Eusébio Djú

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Ante as incertezas inerentes à condição humana no tocante à autenticidade literária, empenho-me em constituir-me como uma ponte epistemológica, facilitadora de elucidações acerca das intrincadas questões que atravessam e configuram o universo hodierno.

14/06/2025

EM NOME DA VERDADE E DA JUSTIÇA
[um clamor pela memória de Isidoro António Ampessa]

Escrever estas palavras não é tarefa fácil. Carrego, enquanto o faço, o peso da indignação, da tristeza e da perplexidade. Entretanto, há circunstâncias na vida em que o silêncio se converte em cumplicidade, e a omissão se transforma em violência indireta. Por isso, é necessário falar, e falar com responsabilidade, rigor e dignidade.
No dia 10 de junho de 2025, minha família foi violentamente atravessada pela dor. Recebemos, atónitos, a notícia do falecimento do irmão mais velho da minha companheira, nascido em 1984. Sua morte não foi consequência de um processo natural, mas sim de um evento abrupto, envolto em circunstâncias profundamente nebulosas, versões desencontradas e lacunas inaceitáveis. Isidoro não era um número, não era mais um rosto invisível na multidão. Era um homem digno, trabalhador, responsável, um verdadeiro alicerce familiar. Assumiu, com honra e retidão, responsabilidades que a vida lhe impôs, tornando-se referência de cuidado, proteção e amor aos seus familiares. Contudo, hoje, resta-nos o vazio, a dor e, acima de tudo, perguntas que clamam por respostas. Existem, até o momento, versões que circulam de forma informal, não oficiais, nem confirmadas por instâncias competentes, que tentam explicar as circunstâncias do ocorrido. São relatos frágeis, permeados por inconsistências e omissões que, por si só, impõem a necessidade de uma investigação técnica isenta, independente e profundamente comprometida com a verdade material dos fatos. Em qualquer Estado que se pretende democrático e de direito, a vida humana deve ser um valor inviolável. Não é aceitável que um cidadão perca a vida em condições obscuras, sem que se mobilizem, de forma célere e eficaz, os mecanismos públicos encarregados de assegurar a verdade, a justiça e a proteção da dignidade humana. Diante disso, e com pleno respeito às normas, instituições e ao devido processo legal, enquanto membro da família e cidadão, manifesto publicamente a necessidade urgente das seguintes diligências:
- A realização de uma perícia técnica minuciosa sobre o equipamento envolvido no suposto acidente.
- A identificação, qualificação e oitiva de todas as pessoas presentes no local no momento do fato.
- A análise rigorosa dos laudos médicos, do atendimento hospitalar e do percurso que levou ao desfecho fatal.
- A atuação célere e imparcial dos órgãos competentes, assegurando que nenhum fator externo interfira na busca pela verdade.

Este apelo não é movido por espírito de revanche, nem por sentimento de animosidade. É movido, isso sim, pela convicção ética de que a justiça não é privilégio, não é concessão, não é mercadoria. É direito fundamental de todos, sem exceção.
O que está em causa transcende a dor de uma família. Está em causa o próprio pacto social que nos rege enquanto nação. Uma sociedade que naturaliza a impunidade, que aceita que a vida se perca sem esclarecimento, sem responsabilidade e sem consequências, compromete seu próprio futuro e sua legitimidade moral.
Por isso, convoco, de forma respeitosa mas firme, todas as consciências livres, todos os cidadãos que compreendem o valor da vida e da justiça, a se somarem a este chamado. Não se trata de um problema privado. Trata-se de uma questão pública, de interesse coletivo, de afirmação dos princípios que devem nortear qualquer sociedade civilizada. A memória de Isidoro António Ampessa exige mais do que nosso luto. Exige compromisso. Exige verdade. E a verdade, quando negada, converte-se em uma segunda forma de morte, a morte da justiça, a morte da confiança, a morte da esperança coletiva. Que este apelo se transforme em mobilização cívica, não contra pessoas, mas em favor de princípios. Não contra nomes, mas em favor da dignidade humana. Que este clamor repercuta até que a verdade prevaleça e que a justiça, que é de todos e para todos, se cumpra com integridade, coragem e decência. Porque não há paz possível sem justiça. E não há justiça sem verdade.

