16/08/2025
Gilberto Gil notificou extrajudicialmente, nesta quinta-feira (14), a Diocese de Campina Grande e o padre Danilo César, da Paróquia de Areial (PB), por comentários feitos durante uma homilia sobre a morte de sua filha, Preta Gil, e por declarações consideradas preconceituosas contra religiões de matriz africana. O caso ganhou repercussão nacional, gerou indignação de entidades religiosas e resultou na abertura de um inquérito policial. O sacerdote é investigado por intolerância religiosa.
A equipe do cantor confirmou a notificação. Nela, Gil exige uma retratação pública e formal, a ser divulgada pelo canal da paróquia onde a missa foi transmitida. O documento ressalta que, passados mais de 15 dias do episódio, não houve manifestação ou pedido de desculpas à família. A notificação também cobra da Diocese a apuração e responsabilização eclesiástica do padre, com adoção de medidas disciplinares no prazo de dez dias úteis.
Durante a homilia, realizada no dia 27 de julho, no chamado 17º Domingo do Tempo Comum, o padre afirmou:
— “Eu peço saúde, mas não alcanço saúde, é porque Deus sabe o que faz, sabe o que é melhor para você, que a morte é melhor para você. Como é o nome do pai de Preta Gil? Gilberto Gil fez uma oração aos orixás, cadê esses orixás que não ressuscitaram Preta Gil? Já enterraram?”
Na notificação, Gilberto Gil destaca que o sacerdote desqualificou religiões de matriz africana, referindo-se a elas como “forças ocultas” e desejando que “o diabo levasse” seus praticantes. O texto aponta ainda “enorme desrespeito” ao momento de luto da família e à memória de Preta Gil.
A defesa do cantor lembra que a conduta pode configurar crime de intolerância religiosa, previsto no Código Penal, com pena de dois a cinco anos, agravado pelo fato de ter sido proferida durante uma função sacerdotal, o que poderia estimular fiéis a atos de preconceito.
A Diocese de Campina Grande informou que o padre prestará todos os esclarecimentos necessários às autoridades competentes. Danilo César não foi localizado para comentar.
A fala do sacerdote também foi repudiada pela Associação Cultural de Umbanda, Candomblé e Jurema Mãe Anália Maria, que registrou boletim de ocorrência por intolerância religiosa. Segundo o presidente da entidade, Rafael Generiano, as declarações foram “preconceituosas e ofensivas”.
De acordo com a Polícia Civil da Paraíba, três boletins de ocorrência já foram formalizados. O inquérito é conduzido pela delegada Socorro Silva e tem prazo inicial de 30 dias, podendo ser prorrogado. Testemunhas já estão sendo ouvidas, e o padre ainda será convocado a depor.