18/09/2025
Seria engraçado, se não fosse a realidade. Hoje, qualquer pessoa com um celular na mão acredita estar autorizada a opinar sobre tudo, do funcionamento de um motor à política mundial. Não é apenas a liberdade de expressão em jogo, mas a banalização do conhecimento. A crítica virou um produto barato, acessível a todos, sem exigência mínima de preparo ou experiência. E nas redes sociais, esse fenômeno se tornou regra: gente que nunca pisou em uma oficina se coloca como especialista em mecânica, indivíduos que mal sabem diferenciar um conta-giros de um tacômetro se sentem à vontade para dizer que determinado carro “não presta”, e “designers” de ocasião opinam sobre projetos complexos sem jamais terem rabiscado sequer um esboço.
Claro, não escrevo isso como quem tem todas as respostas. Pelo contrário: sei que um texto como este poderia se alongar a ponto de virar quase um artigo acadêmico, até uma tese de faculdade, se fosse escrito por alguém com formação sólida em psicologia ou comportamento humano. Mas como não tenho esse fundamento, deixo aqui apenas uma observação, talvez imperfeita, mas que me parece válida como reflexão.
O que se percebe é uma inversão de valores. Antigamente, para ser ouvido, era preciso ser alguém: conquistar reconhecimento, ter estudo, diploma, experiência. Não bastava falar, era necessário provar competência. Hoje, acontece o contrário: quanto menos se sabe, maior a ousadia em opinar. O chamado efeito Dunning-Kruger, já estudado pela psicologia, explica isso bem, quem sabe pouco costuma acreditar que sabe muito, enquanto os especialistas, esses sim, tendem a ser mais cautelosos.
Não é difícil notar como isso se reflete no dia a dia. O hater digital se tornou um personagem comum: critica tudo, mas não constrói nada. O carro é ruim, o motor é fraco, o design é horrível, a marca não presta. Nada serve. É irônico ver quem nunca projetou um motor julgar um motor alheio, quem não consegue desenhar duas linhas retas condenar o design de engenheiros, quem nunca empreendeu acusar empresas globais de não saber trabalhar.