13/09/2021
Publicação da Secretária de Cultura de São Bernardo do Campo, conta a história do Teatro Cacilda Becker.
A História do Teatro Cacilda Becker
Na noite de 19 de outubro de 1968, Cacilda Becker não pisou no palco do anfiteatro do Paço de São Bernardo para atuar em mais uma de suas tantas peças de sucesso, como lhe era usual em seu anos de consagrada carreira. Sua tarefa foi mais simples: ela estava lá apenas para fazer um dos discursos de abertura do 6° Festival de Teatro Amador do Estado, evento que transcorreu ao longo de 12 dias, com a participação de dez trupes teatrais, aqui organizado por Antonino Assumpção, do Grupo Cênico Regina Pacis (1). Aquela cerimônia não inaugurava, contudo, só o festival, mas também o próprio anfiteatro, concluído antes mesmo da parte principal do complexo do Paço, do qual ele faz parte, obra projetada quatro anos antes pelo arquiteto Jorge Bonfim e sua equipe. O que a renomada atriz nunca saberia é que seu nome f**aria associado para sempre àquele local: Cacilda faleceu quase oito meses depois, em14 de junho de 1969; em agosto, o então prefeito Aldino Pinotti a homenageou com a denominação do anfiteatro (2). Uma placa em seu tributo ali seria inaugurada por sua mãe, Alzira, e sua irmã, a também atriz Cleide Yaconis, em 1970.
Apesar da programação de estréia e das honras prestadas a uma das grandes damas dos palcos brasileiros, o anfiteatro, único do gênero que a prefeitura então possuía, inicialmente não teve uma agenda artística constante. Palestras, cursos, simpósios, formaturas e solenidades eram muito mais frequentes. Contudo, ainda assim, aconteceram ali em seus primeiros anos, especialmente nas datas comemorativas, alguns recitais de piano e também espetáculos de grupos teatrais da cidade, como o supracitado Regina Pacis (peças Ralé e O Homem do Princípio ao Fim) e o grupo do antigo Centro Cultural Guimarães Rosa (A Exceção e a Regra) (3) . O Cacilda Becker só passaria a ter uma programação regular após a criação do departamento de cultura na administração municipal (em 1973) e também a publicação de um decreto que entregou oficialmente a ele a gestão do anfiteatro, definindo também regras para o agendamento de datas para os promotores interessados (4). Já entre 1974-6 passaram por ali peças que faziam o circuito comercial como “ Médico e a Força”(com Elias Gleizer), “Um Grito Parado no Ar” (de Gianfrancesco Guarnieri), “Leito Nupcial” (com Tony Ramos) e “Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá” (Raul Cortez) . Também nele foi exibido em pré-estreia o premiado filme “Pontal da Solidão” , de Alberto Ruschel, e ocorreram apresentações de músicos de renome, como o pianista João Carlos Martins com a Orquestra Sinfônica do Estado e os grupos Zimbo Trio e Quinteto Violado. Alguns dos eventos de maior projeção apresentados ali vinham em parceria com outras instituições, como as primeiras edições da Mostra Anual de Cinema Brasileiro (em conjunto com a Embrafilme) e o Projeto Pixinguinha ( parceria com a Funarte) que trouxe destaques da MPB como Belchior, Dona Ivone Lara e Nana Caymmi. Por volta de 1982, o espaço já apresentava cerca de doze atrações mensais, em quase todas as linguagens artísticas. Nessa época, depois de passar por modif**ações internas, ele deixaria de ser categorizado como anfiteatro, a partir daí sendo chamado oficialmentede Teatro (5).
O local ao longo do tempo sofreria outras reformas, principalmente após as frequentes enchentes no Paço Municipal, que foram o grande entrave de sua história. Depois da inundação ocorrida em 14 março de 1990, que causou inúmeros danos - entre eles a perda de um piano - o espaço f**aria fechado por 2 anos. Em 1999, nova enchente levaria a fechamento por mais 3 anos, reabrindo somente em agosto de 2002, com show da cantora Paula Lima (6). A sina se repetiria em 2010, com inundação e um período de quase inatividade na agenda artística - nos anos de 2011 e 2012 até a Câmara Municipal chegou a ali funcionar enquanto o novo prédio do legislativo municipal era construído. Em 2017, depois de uma vasta reforma e com obras de combate às enchentes do Paço sendo realizadas (Projeto Drenar), o Cacilda Becker voltaria à atividade, com apresentação dos Demônios da Garoa (7).
Nas imagens: acima, a atriz Cacilda Becker e o prefeito Hygino de Lima na noite de inauguração do espaço, ainda sem nome, em 19-10-1968; no meio,a atriz Cleide Yaconis e Dona Alzira Becker, respectivamente irmã e mãe de Cacilda, emocionadas no descerramento da placa em sua homenagem, em 1970 – também aparecem o então prefeito Aldino Pinotti (de costas)e o ex- prefeito Sérgio Ballotin (atrás); embaixo, plateia lotada durante a peça Leito Nupcial, com Tony Ramos, em 1976.
(1) Bellinghausen, Odette. Coluna Arte e Outras Coisas. Folha de São Bernardo, 13-10-1968.
(2) Decreto 2070/1969
(3) Bellinghausen, Odette. Ibidem. Folha de São Bernardo, 18-08-1972 e 03-09-1972.
(4) Decreto 3960/1974
(5) Decreto 7110/1982
(6) Diário do Grande ABC 24-07-2001; 15-08-2002
(7) Idem, 31-07-2017; Folha do ABC 22-08-2017
Pesquisa, texto e acervo: Centro de Memória de São Bernardo