16/07/2025
Há pouco, lendo um texto da Fatima de Kwant , lembrei-me de dois episódios graves que aconteceram comigo e com a Carola. Ambos, ela tinha 11 anos, da mesma idade da Bianca, que não teve a mesma sorte que a minha.
Estava uma tarde bonita e fui buscar o Vitor na escola e levei-a comigo. E ela se soltou de minha mão e saiu ziguezagueando por uma rua movimentada que, milagrosamente não estava passando carros e nem ônibus. E eu atrás dela!
Mas Carola corria feito uma gazela antes de começar a apresentar problemas motores. Quando consegui alcancá-la, segurei firme e a trouxe para a calçada e quem assistisse de longe acharia que eu a estava maltratando. Encostei-a em um paredão, segurei com meu corpo a fim de me acalmar. E seguimos para a escola do Vitor. Qual não foi minha surpresa ao ser interpelada por um motorista me ameaçando de chamar a polícia.
O outro episódio aconteceu dentro das instalações do Capsi.
Carola estava na companhia da pediatra e da recreadora, e eu na estava na sala de espera aguardando o fim do atendimento. De repente a vejo passar correndo com as duas profissionais correndo atrás. Ela correu para a rua, novamente de muito movimento, mas não atravessou. Foi em direção ao final da avenida, pela calçada. E, nesse momento, consegui segurá-la.
Nessa época não se falava tanto em autismo como agora. Eu nunca tinha ouvido a palavra
elopement, que nada mais é que "fuga", um fenômeno que pode ocorrer em momentos de grande excitação, estresse ou quando há uma necessidade de autorregulação sensorial. Nesses momentos, a criança ou adulto autista pode sair correndo, muitas vezes sem direção, expondo-se a riscos como atravessar ruas sem prestar atenção ao trânsito.
E aí volto para a tragédia que aconteceu com a Bianca no cânion. Os pais estavam proporcionando um momento de lazer e inclusão para os filhos. Como pensar que poderia acontecer um acidente fatal?
Os juízes das redes sociais estão cada vez mais se sentindo empoderados. Apontam o dedo e julgam a vida do outro sem piedade e compaixão.
Eu poderia ter perdido a minha filha nos dois episódios relatados. Aconteceram outros também!
Mas quis o destino que ela iniciasse sua volta pra casa do Pai, deitada em sua cama, dormindo.
E, o mais triste de tudo isso é que os julgamentos mais ferrenhos, vieram das mães dos autistas. De uma comunidade que deveria se unir e não soltar a mão da outra.
Que pena!
Sinto muito Bianca! Sinto muito por seus pais, que não precisam de mais julgamentos, basta o deles próprios.
Só quem já enterrou um filho, entende, claramente, a culpa que eles carregarão por toda a vida.
Você está bem, sendo cuidada e amparada. Cumpriu sua missão! Que era curta!
A nós, cabe pedir amparo para seus pais e irmão. Que Deus em sua misericórdia infinita, acalente esses corações tão feridos.
Graça Maduro