09/05/2025
Chovia naquela tarde, e Tobi ainda estava lá, em frente à porta que nunca mais se abriu.
Seu corpinho, já encharcado, se encolhia junto à entrada, tremendo não apenas de frio, mas de um vazio que ele não conseguia entender. Seu humano, Manuel, tinha ido embora. Saiu uma manhã, como tantas outras. Mas dessa vez, não voltou. E ninguém explicou ao Tobi que ele jamais voltaria.
Os dias e noites passavam, e Tobi continuava ali. Às vezes dormia encolhido no tapete da entrada, outras vezes apenas observava o horizonte, atento a cada passo, a cada sombra. Sua cauda não balançava mais, seus olhos haviam perdido o brilho. Mas ele seguia esperando. Porque seu coração não sabia amar de outro jeito.
A chuva molhava seu pelo, o sol queimava suas patas, a fome apertava o estômago — mas nada disso importava. Ele não queria comida, nem água, nem abrigo. Ele queria ouvir novamente aquela voz, sentir aquela mão afetuosa, ver o sorriso de Manuel mais uma vez.
As pessoas passavam. Algumas olhavam com pena, outras fingiam não ver. Um vizinho deixou um pouco de água, outro uma manta velha. Mas ninguém entendia que, para Tobi, o tempo tinha parado. O mundo dele acabou no dia em que Manuel fechou a porta pela última vez.
Tobi não entendia sobre funerais, hospitais ou despedidas eternas. Ele só sabia amar. E quando se ama de verdade, a gente f**a. Mesmo que doa. Mesmo que ninguém mais espere. Mesmo que o coração se quebre um pouco a cada dia.
Certa manhã, depois de muitas semanas, o céu clareou. Não chovia mais, mas havia no ar um silêncio de adeus. Tobi não se levantou. Seus olhinhos continuaram fixos na porta, como se ainda esperasse ver Manuel voltar.
Dizem que os cães não entendem a morte. Talvez seja verdade. Mas eles entendem o amor. E Tobi amou até o seu último suspiro. Esperou até que seu pequeno coração não aguentasse mais.
E talvez, naquele silêncio final, ele finalmente tenha ouvido a voz que tanto esperava... chamando-o mais uma vez.
Creditos a página 15min Portugal