Bissau, 14 de junho de 2025.

NADA SE ESQUECE: REMEMORA-SE PARA INSPIRAR AQUELES QUE DESEJAM TRILHAR ESTE CAMINHOHá momentos em que a resposta a uma a...
20/05/2025

NADA SE ESQUECE: REMEMORA-SE PARA INSPIRAR AQUELES QUE DESEJAM TRILHAR ESTE CAMINHO

Há momentos em que a resposta a uma afirmação profundamente carregada de sentimento exige mais do que prontidão, exige escuta e maturidade. Recordo uma ocasião, durante o aniversário de um amigo pesquisador, em que ele, frustrado com a dificuldade de encontrar um livro essencial à sua pesquisa, afirmou: “Estudar não é para os pobres. Os livros são adquiridos com dinheiro, e as pesquisas exigem investimentos em obras que não estão disponíveis na internet.”
Naquele instante, optei por não confrontar tal afirmação. Não por concordar com ela, mas por compreender que há um tempo certo para cada resposta. Hoje, passados os dias, considero oportuno retomar essa questão, não como refutação apressada, mas como reflexão.
É inegável a preocupação que recai sobre aqueles que almejam estudar, mas não dispõem das mínimas condições financeiras para isso. A esses, ofereço não apenas solidariedade, mas orientação fraterna. Compreendo a dor de quem lamenta não ter um tio, primo, irmão ou benfeitor que custeie seus estudos. No entanto, é preciso ressaltar que muitos não esperam ajuda sentados em uma praça, mas se colocam diante daqueles que detêm poder econômico, buscando uma oportunidade. E entre os detentores de grandes fortunas, há, sim, aqueles dispostos a ajudar na realização de sonhos alheios.
É compreensível preocupar-se com o futuro e com a escassez de recursos, mas é improdutivo fixar o olhar naquilo que outros possuem e você ainda não tem. Importa compreender que os filhos dos bilionários, via de regra, não são os mais entusiasmados com os estudos. Muitas vezes, falta-lhes o principal motor do conhecimento: a necessidade. Se é por emprego, o pai já possui empresas; se é por bens, eles já estão garantidos. Para muitos, o estudo torna-se apenas um requisito mínimo para administrar o legado familiar.
Por outro lado, os pobres possuem razões de sobra para estudar. Diante da escassez de alimentos, da moradia precária e da ausência do mínimo necessário para uma vida digna, o estudo é percebido como caminho possível de transformação pessoal e familiar. A experiência concreta da necessidade torna-se um potente estímulo intelectual. As referências de estudo encontram-se, muitas vezes, no próprio ambiente doméstico e comunitário. E, uma vez comprometidos com a trajetória do pensamento, esses sujeitos jamais esquecem que há, ainda, profundas desigualdades sociais a serem combatidas.
Se sua condição de vulnerabilidade foi imposta por estruturas político-administrativas injustas, não se desespere. Tenha em mente que é justamente aquele que veio do nada, sem privilégio algum, que costuma buscar com mais intensidade tornar-se alguém. Não espere passivamente por um parente ou conhecido que possa financiar seus estudos. Bata em todas as portas possíveis. Talvez aquele parente não tenha sequer condições objetivas de ajudar. Mas a luta por acesso ao saber é legítima e necessária.
Portanto, lembre-se: diante das dificuldades reais, há também milagres que somente a força espiritual dos seus ancestrais pode operar. Persistir, estudar e resistir são, ao mesmo tempo, gestos de esperança e de reinvenção do próprio destino.

