30/11/2025
Ao amanhecer, ela enterrou o pai. Ao anoitecer, tornou-se mito.
Em 1883, quando a poeira de Tombstone ainda carregava o eco de duelos passados, Belle Lawson surgiu na cidade montada numa égua que mal se mantinha de pé. Não trazia malas, nem ouro, nem histórias prontas. Apenas um rosto marcado pelo sol do território Apache… e um silêncio pesado como chumbo.
Mas dentro de sua alforje havia o que realmente importava:
uma carta manchada de sangue,
três nomes escritos com a letra trêmula do pai agonizante,
e uma promessa sussurrada sobre o túmulo recém-cavado:
— Vou terminar o que você começou.
Foram sessenta e sete dias de perseguição impiedosa.
Noites frias, dias abrasadores.
Planícies alcalinas que quebravam sob suas botas,
desfiladeiros onde serpentes observavam em silêncio,
rios rasos que cortavam o deserto como nervuras de um animal moribundo.
Ela dormia quando o corpo implorava, comia quando lembrava.
E todas as noites, sem falhar, desmontava e limpava o velho C**t herdado do pai —
movimentos exatos, quase ritualísticos, como quem reza não a Deus,
mas à memória.
Quando por fim alcançou Whiskey Creek, o destino parecia esperar por ela.
Os três homens estavam ali — rindo, bebendo, jogando cartas,
sentados na mesma mesa onde, anos antes, tinham brindado com o pai dela.
Amigos, dizem.
Depois, traidores.
A ganância faz isso com os homens: transforma companheiros em feras.
O xerife a interceptou na porta do saloon.
Mão no coldre, voz cansada.
— Garota, essa briga não é sua. A lei cuida disso.
Belle não desviou o olhar.
— A lei teve dois meses.
Eu sou o que vem depois.
Dizem que quando os tiros ecoaram naquela noite,
o estrondo parecia trovão em céu limpo.
Três tiros.
Três corpos.
E uma mulher na soleira da porta, com o cano da arma fumegante,
como se tivesse acabado de moldar o destino com as próprias mãos.
Ao nascer do sol, Belle Lawson tinha desaparecido.
Alguns juram tê-la visto cavalgando rumo a Montana,
outros afirmam que se alistou disfarçada entre os Rangers
e que sua lenda cresceu mais rápido que a verdade.
Mas em Tombstone, quando as fogueiras diminuem e as sombras se alongam,
ainda se conta a história da mulher que não esperou pela justiça —
ela mesma a trouxe consigo.
Porque o mundo nem sempre entrega o que é certo.
E, às vezes, para recuperar o que foi tirado,
é preciso ir atrás com ferro, poeira e coragem.
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