14/11/2024
A TRAJETÓRIA DA RELIGIOSIDADE EM TERRAS GUAREIENSES: A HISTÓRIA DE FÉ ANTES E APÓS A DEDICAÇÃO AO PADROEIRO SÃO JOÃO BATISTA:
Cerca de 1713-1723 é formada a primeira Sesmaria dos Padres Jesuítas à direita do rio;
Em 1723, na Capela Velha, foi celebrada a 1ª Missa pelo Jesuíta Santo, Padre Estanislau de Campos Bicudo, SJ;
Em 1840, alemães e caboclos posseiros erguem uma Cruz sob um rancho de palha, lugar da atual Igreja. Pouco tempo depois, os escravos dos Ayres (fazendeiros. Donos da então “Fazenda Guareí”, nome dado por conta do rio) derrubam o Santo Cruzeiro;
Ainda neste ano, é construído a Capelinha de Santa Cruz;
23 de abril de 1851 é a data do início da devoção à São João Batista em Guareí, com a provisão da construção da Capela de São João;
Os caboclos constroem a Capela de São João. A 1ª Missa é celebrada por Padre Francisco de Paula Medeiros, na Solenidade da Natividade de São João, em 24 de junho de 1851 ou 1852;
Em 09 de março de 1871 uma Lei Provincial eleva a Capela de São João à Freguesia;
No ano de 1872 o Bispo comunica a elevação. O primeiro Pároco foi o Padre João Batista Arrosa;
Neste ano, a população da Freguesia é a seguinte: 4.382 habitantes. 106 são escravos. 11 eleitores;
Nos anos de 1873 e 1874, são criadas as Leis Provinciais sobre as divisas da Freguesia;
No ano de 1884 se inicia as construções da primeira Matriz. Em 1888 é finalizada;
Em 1904 a Matriz é derrubada e se iniciam as obras da segunda e atual Igreja;
No ano de 1905 foi inaugurada;
Em 1906 o Arcebispo Dom José Marcondes Homem de Melo faz uma Visita Pastoral à cidade;
Em 1927 é realizado a compra da Casa Paroquial;
No ano de 1928 é inaugurada a nova Capela-Mor da Matriz;
Em 1930 é adicionado forro na Igreja;
Em 1931 a 1ª Semana Santa completa é realizada. A senhora Águeda Vieira de Camargo foi Verônica. Imagens doadas por Marcos Xavier da Costa;
Em 1933 realizou-se pinturas na Matriz por Edmundo Gangni.
CAPELAS ANTERIORES À DE SÃO JOÃO BATISTA:
A Capela Velha já não existia quando os Alemães chegaram. Os pobres eram enterrados no campo, possivelmente no cemitério próximo às ruínas da Capela. Em 1888, esse cemitério foi abandonado. Maximiano da Costa Ribeiro foi sepultado em 1846 na fazenda de Santo Inácio, que também tinha uma Capela.
No final de 1847, Felicidade foi enterrada no cemitério acima da serra de Botucatu, associado à Freguesia de Santo Inácio. A Capela mais próxima de Itapetininga ficava entre o cemitério e a Freguesia Bom Jesus do Ribeirão Grande. Quando o bairro era no caminho para Tatuí, os mortos eram levados para lá para sepultamento.
CAPELA DE SANTA CRUZ:
Os alemães, primeiramente, ergueram uma Santa Cruz sob um rancho de sapé exatamente onde está a atual Igreja. Os escravos de Elias Ayres do Amaral, à mando de algum feitor, derrubaram mais de uma vez esse Cruzeiro. Os alemães à reconstruíram.
A religiosidade nas terras guareienses era (e ainda é) rica em tradições, especialmente as festas em homenagem à São João Batista, com fogueiras e fogos. A região apresentava uma topografia diversificada, incluindo o barrancão do Rio Guarda-Mor e a várzea alagadiça.
Felipe Jacob, um carpinteiro ou ferreiro de caligrafia notável, foi um líder que escolheu o local para sua casa no largo, evitando a beira da antiga estrada da Areia Branca, que já existia, correspondendo as atuais Rua Ugolino de Moraes e Rua São Paulo.
