25/08/2025
Um cipó estalou no vento e foi o bastante para eu perceber que estava sozinho, de verdade. Nenhum som além do ar correndo por entre as folhas. O passo pareceu mais firme nesse instante, porque nada precisava competir com ele.
Há quem leve a trilha como palco, transformando cada curva em espetáculo para o olhar de quem ficou em casa. Eu já fiz isso também, preocupado em mostrar que estava ali. Mas a montanha não pede prova. Ela não aplaude quem grita. Ela apenas existe, cheia de detalhes que se perdem no excesso de ruído que carregamos.
Quando o barulho cessa, o coração se alinha ao compasso da respiração. O silêncio não é vazio, é presença daquilo que antes não cabia. O som de uma asa, o estalo de um galho, o próprio corpo lembrando que está vivo. Só então a trilha revela segredos que nenhuma fotografia é capaz de traduzir.
A montanha não tem pressa em ser entendida. Ela aguarda. O convite está aberto, mas só atravessa quem aceita calar. Você já se permitiu escutar sem precisar mostrar?