28/09/2025
Depois de 5 anos a cuidar da minha mulher paralítica, um dia esqueci-me da carteira. Quando voltei e abri a porta... fiquei paralisado. O que vi atingiu-me como um comboio. Tudo o que eu protegera durante anos desmoronou-se num único instante.
Hoje, tenho pouco mais de 30 anos — magro, exausto, com um rosto baço e uns olhos que só refletem paciência. A minha vida costumava ser simples e tranquila, partilhada com a minha mulher numa pequena casa modesta nos arredores da cidade. Éramos ambos professores do ensino primário — não tínhamos luxos, mas vivíamos confortavelmente — e, acima de tudo, amávamo-nos profundamente.
Então, a tragédia aconteceu, numa noite de fim de ano. A minha esposa foi atropelada por um veículo quando regressava do mercado. O impacto danificou gravemente a sua coluna, deixando-a paralisada da cintura para baixo. Ainda estava a dar aulas quando o hospital ligou. Corri imediatamente e, quando a vi, mal reconheci a mulher que amava — outrora cheia de vida — agora imóvel, com os olhos marejados e os lábios trémulos, incapaz de falar.
Desde esse dia, tirei uma licença prolongada do trabalho. Cada colherada de sopa, cada penso, cada vez que ela precisava de rodar o corpo ou limpá-lo — tudo era feito por mim. A nossa pequena casa transformou-se numa espécie de hospital improvisado, cheio de material médico, equipamento e o cheiro constante de desinfetante. Muitas pessoas bem-intencionadas sugeriram-me que a levasse a um centro de saúde. Eu simplesmente neguei:
"Ela é minha mulher. Eu cuido dela. Mais ninguém."
Dia após dia, acordava antes do amanhecer para cozinhar, limpar e cuidar dela, enquanto fazia pequenas reparações elétricas para ganhar algum dinheiro. À noite, sentava-me ao lado da sua cama, lia-lhe e massajava-lhe os membros, na esperança de que um dia os seus nervos voltassem a reagir. Uma vez, o seu dedo moveu-se ligeiramente — apenas um ligeiro tremor —, mas isso fez-me chorar. Parecia um milagre.
A minha esposa mal falava. Vivia em silêncio constante, por vezes concordando com a cabeça ou chorando baixinho. Interpretei-o como desespero — e também gratidão.
Nunca duvidei dela. Apenas senti dor.
Com o passar do tempo, até os nossos familiares deixaram de nos visitar com frequência. Alguns, sem rodeios, disseram-me que devia parar e reconstruir a minha vida. Eu nunca os culpei. Cuidar de um ente querido paralisado é uma estrada longa e solitária — nem todos têm forças para a percorrer consigo.
A nossa vida entrou numa rotina lenta e familiar. Até que chegou essa tarde...
Estava a caminho da casa de um cliente para um trabalho quando, de repente, me apercebi que me tinha esquecido da carteira. Lá dentro estavam documentos importantes e o pagamento que acabara de receber. Decidi voltar rapidamente, pensando que seria apenas um momento.
Mas assim que abri a porta... fiquei paralisado.
A luz do pôr do sol entrava pela janela antiga, banhando o quarto em tons dourados. E àquela luz, tudo estava exposto: uma cena tão chocante, tão inimaginável, tão imperdoável.
O quarto que durante cinco longos anos foi um símbolo de amor, devoção e esperança inabalável... agora ela traiu-me com uma verdade mais cruel do que eu alguma vez poderia imaginar.