25/12/2024
Qual é o significado de raspar a cabeça.
Raspar a cabeça é um momento de purificação e o modo de fazer a
pessoa renascer, se preparando para receber sua divindade. Este ato litúrgico é
chamado de Iabé, pelos iorubás, fárí, pelos fons, e catular, pelos bantus. O cabelo,
para as pessoas, tem uma representação simbólica de poder, soberania, vivência
e beleza. Tirar o cabelo, para o iniciado, significará cortar todos estes elos,
retroceder à infância, época em que a pureza e a inocência estão presentes, sem
existir a vaidade e a soberba.
O raspar a cabeça é também necessário para que as obrigações litúrgicas
sejam realizadas diretamente sobre o orí, para que os elementos interliguem-se a
este com mais facilidade. Representa o ato de dar equilíbrio à cabeça,
proporcionar a harmonia necessária ao seu fortalecimento e poder fixar os
elementos que participam da feitura. Recriando, então, no aiê, a mesma cabeça
que foi preparada no orum por Babá Ijalá.
É importante esclarecer que não são todas as pessoas que têm
necessidade de raspar totalmente o cabelo. Esta determinação é dada pelo Odu,
pela situação de cada um, ou pelo orixá. Não é um ato aleatório, ou que se faz
quando o iaô deseja. Quando não ocorre a raspagem, o processo é diferenciado,
e o corte é feito em locais sagrados e fundamentais do orí. Antigamente, em
algumas grandes casas de candomblé não era costume raspar toda a cabeça dos
iaôs, só em casos de extrema necessidade.
A navalha (obẹ́ ṣire) e a tesoura (obẹ́ farí) precisam ser individuais para
este ato, pois são instrumentos que serão utilizados no orí do iniciado e também na
época do seu Axexê. E este procedimento é também uma obrigatoriedade nos
dias atuais, tanto como medida de higiene, como na prevenção contra doenças.
Para algumas divindades, se for necessária a raspagem, esta não poderá ser feita
com o uso da navalha. Nanã, por exemplo, que não aceita elementos de ferro ou
de aço em suas obrigações.
Mas não é somente o ato da raspagem que representa a consagração
completa do iniciado na religião. Este cerimonial é acompanhado por várias
liturgias, entre as quais a imolação de bichos, incisões sagradas, a pintura do iaô,
a sassanhe (“cantar as folhas”), a colocação do quelê, do icodidé, do oxu, de
acordo com cada nação. Logo após a raspagem o iaô já será afastado das
demais pessoas e se recolherá em local previamente preparado para ele.