O futuro da Guiné-Bissau e o chamado por uma nova liderançaO que a Guiné-Bissau espera de mim? Um exercício presidencial...
01/02/2025

O futuro da Guiné-Bissau e o chamado por uma nova liderança

O que a Guiné-Bissau espera de mim? Um exercício presidencial possível, comprometido, responsável e determinado a enfrentar os desafios históricos que ainda perpetuam a fome e a miséria. Quando o momento certo chegar, anunciarei uma ação conjunta estratégica em prol do país, voltada para mudanças concretas e transformadoras.
Delegamos por tempo demais o destino de nossa nação a líderes que temem o trabalho duro necessário para superar os problemas que afligem o povo. Enquanto isso, muitos clamam por migalhas, um mero dez mil francos para comprar alguns quilos de arroz e saciar a fome momentânea, como se a vida fosse apenas o presente, sem qualquer compromisso com o futuro.
Essa visão imediatista e limitada não nos levará a lugar algum. Precisamos de um pensamento renovador, de uma nova geração de líderes capazes de apresentar soluções práticas e ousadas. Guiné-Bissau tem imenso potencial de riqueza e prosperidade, e esse potencial precisa ser conduzido por uma liderança que inspire esperança, ação e progresso.

Estou plenamente ciente dos desafios que enfrentarei. O primeiro passo será a criação de condições favoráveis para a paz e a tranquilidade social. Assim que minha eleição se concretizar, todos os atores e líderes políticos serão convocados a uma mesa de diálogo séria, na qual apresentarei minha visão para uma ação presidencial responsável.
As dinâmicas partidárias, indispensáveis para o fortalecimento da democracia, devem obrigatoriamente se dedicar ao trabalho árduo junto às suas bases, ouvindo as preocupações da população e resolvendo seus problemas. Essa será uma exigência clara da minha presidência.
Meu compromisso não se restringe ao discurso: a ação presidencial falará por si mesma. Nos primeiros três meses de gestão, implementaremos uma plataforma digital integrada e unificada, em que todos os trabalhos e suas respectivas áreas estarão centralizados em um único portal. A era dos sites provisórios e dispersos chegará ao fim.
Em seguida, promoveremos uma gestão transparente dos recursos públicos, combatendo o desperdício e investindo cada Franco CFA com responsabilidade. Será lançada uma ampla campanha de conscientização política para que a população compreenda o verdadeiro papel do presidente da República na promoção da paz, harmonia social e desenvolvimento sustentável do país.


O sabor da prosperidade virá, mas dependerá de nós!

Bissau, 01 de fevereiro de 2025.
Eusébio Djú

O DIA DA MULHER GUINEENSE: 30 DE JANEIROA luta pela libertação da Guiné-Bissau, iniciada a 23 de janeiro de 1963 e consu...
30/01/2025

