31/07/2025
Tudo começou com um vestido sem mangas. E terminou com um mercado de bilhões, construído em cima de algo que, até então, não era considerado um problema.
No início do século XX, nenhuma mulher se preocupava em remover os pelos das axilas. Não era hábito, nem tabu. Era simplesmente normal. Mas em 1915, a Gillette, até então uma marca voltada exclusivamente para homens, decidiu que havia espaço para crescer.
Só que, para vender lâminas às mulheres, precisava de algo que ainda não existia: uma razão para se depilar.
Foi assim que nasceu um dos movimentos de marketing mais engenhosos do século.
O primeiro passo foi o lançamento da Milady Décolleté, a primeira lâmina “feminina”. Mas o verdadeiro impacto veio da estratégia. A Gillette não apenas lançou um produto. Criou uma narrativa.
Revistas femininas passaram a estampar anúncios com modelos de braços erguidos, vestidos leves, e axilas impecavelmente lisas. O texto era sutil: não falava em “barbear”, mas em “embelezar”, “refinar”. Os pelos foram rotulados como “anti-higiênicos”, “inapropriados”, “invisíveis no discurso, mas inaceitáveis na imagem”.
O marketing não só dizia o que comprar. Dizia como parecer feminina. E pela primeira vez, o corpo natural da mulher foi transformado em algo a ser consertado.
O impacto foi imediato. Em menos de duas décadas, a remoção de pelos passou de irrelevante a regra silenciosa. Com a ascensão do cinema, da moda sem mangas, e da falta de meias durante a Segunda Guerra, a pele lisa virou símbolo de elegância, limpeza e decência.
Não era mais uma escolha. Era um requisito.
E o mais brilhante: ninguém lembrava de ter escolhido isso.
Hoje, entre 80% e 99% das mulheres ainda seguem o padrão criado naquela campanha. E só nos EUA, o mercado de produtos para remoção de pelos movimenta bilhões de dólares por ano.
Tudo porque, há mais de cem anos, um grupo de publicitários olhou para o corpo feminino e perguntou: “E se a gente dissesse que isso… não deveria estar aqui?”
A ideia não foi vender lâminas. Foi vender insegurança. E depois oferecer o “remédio”.
Esse é o tipo de campanha que não dura uma estação. Dura gerações.