16/06/2025
Quando eu tinha 8 anos, morava com minha família em um sítio bem simples. A gente passava por dificuldades, principalmente porque meu pai tinha o péssimo hábito de beber demais e fazer escolhas ruins nos negócios, o que só piorava a situação financeira.
Sempre que precisávamos ir até a cidade, a viagem era feita em uma carroça puxada pelo nosso cavalo, que tinha o curioso nome de “Barulho”. Meu pai era conhecido por todos como o típico “bêbado de rua”, aquele sujeito que parecia simpático com os outros, mas que dentro de casa era uma pessoa amarga e agressiva. Ele não tinha freio na língua… vivia soltando palavrões e ofendendo a gente com palavras que, até hoje, eu me recuso a repetir ou aceitar que alguém fale perto de mim.
Mas o que marcou mesmo foi um episódio estranho que aconteceu numa dessas voltas pra casa. Meu pai vinha do centro da cidade, já completamente embriagado, guiando a carroça pela estrada de terra que levava até o nosso sítio. De repente, ouvimos de casa o cavalo relinchando de forma desesperada. Saímos pra ver o que estava acontecendo e, a uma distância de uns 700 metros, bem numa encruzilhada antes da porteira, vimos o cavalo agitado, tentando se levantar nas patas traseiras, como se estivesse tentando se livrar de alguma coisa. Tudo isso com a carroça e meu pai em cima! Ele quase foi arremessado de lá.
Aquela cena durou cerca de dois minutos. Depois disso, o cavalo pareceu se acalmar do nada e seguiu o caminho normalmente, como se nada tivesse acontecido.
Quando finalmente chegaram em casa, dava pra ver que meu pai estava claramente abalado, mas ele não quis dizer uma palavra sobre o que aconteceu. A gente até pensou que ele tivesse cruzado com alguma cobra no meio do caminho.
Só no dia seguinte, já sóbrio, ele resolveu contar pra minha mãe o que realmente aconteceu. Segundo ele, apareceu um homem de aparência assustadora bem na frente da carroça. Essa figura horrível ficou repetindo a mesma pergunta de um jeito ameaçador:
— O que você quer de mim?
— O que você quer de mim?
Assustado, meu pai respondeu:
— Nada…
E então o tal homem respondeu de volta:
— Então por que vive me chamando?
Foi nesse momento que, tomado pelo medo, meu pai fez o sinal da cruz na própria testa. Logo depois, aquela figura simplesmente desapareceu, e o cavalo parou de se desesperar e seguiu viagem como se nada tivesse acontecido.
E sabe o que é mais estranho? Depois desse dia, meu pai nunca mais soltou aqueles palavrões horríveis perto da gente. Ele continuava sendo uma pessoa difícil quando bebia, mas as ofensas e xingamentos pesados… esses ele nunca mais repetiu.