O DIA DA MULHER GUINEENSE: 30 DE JANEIRO

A luta pela libertação da Guiné-Bissau, iniciada a 23 de janeiro de 1963 e consumada a 24 de setembro de 1973, foi empreendida por homens e mulheres, cujos esforços convergiram para a consecução de um ideal comum. Hoje, consagramos o dia 30 de janeiro às mulheres, em reconhecimento ao seu contributo indelével para a descolonização do território guineense. A elas, pelo papel que continuam a desempenhar no tecido social e político da nação, é conferido o estatuto de heroínas. Entre estas, destaca-se a figura emblemática de Ernestina Titina Silá, cuja atuação foi decisiva para a libertação nacional. A sua memória é evocada não apenas nesta data, mas perpetuamente, pois foi precisamente a 30 de janeiro de 1973 que tombou, vitimada pelas forças colonialistas portuguesas. Durante o árduo combate ao regime salazarista, a Guiné-Bissau perdeu inúmeras figuras proeminentes da resistência (Domingos Ramos e Amílcar Lopes Cabral). Contudo, a tenacidade dos guerreiros e guerreiras guineenses logrou subverter o jugo colonial, inaugurando uma nova era de autonomia.
Decorridas algumas décadas, persistem interrogações que demandam reflexão profunda. A governabilidade do país é frequentemente posta em questão, e as mulheres, outrora combatentes, merecem ser honradas e homenageadas de forma condigna. Todavia, parece imperar uma certa indiferença em relação à memória histórica, ao "passado" que, como nos ensinaram Platão e Aristóteles, através da interpretação de Paul Ricoeur, deve servir de alicerce para a construção do futuro. Ignorar o passado ao projetar o presente e o futuro é um equívoco que pode comprometer o êxito da gestão pública. Governar é uma arte complexa, que exige a consideração de problemas pretéritos, a resolução de desafios presentes e a antecipação de vicissitudes futuras. Desde os primórdios da independência, questões como a fome, a precariedade dos serviços de saúde e educação, e a insuficiência de infraestruturas têm persistido. A estes, somam-se novos desafios, como a necessidade de inovação tecnológica, a criação de centros de investigação para o estudo de doenças endêmicas, e o investimento em pesquisa científica. A carência de infraestruturas adequadas para o funcionamento do aparelho estatal é igualmente evidente, com tribunais regionais e setoriais desprovidos de recursos tecnológicos que permitam a identificação de reincidências criminais, facilitando a impunidade e o aumento da criminalidade.
No plano nacional, observa-se um sentimento generalizado de insatisfação em relação ao desempenho dos diversos atores sociais nos domínios da economia, logística, educação, saúde, agricultura, cuidado familiar, preservação ambiental e denúncia de injustiças sociais. A maioria das mulheres guineenses, ainda que incansáveis no combate à fome e à miséria, vê-se limitada pela ineficácia dos governos, passados e presentes, em atender às suas demandas. Muitas continuam a laborar como empregadas domésticas, realidade que encerra uma profunda contradição face ao seu papel histórico. É doloroso constatar e registrar esta situação, mas omiti-la seria negar às futuras gerações o conhecimento da luta que se iniciou contra a injustiça social, a irresponsabilidade governativa, a hipocrisia política e pela reconstrução de uma Guiné-Bissau sustentável. Esta reconstrução deve assentar na promoção da equidade de gênero, justiça social, preservação ambiental, crescimento econômico e numa gestão responsável e séria do patrimônio comum e do Estado.
Neste dia dedicado às mulheres, rendo-lhes homenagem pelo seu papel ímpar no combate à opressão e à violência, bem como pelos seus esforços contínuos para erradicar a fome e a miséria. Que celebrem esta data conscientes de que não estão sozinhas nesta luta, pois todos estamos unidos por uma Guiné-Bissau mais justa, pacífica e equitativa.

Viva as mulheres da Guiné-Bissau! Viva a liberdade, a justiça e a esperança!

Rio de Janeiro, 30 de janeiro de 2025
Eusébio Djú

A TRANSITORIEDADE DAS ERAS HUMANASCerto dia, enquanto nos dirigíamos ao Arrozal, fomos surpreendidos por uma intempérie ...
29/01/2025

