
15/04/2025
Eles não estudaram passarela. Não passaram anos treinando postura, andando de salto, segurando expressão no rosto. Não fizeram book aos 13. Não viraram noites em provas de casting.
Mas estão nas capas. Estão nos desfiles. Estão nas campanhas que uma geração de modelos sonhou a vida inteira em conquistar.
A nova vitrine da moda é o feed. E com isso, o algoritmo parece ter assumido o lugar do talento.
Nos bastidores da São Paulo Fashion Week, é visível: influenciadores digitais tomaram a frente. Eles desfilam sem treino técnico, posam com insegurança visível, mas estão ali. Porque têm seguidores. Porque vendem.
E os modelos?
Modelos de verdade — os que estudam moda, os que vivem de castings, os que constroem corpo e mente pra esse mercado — são muitas vezes preteridos. A frustração é silenciosa, mas ela existe. Eles veem, com um misto de indignação e resignação, o espaço sendo tomado por quem nunca pisou numa escola de modelo. Por quem troca o backstage pela publi.
Exemplos não faltam.
Na última SPFW, nomes como MC Cabelinho, influencers de maquiagem, tiktokers e até ex-BBBs tomaram a passarela. Enquanto isso, agências tradicionais viam seus talentos serem recusados. E não por falta de competência. Mas por não terem engajamento.
É justo?
A pergunta que f**a é:
Moda virou performance social?
O palco da estética virou ferramenta de visibilidade a qualquer custo?
Sim, é importante democratizar. Sim, a moda deve ser mais inclusiva, mais diversa, mais aberta. Mas há uma linha fina entre abrir portas e simplesmente descartar o profissionalismo.
Moda também é técnica. Também é trabalho. Também é arte construída com dedicação.
Estamos substituindo anos de estudo por curtidas.
Transformando campanhas em vitrines de números.
Confundindo influência com presença.
Enquanto isso, quantos sonhos são engavetados?