15/09/2024
Salve Dona Marta!
Picos no Piauí, assim começa a jornada de Dona Marta. Uma simpática senhorinha, mais ou menos sessenta anos de idade, cabelos enroladinhos, parecendo flocos de neve.
De lá, Juazeiro, Recife, Betim nas Minas Gerais e de lá, para as Periferias de Londrama. Aqui afundou o pé na lama vermelha, se lambuzou e ficou... Casou, descasou, só não investiu, porque nunca sobrou dinheiro pra isso.
Toda espevitada ela sai de casa e em seu caminho:
"Não acredita no que vê não daquela maneira, crianças gatos, cachorros, disp**am palmo a palmo seu café da manhã, na lateral da feira"...
"Estou pensando em Deus!! Estou pensando no amor!! Quem dera se um dia, as mães fossem Maria, os pais fossem José e os filhos parecessem com Jesus de Nazaré!" ...
"Bang (bang), dei meu tiro certo em você! Deixa que eu faço acontecer!Tem que ser assim pra me acompanhar, pra chegar! Então vem!"...
Domingo de manhã, é assim, uma disp**a de gostos musicais na quebrada da Dona Marta. Num rápido rolê do seu barraco até à vendinha perto de sua casa, ela ouve Racionais, Padre Zezinho & Anitta, numa peleja que lembra a disp**a de classes.
Dona Marta não liga do som alto. Até gosta. Mas prefere modão, sertanejo, forró e para rebater, música gospel, porque o pastor disse que não pode f**ar escutando música do mundo.
- Ninguém liga muito pro pastor aqui não fio... A gente vai pra receber a bença e só...
- Mas e aí? Como faz? Essa doideira toda, a Senhora gosta?
- Fio, eu tô véia. Mas tô mais nova que gente nova. De cabeça digo. Se eu preciso ir na igreja dos crente eu vou, se é pra ir na novena católica eu vou e ainda tomo um passe do Preto velho!
- Mas como a Senhora lida com isso?
- É normal. Tem um povo que enche a paciência. Mas sempre digo que quem não cuida da vida dos outro é mais feliz! (sic)
- Certo. E cadê os filhos e os netos?
- Vixe fio, botei todo mundo pra correr. Tô véia. Preciso de paz. Amo eles, mas cada um na sua casa!
- E a Sra não sente falta?
- Não. Tô aqui na vendinha pra comprar coisa pra fazer salada. Que tem uns netinho que não come carne. Mas daqui a pouco todo mundo chega. Um traz arroz, o outro carne, o outro farofa... A sobremesa eu já fiz... Quem é de beber bebe, quem é de suco que faça!! E quando eu vejo já tem uns 30 lá em casa...
- Minha nossa!! Quanta gente!
- Sim, todo domingo é festa!
- Oloco Dona Marta, me convida que eu vou hein...
- Oxi! Tá convidado menino! Ocê tem cara de bom lavador de prato - explicando que ninguém vai embora deixando a casa suja.
Massa ver a organização das famílias na quebrada. Cada uma do seu jeito. E nas diferenças, a tentativa de sobrevivência. Onde não chega o estado, sobra solidariedade.
Texto: Alisson Poças
Arte: Manoel Barreto
Revisão: Valmirete Alves/João Paulo Poças/Márcio Teixeira e Carla Gimenez
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