18/10/2023
A gente se enganou.
Precisamos reconhecer nossa falha, nossa arrogância cheia de certezas que, vemos agora, eram pura ilusão. Tínhamos - eu tinha, pelo menos - uma crença sincera de que “a gente sairia melhor” de tudo aquilo que vivemos.
Não faz nem 2 anos que os telejornais pararam de exibir aquele gráfico mórbido, que dia após dia nos torturava com uma contagem de mortos que parecia não ter fim. Acreditamos - eu acreditei, pelo menos - que o horror da pandemia nos chocaria a ponto de nos tornarmos mais solidários, empáticos, humanos.
A gente se enganou.
Não faz nem 2 anos e temos, agora, uma nova contagem diária de mortos - dessa vez no Oriente Médio, mas tão próxima de nós que sempre tem alguém ali, quase do outro lado do mundo, chorando em português. E nos fazendo chorar.
Não faz nem 2 anos e as ruas estão novamente destilando violência, o copo de chopp no quiosque da praia se estilhaça à queima roupa; as operações nas favelas tomam o papel do vírus no fechamento de escolas e isolamento forçado dos moradores em casa; a ameaça ao planeta f**a cada dia mais evidente a nos angustiar. Pois é, a gente se enganou.
Claro que a gente precisa continuar a erguer essa cabeça, meter o pé e ir na fé, afinal, a outra opção não existe. Então a gente segue com humor e com amor e tenta relevar nossos erros. Mas...
A gente se enganou.
Mesmo tentando acertar.
Quem sabe, um dia, a gente acha o prumo.
(Foto: Yasser Qudih/Reuters)