26/07/2025
Rondônia: O Submundo da Economia Informal e a Teia Política – Uma Análise Detalhada
Porto Velho, Rondônia – A recente inauguração simultânea de dois imponentes supermercados, Meta e Irmãos Gonçalves, nesta sexta-feira em Porto Velho, embora represente um aparente avanço econômico, paradoxalmente, lança luz sobre a robustez e a complexidade da economia informal que permeia a capital rondoniense. Essa economia, muitas vezes invisível aos olhos desatentos, é impulsionada, em grande parte, pelo fluxo bilionário do tráfico de dr**as. Rondônia, com sua localização geográfica estratégica, funciona como um corredor vital para a escoamento da co***na e outras substâncias ilícitas, provenientes da Bolívia e da Colômbia, para os grandes centros consumidores do Brasil e do mundo.
O Império das Facções Locais: Uma Imitatio Criminalis
A sombra das grandes organizações criminosas nacionais, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), se projeta sobre Porto Velho, inspirando a formação de inúmeras facções locais. Estes grupos, em uma "imitação barata", mas perigosa, estabeleceram seus redutos nas zonas de bairros da capital. Ali, eles não apenas controlam as "bocas de fumo", mas também expandiram seus tentáculos para um vasto e lucrativo mercado oculto. Este mercado paralelo inclui a extração e comercialização ilegal de ouro, o receptação e venda de celulares roubados e até mesmo a utilização de veículos apreendidos como garantia de empréstimos em esquemas de agiotagem. A influência desses grupos é tão capilarizada que impõe uma lei própria dentro de suas áreas de domínio, com regras e punições que se sobrepõem à legislação vigente.
A Rota do Tráfico e a Logística Rural: O Eixo Interiorano
Os chefes dessas redes criminosas não se limitam às áreas urbanas. Cidades vizinhas a Porto Velho, como Candeias, Itapuã, e até mesmo Ariquemes, se tornaram refúgios e centros operacionais em suas zonas rurais. De lá, os líderes dessas facções orquestram, via celular e aplicativos de mensagens como WhatsApp, todo o complexo intercâmbio de dr**as dos países produtores para os grandes centros consumidores brasileiros, como São Paulo e Rio de Janeiro. A logística utilizada é ardilosa: a dissimulação do transporte de entorpecentes em meio a cargas legítimas de madeira e soja, aproveitando as vastas estradas e a dificuldade de fiscalização em áreas remotas. Essa estratégia garante o escoamento contínuo da droga, alimentando uma cadeia de suprimentos criminosa que se estende por milhares de quilômetros.
A Simbiose Perigosa: Crime, Política e Lavagem de Dinheiro
A relação intrínseca entre o crime organizado e a política em Rondônia é um enredo complexo e preocupante. Em períodos eleitorais, essas facções emergem como financiadores ocultos de campanhas políticas. Através de um sofisticado esquema de agiotagem, elas emprestam grandes somas de dinheiro a candidatos, que posteriormente são "lavados" e legitimados dentro do sistema. Uma vez eleitos, os políticos retribuem o "favor", indicando familiares e pessoas ligadas aos faccionados para cargos comissionados estratégicos em órgãos do governo de Rondônia e nas prefeituras.
Os cargos-chave são meticulosamente escolhidos, focando naqueles que podem facilitar o transporte de dr**as, agilizar processos burocráticos ou, crucialmente, auxiliar na lavagem de dinheiro através da abertura e operação de empresas de fachada. Farmácias, postos de combustível, garagens de veículos e até mesmo o comércio de gado tornam-se fachadas perfeitas para dar aparência de legalidade aos lucros exorbitantes obtidos com atividades ilícitas. Essa rede de corrupção e conivência garante a perpetuação do ciclo criminoso e a impunidade.
O Terror Eleitoral: A Coerção nos Bairros
A influência das facções se manifesta de forma ainda mais explícita e intimidadora durante o período eleitoral. As antigas "formiguinhas eleitorais", responsáveis pela captação de votos, são, em muitos bairros, substituídas por membros das facções. Estes indivíduos, com seu poder de intimidação, aterrorizam a população, impondo o apoio a determinados candidatos. A pressão é psicológica e, muitas vezes, física. No dia da eleição, o controle é ainda maior: veículos são colocados à disposição dos eleitores, que são assediados, coagidos e monitorados para garantir que votem nos nomes indicados pelas facções. Esse controle do território eleitoral garante a eleição de candidatos alinhados aos interesses criminosos.
A Mapeamento da Polícia e a Omissão Oficial
A Polícia Civil de Rondônia tem realizado um trabalho fundamental de mapeamento dessa intrincada rede, identificando os bairros controlados por cada facção e os políticos que se beneficiam dessa proteção. Esse trabalho de inteligência é crucial para desmantelar as estruturas criminosas.
No entanto, as investigações do Jornal oGuaporé, em seus 80 anos de compromisso com a verdade, revelam uma prática preocupante e, no mínimo, conivente: o governo de Rondônia e a prefeitura de Porto Velho, rotineiramente, não exigem certidões negativas dos comissionados. Essa omissão abre uma brecha para a infiltração de pessoas ligadas a atividades criminosas no serviço público. A apuração do Jornal oGuaporé sugere que a maioria dessas indicações carece de transparência e, em muitos casos, são provenientes de políticos com laços obscuros com as facções, consolidando o ciclo vicioso de corrupção e impunidade que tanto aflige a sociedade rondoniense.
O complexo emaranhado entre a economia informal, o tráfico de dr**as, as facções e a política em Rondônia representa um dos maiores desafios para a segurança pública e a integridade democrática do estado. Como essa intrincada teia de poder e crime pode ser desfeita para que a lei e a justiça prevaleçam?
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