O bairro do Guareí já era reconhecido desde 1789 e, embora houvesse uma Santa Cruz na área, os moradores se referiam ao local como "Capela do Guareí", mantendo sua designação civil como bairro ou arraial.
CAPELA DE SÃO JOÃO BATISTA:
A primeira imagem de São João Batista era pequena, de barro, feita humildemente à mão e com amor. Durou meio século. Se quebrou pouco depois de 1900 ao cair do andor em uma procissão.
O carpinteiro da Capela (por ser pau a pique não necessitava de pedreiro) chamava-se Francisco Serafim de Oliveira Brandão, conhecido pelo apelido “Veado”. Veio do Pirajussara cerca de 1842, e morreu no bairro da Jacutinga em 22 de janeiro de 1878, aos 65 anos de idade.
Quando foi para se elevar a Capela à categoria de Matriz, o Vigário de Itapetininga, Padre Francisco de Assunção Albuquerque, informou que era uma Capela de pau a pique, e só cabiam cerca de 100 pessoas nela, e tinha algumas alfaias, em 1870. Era a mesma do começo.
O mapa de 1858, mostra a Capela sem torre, com uma porta na fachada e sem janelas, enquanto a Matriz (a primeira) de Itapetininga, já aparece com uma torre.
Tinha que ser rebocada e caiada, depois de barroteada e barreada. O azul de anil era muito usado para as portas.
A provisão de construção ou licença da Capela pelo Bispado de São Paulo é de 23 de abril de 1851.
Aluísio de Almeida menciona: “Acho que a efeméride de 23 de abril é a da verdadeira fundação de Guareí. Em todo o país os fundadores, outrora, começavam com uma capela. Se quiser festejar a data da 1ª Missa, não há certeza completa, mas podia ser à 24 de junho de 1851, pois o vigário de Itapetininga, Padre Francisco de Paula Medeiros, vinha celebrar a Missa e os Sacramentos ao menos uma vez por ano. Mais provavelmente foi no São João de 1852”.
Os enterros começaram dentro da Capela. O primeiro foi de Maria das Dores, esposa do carpinteiro Francisco Serafim, falecida em 02 de agosto de 1852. A construção da Capela foi um processo demorado, com madeiras extraídas na mata virgem entre o Rio Guareí e o Rio Guarda Mor. Francisco Serafim possuía uma chácara na região desde 1848, vendida em 1875.
O cemitério interno recebeu Maria das Dores como a primeira sepultada ali. Após seu falecimento, Francisco se casou novamente. Com o cemitério rapidamente cheio, os enterros passaram a ser feitos nos lados e atrás da Capela.
Em 1928, ao construir a nova Capela do Santíssimo, foram encontrados restos de materiais que indicavam que a antiga Capela era menor. A estrutura tinha aproximadamente 5 metros de fachada por 12 de fundo e podia acomodar 100 pessoas em pé.
Os sinos eram colocados em uma armação de madeira ao lado da Capela. O fazendeiro Elias Ayres construiu uma Capela rica em Sorocaba, enquanto o povoado da Capela do Guareí atendia lentamente a comunidade rural.
Em 1866, um subdelegado foi nomeado para o local pela presidência, pensando que a Capela era curada (com status de Freguesia). No entanto, após troca de correspondências com o Bispo e o Vigário de Itapetininga, ficou esclarecido que a Capela não tinha esse status e apenas recebia visitas do Padre para os Sacramentos.
O PRIMEIRO PÁROCO:
O padre João Batista Arrosa fez parte da primeira turma de alunos do Seminário Episcopal de São Paulo. Foi vigário em Alambari, ocasião em que entrou na Loja Maçônica Constância, de Sorocaba, e declarou ser natural de Santa Branca (José Aleixo Irmão, Loja Perseverança, Sorocaba, 1969).
Em 5 de fevereiro de 1872, em seu nome, Manoel Afonso Pereira Chaves, advogado e político de Itapetininga, requereu ao Vigário Capitular a sua remoção da Freguesia de Alambari para a de Guareí, já criada pelo Governo, alegando esperanças de melhorar a sua saúde.