A TRANSITORIEDADE DAS ERAS HUMANAS

Certo dia, enquanto nos dirigíamos ao Arrozal, fomos surpreendidos por uma intempérie vigorosa. Uma chuva torrencial desabou sobre nós, acompanhada de um vento impetuoso que fazia tremer o solo. Em meio a esse cenário agreste, a neve principiou sua queda sobre a vargem, passagem que nos permitia atravessar rumo ao nosso destino. Diante da inclemência da natureza, detivemo-nos, quedando imóveis e vigilantes, aguardando a dissipação da tormenta.
Meu pai, num tom sereno, mas de inexorável sabedoria, confidenciou-me uma reflexão atemporal: "Um dia, tu relatarás esta história a meus netos, e talvez eles não te concedam crédito. Contudo, qualquer sacrifício compartilha o mesmo destino que as eras humanas. Qualquer um de nós pode deter o poder, impor sua vontade e exercer domínio sobre os outros. No entanto, a efemeridade das eras condena tal poder à finitude inevitável. Assim como não há sacrifício eterno, nada subsiste perpetuamente. O tempo é o artífice da dissolução de todas as coisas. Portanto, suprimamos a dor deste momento."
Carregávamos, sobre nossas cabeças, a carga necessária para a labuta diária. Entre eles, os troncos de mangais que meu pai colhia para confeccionar os piladores destinados ao esmagamento do arroz. Todavia, os anos transcorreram, e a evolução tecnológica relegou ao passado esse rito de trabalho manual. Máquinas passaram a desempenhar a função outrora reservada ao esforço humano. Assim, o sacrifício sucumbiu juntamente com sua era.
Toda reflexão genuína deve partir de um evento concreto para então transpor-se à sua significação na contemporaneidade. Hoje, os guineenses padecem sob o jugo de uma governança desprovida de compromisso com a nação. O sofrimento de um povo não é um desígnio inescapável, mas uma consequência de escolhas políticas erráticas. Um pequeno grupo apoderou-se do destino da Guiné-Bissau, sequestrando sua soberania e perpetuando a ilusão de que sua hegemonia é perene. Comportam-se como aqueles que leem as escrituras sagradas de maneira literalista, acreditando cegamente na irrupção milagrosa da salvação.
Entretanto, não há redenção espontânea para a miséria e a fome. A emancipação de um povo demanda ação concreta, exige que mãos e mentes se unam em prol da edificação de um futuro digno. A responsabilidade pela degradação do país não é difusa, mas circunscrita àqueles que, deliberadamente, conduzem o Estado ao caos. O que se observa é uma elite dirigente medíocre, incapaz de reconhecer sua própria ruína moral. Quando o erro se torna sistêmico, os perpetradores deixam de percebê-lo como tal. Para eles, a dissolução dos pilares democráticos não constitui um desvio, mas sim um expediente legítimo.
Não consideram um atentado à ordem institucional a destituição arbitrária da Assembleia Nacional Popular. Tampouco veem incoerência na ascensão ilegítima da segunda vice-presidente à presidência do órgão legislativo. E, na mesma linha de raciocínio falacioso, legitimam a substituição do presidente do Supremo Tribunal de Justiça por seu vice. Essa engrenagem de artimanhas e manipulações, conduzida por verdadeiros malabaristas do poder, é travestida de governabilidade responsável.
A percepção internacional sobre tais desmandos é clara. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, proclamou categoricamente que sua nação jamais servirá como arena de legitimação para governos que condenam seus povos à fome e à indigência. Foram palavras incisivas, difíceis de serem digeridas por aqueles que esperavam a condescendência diplomática. Mas, por mais ásperas que soem, não deixam de ser verdadeiras.
Embora eu não possa oferecer garantias concretas sobre o porvir, nutro a convicção de que a juventude guineense, ao mobilizar-se com vigor e determinação, será o vetor da mudança inadiável. A era dos homens medíocres está com seus dias contados. O sacrifício imposto ao nosso povo será extinto, e nossa pátria trilhará, enfim, a senda da prosperidade. O labor coletivo será o alicerce dessa reconstrução histórica.

Rio de Janeiro, 29 de janeiro de 2025.
Eusébio Djú

IRRESPONSABILIDADE E REFLEXÃO NACIONALISTA Entre os líderes africanos que demonstram inclinação a viagens protocolares, ...
22/01/2025

