28/09/2025
—Pai, como ela é bonita — disse a filha do Apache à mulher que havia sido rejeitada e humilhada no altar pelo seu corpo, sem imaginar que esse Apache a amaria como nenhum outro homem jamais o tinha feito.
No árido território do Novo México, onde o vento arrastava promessas quebradas e o sol punia impiedosamente, Isabel Morales caminhava em direção à pequena capela de San Jerónimo com passos pesados como chumbo.
Era outubro de 1874 e, aos 23 anos, o seu corpo robusto e afastado dos cânones de beleza que a sociedade valorizava tinha sido motivo de zoação desde que tinha memória.
O vestido de algodão cru que ela própria tinha costurado estava desconfortavelmente cingido sobre as suas ancas largas e as suas mãos tremidas ajustavam vezes sem conta o reboço que cobria o seu cabelo castanho.
Não era o tremor de uma noiva nervosa: era o tremor de quem se dirigia para a sua própria humilhação pública.
—É melhor que funcione — murmurou entre os dentes, apertando os lábios até doer. Espero que Juan seja o homem que diz ser.
Juan Herrera, viúvo de 42 anos, tinha concordado em casar com ela após três meses de negociações discretas.
Não havia cortejo, não havia promessas de amor, apenas um acordo prático.
Ele precisava de alguém para cuidar do rancho e cozinhar para ele.
Ela precisava de um teto e uma razão para não acabar sendo a solteirona da cidade, aquela que todos compadeciam com sorrisos falsos.
A capela improvisada no extremo da cidade parecia muito pequena para conter a expectativa maliciosa que se respirava no ar.
Bancos de madeira rangiam sob o peso de comerciantes locais, vizinhos curiosos e alguns familiares distantes que tinham vindo mais testemunhar o espetáculo do que abençoar a união.
Isabel conseguia sentir seus olhares cravando-se nas costas como alfinetes.
Ouvia os sussurros mal dissimulados, os risos afogados atrás das mãos, os comentários cruéis que se achavam silenciosos o suficiente.
— Pobre Juan — dizia Dona Carmen, a esposa do padeiro.
- Não sei como ele vai aguentar. Pelo menos ela sabe trabalhar — respondia outra voz. Mesmo que seja feia como um pecado mortal.
Cada palavra estava cravada no peito da Isabel, mas mantinha a cabeça erguida.
Aprendi durante anos a andar como se não ouvisse, a sorrir como se não se importasse, a respirar como se cada inalação não fosse um ato de resistência contra o mundo que a rejeitava.
Padre Sebastián, um homem magro e nervoso que tinha chegado à cidade apenas um ano antes, carraspeou desconfortável enquanto olhava o seu livro de orações.
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