22/03/2025
AHHHH... AQUELE CARNAVAL...
O Carnaval acabou. Saudades? Claro que não. Na verdade, nunca gostei dessa festa. Muito barulhenta com as suas músicas chatas e "no sense". Questão de gosto, né?
Eu vi o Axé Music nascer. E, sim: já que o ritmo musical está completando 40 verões, claro que eu já passei dos 40 outonos, pois nasci em Junho.
Lembro do Luiz Caldas, com seus pés descalços dançando o "Fricote" e o Gerônimo, cantando "Eu Sou Negão", nas ladeiras do Pelô. Os tambores do Olodum (o original) e os blocos de "índios", desfilando na Avenida e na Praça Castro Alves. Era massa ver os Apaches do Tororó, os Comanches e também o afoxé Filhos de Gandhi, com a sua multidão de vestimentas brancas e seu cheiro inconfundível de alfazema tomando conta do circuito carnavalesco de Salvador.
Tenho bastante saudades dessa época. Eu era criança, mas tenho memórias muito intensas dessa época. Nostalgia pura.
Peraí! Mas eu não disse que não gostava de Carnaval?!
Sim! Reitero; não suporto o Carnaval! Todavia, sou baiano, né? É cultural. Mesmo sendo roqueiro, punk e depois metaleiro, tá no sangue ser aculturado pelo Carnaval. Pela atmosfera momesca. Pelas cores, pelo cheiro... Afinal, era a época em que as meninas mais f**avam bonitas, com as suas fantasias de acordo com sua própria etnia. As meninas brancas se vestiam de princesas europeias, enquanto as garotas negras se transformavam em rainhas ou guerreiras africanas. E, ambas as etnias também poderiam ser indígenas, que eram as mais lindas!
Eu gostava dos confetes, dos glitters e dos beijos aleatórios que ganhava das gatinhas, principalmente das turistas, que achavam que nós, caras baianos, já faziam parte do seu pacote turístico.
Entretanto, não estou aqui pra falar daqueles carnavais, mas, sim, pra contar uma história verídica que ocorreu neste século mesmo, mais precisamente no ano de 2019, se não me falha a memória...
Eu, como sempre fazia após o trabalho ou numa folga, ia visitar uns amigos que tinha no bairro aonde fui criado, na periferia de Salvador. Normalmente buscava a companhia de dois deles; um era músico e outro segurança patrimonial e ambos solteirões convictos. Eu estava num relacionamento sério naquele momento.
Só que, naquele "fatídico" dia, não encontrei nenhum dos dois e acabei me contentando com o convite de um terceiro cabra, que também gostava de andar com a minha turma: um assistente social, casado, que também era poeta nas horas vagas.
Vou chamá-lo aqui de Vittorio, pelo fato de ele ser torcedor do (argh!) Esporte Clube Vitória, eterno freguês do meu amado Esquadrão de Aço, o Bahia.
O Vittorio me chamou pra tomar uma cervejinha no bar de um conhecido nosso. Era uma quinta-feira à tarde e o bairro estava muito movimentado e fazia um calor danado. A Skol estava bem gelada!
Após umas doze garrafinhas, estávamos alegres, ouvindo um Rock Nacional no YouTube do bar. Foi nessa hora que o meu amigo me convidou pra ir na estação da Lapa, principal terminal rodoviário da capital baiana. Segundo ele, seria legal porque já havia morado na região e conhecia uns locais legais pra terminar nossa bebedeira. Curiosidade: eu NUNCA fui de beber muito!!!! Que coisa!
Pegamos o metrô e em poucos minutos estávamos no nosso destino: centro da cidade.
Pra quem não conhece, a Estação da Lapa f**a no mesmo complexo administrativo do Shopping Piedade, do Shopping Lapa e da Estação do Metrô. Tudo junto e misturado!
Foi quando a ficha caiu! Me toquei que era uma quinta-feira feira de Carnaval!!!! E eu me encontrava bêbado, em plena circuito da maior folia das Américas! Dava até pra ouvir o barulho dos primeiros trios-elétricos que estavam desfilando na região.
Eu até que fiquei constrangido com aquilo tudo, pois, como bom baiano, deveria lembrar que aquela era uma quinta-feira de início de festa. Mas não lembrei. Nem passava pela minha cabeça!
Continuei bebendo, afinal, a Skol estava custando ap***s 1 real! Puxa! Um real ap***s!
Encharcados que nem uma esponja Assolan, Vittorio e eu subimos as escadarias da Lapa e fomos dar de frente ao primeiro trios-elétrico. Estavam cantando aquelas músicas de Axé chatas e zoarentas pra carvalho! Uma multidão acompanhava o veículo potente dançando, pulando, cantando e bebendo, bebendo muito!!!
O fator negativo era que estávamos nos tempos de artistas insuportáveis como Ivete Sangalo, Daniela Mercury e Léo Santana, pessoas que se apoderaram indiscriminadamente do monopólio do Carnaval da Bahia.
A partir desse momento, gostaria de deixar registrado que eu não consigo me lembrar de mais nada em sentido criminológico. Só espasmos esporádicos de umas lembranças embassadas pelos sintomas do álcool. Contudo, tentarei relatar o possível.
De repente estávamos dentro do bloco de samba Alerta Geral, muito tradicional no Carnaval de Salvador. E, naquela momento, o tal de Xande de Pilares estava cantando em cima do trio. Vale lembrar que todos estavam fantasiados com as vestimentas originais do bloco, afinal, tem que pagar pra entrar, né?
Todos, exceto eu e o Vittorio. He! He! He...
Como? Eu não sei. Não consigo me lembrar mesmo. Por mais que me esforce.
Só sei que fingimos ser repórteres de uma rádio baiana, que estava registrando a chegada do Alerta Geral e sua principal atração na Avenida. Fizemos várias entrevistas com os foliões! Vittorio filmando com seu smartphone e eu , com o meu, fazia perguntas alegres ao pessoal, como se fôssemos jornalistas cumprindo com seu árduo trabalho de cobrir o Carnaval.
Os participantes do bloco enchiam nosso copos com cerveja e com whisky! As mulheres tentavam nos beijar e os homens suados, nos abraçar. A maior festa!
Éramos a Rádio Metropolitana de Salvador! Kkkkkk! Que onda!
Mas, acabou. A festa acabou!
Me lembrei que tinha saído pra um lugar e, agora, estou em pleno Carnaval de Salvador... Bêbado e desnorteado!
Olhei para o Vittorio e, com alguns grunhidos inaudíveis, avisei que ia embora dali. Assim, de repente.
Não sei como, fui parar num ponto de ônibus aos pés do Elevador Lacerda, depois de descer toda a Ladeira da Conceição. Peguei o coletivo e, uns 50 minutos após, cheguei no meu condomínio... e o Espírito Santo como GPS.
Com dificuldades, abri a porta do meu apartamento com a intenção de ap***s tomar uma ducha, vomitar e ir dormir...
Me enganei...
Lá estava a patroa, de pé no meio da sala, mãos na cintura e balançando as pernas e batendo os pés no chão. Seus olhos em chamas, me fulminavam, atravessando a minha cara alucinada de álcool...
- Você estava aonde , seu descarado? São três horas da manhã!!!!
Debaixo de sopapos, xingamentos e muitos beliscões, a criatura me vaquejou pra dentro do quarto, aonde dormia, num berço colorido e cheio de bichinhos de pelúcia, inocentemente, o nosso filhinho, que havia nascido dez dias antes do último Natal...
Era Fevereiro.