IRRESPONSABILIDADE E REFLEXÃO NACIONALISTA

Entre os líderes africanos que demonstram inclinação a viagens protocolares, observou-se certa lamentação quanto à ausência de convites para a cerimônia de investidura do presidente americano Donald Trump como o 47º presidente dos Estados Unidos da América. Todavia, pergunta-se: com que fundamento esperar-se-ia o convite a um presidente africano que não evidencia postura resoluta na adoção de políticas estruturais voltadas ao combate à pobreza, à fome e à miséria do seu próprio povo? É lícito lamentar, e talvez até compreender o desconforto, mas a realidade crua apresenta-se de forma irrefutável, desprovida de subterfúgios ou especulações baseadas nos discursos de outrora.
Mesmo diante de críticas ao suposto desinteresse de Trump em fomentar uma cooperação com as nações do Sul Global, é inegável que seu foco primário recai sobre os Estados Unidos. Enquanto nos países africanos observamos uma frequente omissão no suporte aos empresários locais, Trump, em contraste, conclamou os empreendedores americanos a uma mobilização inovadora para a criação de novos postos de trabalho no território estadunidense. Portanto, surge a questão: por que razão os líderes africanos não adotam políticas semelhantes, promovendo oportunidades para seus próprios cidadãos e incentivando o fortalecimento das economias locais? Seria mais sensato priorizar o desenvolvimento interno, fomentar o empreendedorismo nacional e assegurar o progresso das comunidades antes de buscar reconhecimento em eventos de caráter simbólico no cenário internacional.
A ânsia por convites e cerimônias de prestígio no plano global reflete, talvez, uma visão distorcida de valores. Em vez de almejarmos presença em solenidades de governantes estrangeiros, não seria mais digno concentrar esforços na consolidação das instituições democráticas, na criação de empregos, na promoção da justiça social e na mitigação da violência que assola muitas de nossas sociedades? Afinal, o mérito de um convite ou reconhecimento internacional não deveria ser medido pela posição protocolar, mas pela relevância e contribuição efetiva daquele líder para a resolução de desafios principais à humanidade.
No caso específico da Guiné-Bissau, enfrentamos um contexto de fragilidade institucional exacerbada. Um presidente que desconsidera as diretrizes constitucionais, desmantela as estruturas governamentais e aguarda milagres para a superação das adversidades está distante de alcançar qualquer progresso significativo. O desenvolvimento de um país requer estabilidade política, paz e um ambiente propício à atração de investimentos. Sem a presença de empresas operantes em território nacional e sem a pacificação das relações internas, o progresso é inviável. Porém, o cenário político guineense encontra-se fragmentado, caracterizado por intrigas entre líderes do mesmo partido e divisões internas que enfraquecem as possibilidades de consenso e governabilidade. MADEM-G15, por exemplo, subdividiu-se em duas facções lideradas, respectivamente, por Braima Camará e Adja Satú Camará. O mesmo ocorre no PRS (Partido da Renovação Social), em que Fernando Dias e Félix Nandungué representam alas em conflito. Como esperar que dirigentes envolvidos em divisões internas sejam contemplados com honrarias no cenário global?
Os líderes africanos deveriam aprofundar seu conhecimento e aperfeiçoar suas capacidades de governança para orientar seus povos rumo aos objetivos preconizados pela Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). É insensato lamentar a atitude de um presidente que demonstra genuíno compromisso com o fortalecimento de sua nação, de sua economia e ampliar o controle sobre suas iniciativas expansionistas. É uma pena que a ausência de líderes africanos na posse de Donald Trump seja motivo de decepção para alguns, mas, dada a irresponsabilidade de muitos desses governantes em relação aos seus povos, tal exclusão não causa surpresa.
O combate à pobreza, à fome e à miséria não é apenas uma obrigação ética e moral; é um legado que deve ser assumido com seriedade e determinação. Somente quando os líderes africanos demonstrarem compromisso com o bem-estar de seus povos e o desenvolvimento sustentável de suas nações é que poderão ser merecedores de reconhecimento global. Até lá, resta-nos refletir sobre a necessidade de uma transformação urgente e profunda na forma de conduzir os destinos do continente.

Niterói, RJ, 22 de janeiro de 2025.
Eusébio Djú

CONSIDERAÇÕES HERMENÊUTICAS SOBRE 1 CORÍNTIOS 13:11  "Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, disc...
21/01/2025

CONSIDERAÇÕES HERMENÊUTICAS SOBRE 1 CORÍNTIOS 13:11

"Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino." (1 Coríntios 13:11)

