20/06/2025
A última crise de Lungu: Família recusa repatriação e Governo encerra Luto Nacional
O antigo Presidente da Zâmbia, Edgar Chagwa Lungu, faleceu a 5 de Junho de 2025 em Pretória, África do Sul, vítima de complicações cardíacas durante uma cirurgia. O desaparecimento do sexto chefe de Estado zambiano provocou comoção no país e levou o Governo a decretar sete dias de luto nacional, mais tarde prolongados até 23 de Junho. Contudo, longe de unir a nação, a morte de Lungu tornou-se o centro de um diferendo político e familiar que ainda não foi resolvido.
Nos dias seguintes à sua morte, as autoridades zambianas e a família Lungu mantiveram contactos para organizar o regresso do corpo e realizar um funeral de Estado com honras militares. A 15 de Junho, ambas as partes anunciaram um acordo: o corpo seria repatriado no dia 18, seguir-se-ia uma cerimónia oficial e o enterro teria lugar a 23 de Junho no Cemitério Presidencial Embassy Park, em Lusaka.
Porém, o plano foi subitamente interrompido. Na manhã de 17 de Junho, dia em que a África do Sul preparava a despedida oficial com honras militares e escolta até ao aeroporto, o caixão não apareceu. Sem explicações públicas imediatas, instalou-se a confusão. Poucas horas depois, o advogado da família Lungu, Makebi Zulu, anunciou que a família tinha decidido suspender o repatriamento, alegando que o Governo não havia cumprido os termos acordados. Entre as exigências da família estavam o direito de escolher a rota do cortejo, o tipo de honras militares, e sobretudo a ausência do actual Presidente, Hakainde Hichilema, em todas as cerimónias fúnebres.
Segundo o advogado, essa era a vontade expressa pelo próprio Lungu em vida. A família considera que a presença de Hichilema seria uma afronta à memória do falecido, dada a rivalidade política entre ambos. O Governo, por seu lado, afirmou ter respeitado todos os protocolos e lamentou a recusa em repatriar o corpo, apelando à calma e ao respeito institucional.
A tensão atingiu novo patamar a 19 de Junho, quando o Presidente Hichilema decretou o fim do luto nacional, mesmo com os restos mortais de Lungu ainda retidos na África do Sul. Justificou a decisão com o argumento de que o país não podia permanecer em estado de luto indefinidamente e que as instituições deviam regressar à normalidade.
O gesto foi visto por muitos como um corte simbólico com o passado recente e uma forma de isolar a família Lungu no conflito. A oposição reagiu com críticas e acusações de insensibilidade. Já os apoiantes do Governo defenderam a necessidade de pôr fim à instrumentalização política do funeral.
Neste momento, o corpo de Edgar Lungu continua em território sul-africano. Não há nova data para o seu regresso, nem entendimento definitivo entre os dois lados. O impasse persiste, e o enterro do antigo Presidente está, por ora, suspenso.