22/12/2025
VEZES QUE A MÚSICA ME SALVOU
Teve fases em que eu acordava já cansado. Da cabeça que não desligava, peito apertado, sensação de estar atrasado na vida enquanto todo mundo parecia saber exatamente para onde ir.
Eu tentava falar. Mas quando abria a boca, ouvia risadas, comparações do tipo: "isso passa", "tem gente pior", "você pensa demais". E cada vez que minimizavam, eu aprendia a me calar mais um pouco.
Num desses dias, eu simplesmente subi num chapa. Nem olhei o destino. Sentei, encostei a cabeça na janela e coloquei os fones. A cidade passava rápido lá fora, mas por dentro tudo estava parado.
Foi quando uma música começou a tocar. Não era nova, não era famosa. Mas parecia escrita para aquele momento. A letra dizia o que eu nunca consegui dizer sem gaguejar. Falava de cansaço, de se sentir invisível, de aguentar mais do que se devia.
E ali, no meio do barulho da estrada, eu me senti compreendido pela primeira vez em muito tempo.
Aquela música não resolveu minha vida. Não apagou meus problemas. Mas me segurou. Me deu fôlego. Me fez pensar: "talvez hoje não seja o fim".
A música não me julgou. Não riu. Não pediu explicações. Só ficou comigo até o fim da faixa. E depois outra veio. E mais outra. Cada uma segurando um pedaço meu que estava prestes a cair.
Teve noites assim também. Deitado, olhando o teto, enquanto o mundo dormia. Todo mundo parecia ter alguém para ligar, e eu tinha só a playlist.
A música me salvou quando ninguém percebeu que eu estava afundando. Quando ser forte virou obrigação. Quando eu não tinha forças nem para pedir ajuda do jeito certo.
Esse desabafo não é para romantizar a dor. É para dizer que, às vezes, a força vem de onde a gente menos espera. E se hoje eu ainda estou aqui, respirando, tentando, é porque entre o silêncio e o caos eu dei play.