nem coragem de ligar para família eu tinha, porque sabia que iam f**ar ainda mais preocupados. Então, saí para sala, e numa voz baixa e quebrada, fiz uma oração simples:
“Deus, me ajude Senhor. Desça e me ajude”.
E foi aí que ouvi o grito mais forte dela naquela noite:
— “Azarias, vamos no hospital, me leva já, estou mal!”
Corri, peguei o telefone. Liguei para um taxista conhecido, mas ele desligou. Liguei para o segundo, disse que não anda às 4h da manhã. Eu já desesperado, abri o portão, olhei para o céu e falei de novo:
“Senhor, nunca me abandonaste. Entra nesta casa e me ajuda agora”.
Foi nesse momento que ouvi ela gritar do quarto:
— “Azariaaaas, a criança está a sair!”
Corri. Quando cheguei, encontrei minha esposa deitada no chão, já com parte do corpo do bebê de fora.
Meu coração acelerou. Não sabia o que fazer, mas na minha mente só dizia:
“Senhor, f**a aqui comigo agora. Me ajude, Deus”.
E eu senti Deus do meu lado.
Com minhas próprias mãos, puxei o bebê. Quando ouvi aquele primeiro choro, dentro das minhas mãos, meu mundo parou. Era vida. Era milagre. Era resposta da minha oração, mais eu tinha medo, era tão pequenina, fina criança a chorar, sangue por todo lado.
Peguei uma faca da cozinha, kkkk aquela mesma da cozinha, cortei o cordão. Enrolei a bebê numa toalha, coloquei ela na cama, cobri bem. Chorava alto, mas para mim aquele choro era a música mais bonita do mundo. Por que me lembrei que quando a criança chora no parto, está bem.😄
Depois ajudei a mãe. Segurei as pernas dela, coloquei umas luvas (aprendi no filme Doutor Milagre kkkkk), puxei a placenta, fiz uma limpeza. Foi muito sangue, mas Deus me deu coragem.
Minha esposa ainda conseguiu me instruir:
— “Amarra o umbigo da criança com uma corda, é para proteger do ar”.
Fiz tudo aquilo a tremer, mas consegui.
Exausta, ela perguntou:
— “Qual é o sexo?”
— “É menina”, respondi.
E ela sorriu. Mesmo cansada, mesmo cheia de dor, conseguiu sorrir e dizer:
— “Amor, nossa bebê. Nossa filha”.
Eu tinha motivos para sorrir, mas única coisa que me faltava era saber o estado dela, se ela estava bem.
Já eram quase 6 horas da manhã quando finalmente conseguimos um táxi e fomos ao hospital.
Lá, os médicos examinaram mãe e filha e disseram:
— “Quem a atendeu fez muito bem, entende de parto”.
Ela respondeu:
— “Foi o meu marido”.
A enfermeira ficou surpresa:
— “Ele é médico?”
— “Não”, disse ela.
Naquele instante, eu só me afastei um pouco, olhei para o chão e agradeci em silêncio:
“Obrigado, meu Deus, porque nunca me abandonaste, obrigado senhor “
Deixei elas no hospital, voltei a casa
Tudo silêncio, sentei cá cama, quarto todo sujo, muito tempo em pé, olhando para cada canto, revendo o passei naquela noite. Eu comecei a sorrir pela primeira vez, comecei a sentir aquela alegria, nem banho tinha feito. Era sorriso aí e sorriso lá. Liguei o aparelho, coloquei aquele volume forte da música da Ruthe Alfredo- O senhor é meu pastor. Era Algeria
Por isso hoje eu não celebro apenas aniversário da minha menina. Hoje eu celebro muitas coisas e uma delas é “ O dia que o senhor desceu e eu senti de verdade que ele esteve comigo”
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Família, eu senti a dor de parto.
Eu não digo isso para roubar lugar da mulher, porque dor de parto é dor de mulher. Mas eu senti junto. Senti desde os primeiros gemidos até o último grito. Senti o medo de perder, senti a impotência de não poder fazer nada, senti a coragem que não era minha, mas que Deus colocou em mim naquele momento.
Algumas pessoas dizem que sou exagerado na forma como brinco , que é só emoção por ser a criança da primeira viagem, mas a verdade é totalmente contrária, não se trata de ser primeira vez, existe uma conexão muito forte, por isso brinco tanto com a Katleya e sou tão apegado a ela.É amor verdadeiro, nascido da experiência.
Eu não só vi minha filha nascer. Eu a tirei com minhas próprias mãos. Eu fui o primeiro a tocá-la, a embalá-la, a ouvir o choro dela. E é por isso que digo: Katleya é minha filha, mas também é meu milagre.
Hoje, ao vê-la já a falar, a chamar “papá” antes de “mamã” (kkkk), eu só consigo sorrir e dizer: “Valeu a pena cada lágrima, cada medo, cada oração daquela madrugada”.
Feliz aniversário, minha filha menina, esperta, inteligente . Minha princesa, meu amor em pessoa, meu coração fora do peito.