15/04/2025
A BORBOLETA DA COLINA
Em 10 de dezembro de 1997, uma jovem de 23 anos fez o impensável: escalou uma sequoia gigante e se recusou a descer. Não por um dia, uma semana ou um mês — mas por exatos 738 dias. Seu nome? Julia Butterfly Hill. Até então, não era uma ativista famosa, nem uma aventureira treinada. Era apenas alguém que, após sobreviver a um acidente de carro, passou a buscar um propósito maior — e o encontrou nas alturas de uma árvore milenar chamada “Luna”.
A 55 metros do chão, em uma plataforma de apenas 2 por 3 metros, ela transformou galhos e folhas em lar. O céu era seu teto; o vento, sua constante ameaça. Durante o devastador El Niño, suportou tempestades com ventos de 145 km/h, nevascas cortantes e noites tão geladas que seus pés nunca mais foram os mesmos. Amarrada ao tronco como um náufrago à tábua de salvação, ela resistiu — dia após dia, estação após estação.
A Pacific Lumber, dona da terra e inimiga declarada da floresta, tentou tudo para desalojá-la. Helicópteros rasgaram o ar ao seu redor, árvores foram derrubadas perigosamente perto, sirenes uivavam noite adentro. Suprimentos foram bloqueados. O objetivo era claro: quebrar seu corpo ou seu espírito.
Mas ela permaneceu. Comunicava-se por celulares içados em cordas, comia alimentos vegetarianos enviados em baldes e fazia suas necessidades em um pequeno recipiente apelidado, com ironia, de “o escritório”. Banho? Apenas o que a chuva oferecia.
“Fiquei lá por amor”, disse ela. “Amor pela floresta, pela vida, por algo maior do que eu mesma. E quando você ama de verdade, luta até o fim.”
Dois anos depois, em 18 de dezembro de 1999, Julia desceu de Luna — não derrotada, mas vitoriosa. A árvore foi salva, assim como um perímetro de 60 metros ao seu redor. A madeireira recebeu US$ 50 mil arrecadados por apoiadores, destinados à pesquisa em manejo florestal sustentável.
Julia Butterfly Hill não apenas salvou uma árvore. Ela plantou uma ideia poderosa: a de que coragem, resiliência e amor podem mudar o rumo da história — mesmo que tudo comece com uma única pessoa, em cima de uma árvore.