A presente reflexão se debruça sobre a exegese deste excerto paulino, indagando sua aplicabilidade na trajetória intelectual de dois públicos distintos: o jovem aspirante à erudição acadêmica e o estudante liceal que ambiciona adentrar os portões da universidade. Ao estabelecer um paralelo entre a jornada espiritual delineada por Paulo e o itinerário do desenvolvimento cognitivo, é possível extrair valiosas inferências sobre o processo de amadurecimento intelectual.
Para aquele que almeja se consagrar nos anais da academia, o apóstolo ressoa como um guia para a transmutação do pensamento incipiente em reflexão rigorosa. Nos primeiros estágios da vida intelectual, o discurso é ainda permeado por intuições rudimentares, crenças herdadas e um conhecimento fragmentário. O neófito expressa-se com a ingenuidade do aprendiz, sente com a subjetividade daquele que ainda não submeteu suas percepções ao crivo da racionalidade crítica e argumenta dentro dos limites de um repertório incipiente. Todavia, à medida que avança no escopo da erudição, torna-se obrigatório assimilar metodologias epistemológicas, confrontar ideias paradigmáticas e superar as ilusões de uma visão simplista da realidade. O amadurecimento no universo acadêmico não se dá meramente pelo decurso do tempo, mas pela escolha deliberada de transcender as limitações do intelecto embrionário e ascender a uma compreensão mais sofisticada e matizada.
Para o estudante liceal que vislumbra a entrada na universidade, o ensinamento paulino também reveste-se de significado axial. O estágio formativo no qual se encontra representa a pedra angular do edifício epistemológico que há de erigir no futuro. No presente momento, suas concepções ainda são prenhes da ingenuidade de quem apenas principia a incursão no mundo do saber sistemático. Contudo, a transição para o meio acadêmico demandará uma inflexão substancial em sua forma de apreender a realidade. Não bastará apenas absorver passivamente o conhecimento, será imperioso questioná-lo; não bastará repetir enunciados, será imprescindível fundamentar argumentos.
O correlato entre a progressão etária mencionada por Paulo e a evolução cognitiva é inegável: tal como o homem, ao alcançar a maturidade, se despe dos hábitos pueris, também o estudante, ao ingressar no universo do pensamento sofisticado, deve abandonar a complacência do aprendizado passivo e abraçar a autonomia intelectual. A travessia rumo ao saber autêntico é, antes de tudo, um compromisso deliberado, uma postura que requer diligência, humildade e, sobretudo, disposição para a metamorfose intelectual.
A grandeza de um pensador não se aferirá apenas pelo cabedal de conhecimentos que acumula, mas pela medida em que permite a si mesmo crescer. Afinal, o amadurecimento cognitivo não se configura como um ponto de chegada, mas como um percurso ininterrupto, no qual cada etapa vencida revela novas camadas de profundidade e complexidade.

