23/10/2025
♡Quando chegamos no endereço, o cheiro bateu primeiro. Urina. Fezes. Abandono. A denúncia dizia:
"Tem um cachorro acorrentado há meses. Ninguém cuida dele."
Entramos pelo portão quebrado.
O quintal estava vazio, silencioso, como se ninguém vivesse ali há anos.
E então vimos o cubículo.
Um buraco úmido, escuro, sem ventilação. O chão coberto de excrementos. Pedaços de jornal encharcados.
Uma tigela de água suja com larvas flutuando.
E ele.
Deitado no fundo, com o corpo magro apoiado nas tábuas podres, uma corrente enferrujada presa ao pescoço tão curta que ele mal conseguia se levantar.
Quando me viu, não rosnou. Não tentou fugir.
Apenas me olhou.
E naquele olhar havia algo que me destruiu por dentro: resignação.
Ele tinha desistido. Desistido de latir.
De pedir ajuda. De acreditar que alguém viria.
Me abaixei devagar. Falei baixinho: "Calma, amigo.
Eu vim te tirar daqui."
Ele não reagiu.
Nem medo. Nem esperança. Apenas aquele olhar vazio de quem já tinha perdido tudo inclusive a vontade de viver.
Tentei soltar a corrente, mas estava enroscada demais. Oxidada. Presa como se fizesse parte do corpo dele. Tive que usar um alicate.
A cada movimento, ele tremia, mas não se mexia.
Como se tivesse aprendido que resistir só trazia mais dor.
Quando finalmente a corrente se soltou, ele não saiu correndo. Não pulou de alegria.
Ficou ali, deitado, como se ainda estivesse acorrentado. Porque para ele, a corrente nunca foi apenas de metal.
Era psicológica.
Carreguei ele no colo. O corpo era tão leve que parecia não ter mais nada dentro só ossos, pele e dor acumulada.
No caminho pro abrigo, ele encostou a cabeça no meu peito.
E pela primeira vez em não sei quanto tempo… fechou os olhos em paz.
Hoje, três semanas depois, ele ainda tem medo de portas fechadas. Treme quando ouve barulhos altos. Se encolhe quando alguém levanta a mão mesmo que seja só pra fazer carinho.
Mas ontem… ontem ele fez algo que me fez chorar.
Ele abanou o rabo.
Foi rápido. Tímido. Como se estivesse testando se ainda era permitido ser feliz.
E eu jurei pra ele, com lágrimas nos olhos: "Nunca mais.
Nunca mais você vai conhecer correntes."
Porque tem gente que prende animais com ferro. Mas tem gente que os liberta com amor.
E esse amor?...
Esse amor é capaz de quebrar qualquer corrente.
Se você vir um animal em situação de maus-tratos, denuncie. Não espere. Não ignore. Porque para ele, você pode ser a única chance de liberdade.♡