24/07/2025
Candomblé, herança de uma vida
Ilza Rodrigues Pereira dos Santos nasceu no dia 13 de março de 1934, em Ilhéus, sul da Bahia. A certidão de nascimento registra o nome e a data; a história, no entanto, é muito maior do que isso. Filha de Valentin Afonso Pereira e Izabel Rodrigues Pereira, cresceu dentro de um terreiro de candomblé. “Eu nasci, me fiz, me criei, casei, tive filhos e família no candomblé”, diz sorrindo Mãe Ilza Mukalê, uma das mais destacadas representantes das religiões de matriz africana do sul da Bahia.
Ilza tinha apenas 13 anos quando foi iniciada. Recebeu, logo no início, o nome sagrado: Mukalê, sua dijina, como se diz na tradição Angola. “Quando comecei a trajetória, recebi um cargo”, conta. Mais de sete décadas depois, Mãe Ilza Mukalê, figura central do Terreiro Matamba Tombenci Neto é uma das referências do candomblé de angola. A ancestralidade sempre esteve perto. Pais, tios, todos iniciados. Desde a adolescência, seguia os passos da mãe, Izabel, conhecida como Mãe Roxa. A observava, aprendia. “Tudo que ela fazia, ela fazia comigo. Ela dizia: ‘isso aqui, você nunca faça. É errado.”
O tempo ensinou. Mãe Ilza passou por diversos cargos no terreiro; mãe criadeira, mãe pequena; até tornar-se a zeladora do axé. “Deus dá propriedade. O tempo passa, o tempo ensina. Cada dia é um aprendizado”, reflete. Aos 91 anos, segue ativa, guardando saberes, preservando o legado. A história dela é também a história de uma comunidade, de uma religião que brilha na força do tambor e da palavra.
Um pouco mais da trajetória de Mãe Ilza Mukalê estará na nona edição da Revista Serra Grande, que chegará em breve aos principais comércios de Serra Grande, Itacaré, Ilhéus, Itabuna e região. Uma leitura para quem quer ouvir o que o tempo tem a dizer.
̧uca