Niterói, RJ, 21 de janeiro de 2025
Eusébio Djú

19/01/2025

POÉTICA E POLÍTICA

Não se pode dissociar o discurso político da poética, pois a crítica construtiva, aquela que visa ao engrandecimento coletivo, é, em essência, um exercício de criação e de transformação. Neste contexto, ao refletir sobre as dinâmicas políticas na Guiné-Bissau, minha aspiração maior deve ser contribuir para o fortalecimento e o desenvolvimento de um país mais justo, coeso e prometedor. É com esse propósito que direciono minha análise, elaborando considerações críticas, porém construtivas, acerca da atual conjuntura política marcada por tensões. Escuto, com elevada inquietação, os debates acerca do término do mandato presidencial de Úmaro Sissoco Embaló, que atualmente exerce a mais alta magistratura da Guiné-Bissau. Divergências de interpretações pairam sobre a questão: enquanto algumas vozes defendem que o mandato se encerra em 27 de fevereiro de 2025, outras sustentam que se estende até 4 de setembro do mesmo ano. Este dilema, longe de ser meramente técnico, revela fissuras institucionais que merecem uma análise acurada e desapaixonada. É incontroverso que a ascensão de Úmaro Sissoco Embaló ao poder, mediante a destituição do governo liderado pelo Dr. Aristides Gomes, ocorreu sob circunstâncias que desafiaram os preceitos democráticos e constitucionais. A utilização de força militar para consolidar sua posição não apenas colocou em xeque os alicerces do Estado de Direito, mas também suscitou questões sobre a legitimidade das ações subsequentes. Se, por um lado, o presidente reconhece oficialmente como início de seu mandato a decisão do Supremo Tribunal de Justiça, proferida em 4 de setembro de 2020, por outro, é incoerente ignorar os atos políticos que praticou desde a posse simbólica em 27 de fevereiro de 2020. Reconhecer esta última data como meramente simbólica significa, implicitamente, desconsiderar as implicações dos seus próprios atos enquanto chefe de Estado. Diante deste cenário, faz-se necessário um apelo à coerência, à responsabilidade e ao respeito pelas balizas constitucionais que regem a nação. Não devemos, sob hipótese alguma, oferecer suporte tácito ou explícito àqueles que deliberadamente infringem a Constituição da República. Fazer isso nos tornaria cúmplices de uma prática que enfraquece as instituições e compromete o futuro do país. Antes, devemos empenhar nossos esforços na construção de uma consciência crítica coletiva, capaz de alertar os líderes políticos sobre os graves equívocos que cometem e incentivá-los a reverter tais erros.
A Guiné-Bissau clama por uma liderança que reúna competência técnica, erudição, espírito democrático, responsabilidade e integridade. Apenas por meio de uma governança lúcida, comprometida com os anseios do povo e alicerçada nos princípios republicanos, será possível superar os desafios políticos e econômicos que assolam o país. Que este chamado repercuta como um convite ao diálogo, à reflexão e, sobretudo, à ação em prol de um futuro mais digno e promissor para todos os guineenses.

Rio de Janeiro, 19 de janeiro de 2025.
Eusébio Djú

CRISE E GOVERNANÇAHá algo que proclamo sem hesitação, sem nutrir ressentimentos contra ninguém nem alimentar o ímpeto de...
16/01/2025

CRISE E GOVERNANÇA

Há algo que proclamo sem hesitação, sem nutrir ressentimentos contra ninguém nem alimentar o ímpeto de imputar culpas individualizadas: refiro-me à crença enraizada em determinados segmentos da sociedade guineense de que o país trilha um caminho auspicioso rumo ao tão almejado desenvolvimento sustentável.
O primeiro aspecto que se impõe à reflexão concerne à fragilização das instituições soberanas da Guiné-Bissau. As prerrogativas do governo não se encontram submetidas ao devido escrutínio da Assembleia Nacional Popular, o que denota um esvaziamento de sua função fiscalizadora. Ademais, evidencia-se uma usurpação das competências inerentes ao presidente da referida instituição, configurando uma preocupante distorção no equilíbrio de poderes. É desalentador constatar a passividade de muitos diante da gravidade desse cenário político, bem como a ausência de discernimento quanto às implicações nefastas de determinadas condutas.
Não me detenho em repetir tais assertivas exaustivamente, pois já as expus de maneira reiterada em reflexões precedentes. O que se observa, em suma, é um déficit alarmante de governantes dotados de competência, probidade e compromisso com o bem comum. Em seu lugar, proliferam meros oportunistas, cuja atuação se resume à busca de meios de subsistência, destituídos de qualquer capacidade de conceber e executar um projeto político estruturado para o progresso nacional.
Recuso-me, a partir de agora, a consumir textos desprovidos de rigor intelectual e precisão linguística que versam, de maneira inconsistente e descontextualizada, sobre o término do mandato do atual chefe de Estado da Guiné-Bissau. A inconsistência estrutural, a fragilidade argumentativa e a ausência de uma vinculação orgânica com a realidade política vigente tornam tais escritos não apenas estéreis, mas contraproducentes. Permaneço, contudo, resoluto em meu propósito de contribuir, com lucidez e senso de responsabilidade, para a edificação de uma Guiné-Bissau regida pela seriedade e pelo compromisso genuíno com a boa governança.

Niterói, RJ, 16 de janeiro de 2025.
Eusébio Djú

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