A resposta foi a provisão de instituição canônica e nomeação do Padre Arrosa. A data de 5 de fevereiro de 1872 é a do despacho, não havendo outra no requerimento. Talvez o senhor Manoel Afonso apresentasse diretamente o requerimento na Câmara Eclesiástica. Quatro dias depois, era criada a Freguesia. Eclesiasticamente, “Freguesia” é a atual Paróquia, e seus “fregueses” são os que a frequentam, os paroquianos. “Filii Ecclesiae, filigreses” - “Fregueses, Filhos da Igreja”.
A CONSTRUÇÃO DA MATRIZ:
A nova matriz de Guareí foi construída entre 1884 e 1888, liderada pelo Coronel Manoel Joaquim de Andrade e construída pelo carpinteiro Francisco Antonio Ayres. A antiga Capela foi mantida de pé até a nova (e atual) Igreja ser inaugurada, em 1904. A igreja antiga não tinha torres, mas abrigava bons sinos em uma sineira de madeira. Suas paredes foram feitas de tijolos sobre o baldrame, com estruturas de madeira aproveitadas da antiga capela. Não se sabe exatamente o dia que foi celebrada a 1ª Missa na nova Igreja, mas foi celebrada por volta de 1905, enquanto o Pároco Padre Biaggio de Mugnano (Padre “Braz” de Mugnano) realizava Sacramentos na capelinha de São Roque. O Coronel Aníbal Castanho de Almeida liderou uma comissão para reformar a igreja, juntamente com outros cidadãos influentes.
A Capela-Mor foi construída sob sua direção, com altares de mármore e outros detalhes elaborados. Em 1930-1931, foi arrecadado dinheiro para forrar a igreja, e em 1940, ocorreram mais melhorias, como a substituição das colunas de madeira por arcos e o novo assoalho. O Vigário substituto, após uma pausa forçada, liderou a decoração da Capela-Mor com a ajuda do pintor Edmundo Gagni.
O Padre Pabón introduziu o canto em Latim na Igreja.
O relógio da torre é antigo. Data-se de antes ainda de 1960. As belas capelas dos bairros deve-se aos esforços de Monsenhor João Batista Ribeiro. A Via-Sacra na Matriz foram doadas pela família do Professor Ezequiel Castanho. Durante muitos anos, os Padres Missionários do Coração de Jesus (MSC) de Aparecida de Itapetininga visitaram Guareí regularmente, mantendo uma comunidade bem estabelecida na ausência de um Pároco local.
A Igreja passou por várias reformas ao longo dos anos, sempre com a ajuda e dedicação da comunidade local e das lideranças religiosas.
A IGREJA RECENTEMENTE:
A história recente da Igreja de São João Batista de Guareí é marcada por eventos significativos.
Em 23 de novembro de 2015, a cidade sofreu uma forte chuva de granizo, levando à interdição e reforma da Igreja Matriz, que durou 54 dias, durante os quais as celebrações foram transferidas para o Salão Paroquial São João Paulo II.
A reinauguração da Igreja ocorreu em 03 de junho de 2016.
No mesmo ano começaram as obras de ampliação que também exigiram a transferência das celebrações para o Salão Paroquial.
Em 2018, a Matriz ampliada foi oficialmente inaugurada com a presença do Bispo Dom Gorgônio Alves da Encarnação Neto, CR, que realizou uma Missa Solene.
Mais tarde, em 08 de maio de 2024, a Paróquia ganhou um hino composto pelo Padre Carlos Eduardo, de Capela do Alto, a pedido do Pároco, Padre Lucas Augusto Alves de Oliveira.
Um momento especial aconteceu em 12 de outubro de 2024, quando a Matriz foi elevada à dignidade de Santuário Diocesano durante uma Missa Solene celebrada pelo Bispo Diocesano, Dom Gorgônio e concelebrada pelo Pároco, Padre Lucas e Padre Fábio José de Meira, de Itapetininga. Também esteve presente o Diácono Leopoldo Lourenço Nunes (o Diácono “Dinho”) e seminaristas.
Fonte: Livro “Guareí, Nossa Terra”, de 1976, de autoria de Monsenhor Castanho, o “Aluísio de Almeida”.