24/07/2025
😭🙌🏽 muita realidade em só texto
Hoje não vim para entreter. Vim para falar uma verdade que dói, mas precisa ser dita: a diferença entre Fama e Dinheiro principalmente aqui, em Moçambique, o país onde eu nasci.
Antes de tudo, quero saudar todos os amantes da arte. A vocês que ainda acreditam no valor do artista, o meu respeito.
Agora vamos direto ao coração do problema.
Muita gente julga artistas que um dia foram grandes e hoje estão na miséria. Dizem: Como é que fulano que teve tanto sucesso hoje vive assim?
Mas quase ninguém para para perguntar: Como é que o sistema deixou isso acontecer?”
Aqui em Moçambique, o sucesso é barato. Pode-se conquistar com esforço, talento, ou até com um pouco de sorte. Mas riqueza verdadeira? Essa é quase um milagre.
Porque aqui, o sucesso não garante estrutura.
Aqui, fama não é sinônimo de estabilidade.
Aqui, quem brilha, brilha por pouco tempo e com luz emprestada.
Vivemos de aparência.
98% dos artistas vivem da ilusão que vocês acreditam. Usamos roupas emprestadas, tiramos fotos ao lado de carros que não são nossos, fazemos vídeos com sorrisos forçados…
E vocês pensam: Esse está feito.
Mas mal sabem que por trás daquela imagem há um ser humano cansado, frustrado, e muitas vezes… com fome.
Vou ser direto: o artista moçambicano sobrevive de migalhas.
Um show que parece grande, muitas vezes não paga nem o transporte digno e vocês só recebem a imagem do show grande que aconteceu.
Uma publicidade que vocês acham que dá milhões, às vezes paga com produtos e nem sempre úteis, salário uma Miseria.
Enquanto os artistas de outros países sobem com um contrato só, aqui a gente faz dez, e continua no mesmo lugar.
Rico, aqui, só f**a quem tem ajuda.
Quem tem alguém que puxa, que investe, que acredita e acompanha.
Sozinho? Nem talento chega.
Eu sou prova viva disso.
Se hoje ainda como, é porque alguém me estendeu a mão: Mangueze
Se não fosse ele, talvez eu estaria soterrado no esquecimento como muitos dos nossos.
Por isso, peço: não julguem o artista pela falência.
Julguem o país que não valoriza o que tem.
Julguem o sistema que consome a arte, mas nunca alimenta o artista.
Julguem os promotor de eventos que quer ver espetáculo, mas não quer saber do ser humano que o cria.
Muitos de nós hoje dormimos com fome.
Mas amanhã, voltamos a sorrir para a câmara porque é o que nos resta.
É o pouco que temos para continuar vivos.
E tem quem diz: “Eles não guardam o dinheiro.”
Mas me diz, como se guarda o que mal dá para viver o dia?
Guardar o quê, se nem temos o que comer hoje?
Essa é a nossa realidade.
Dura.
Crua.
Escondida atrás dos filtros do Instagram.
Mas hoje, eu vim dizer a verdade não por pena, mas por justiça.
Porque antes de sermos artistas, somos seres humanos.
Quem tem um vizinho artista… sabe exatamente do que eu estou a falar.
Sabe que por trás das luzes, das palmas e dos aplausos existe uma realidade dura, calada, e muitas vezes invisível.
Sabe que aquele vizinho que vocês aplaudem no palco, às vezes volta para casa a pé, com fome, e no silêncio do seu quarto chora por dentro.