03/08/2025
𝐏𝐆𝐑: 𝐐𝐮𝐞𝐦 𝐞́ 𝐨 𝐕𝐞𝐫𝐝𝐚𝐝𝐞𝐢𝐫𝐨 𝐓𝐞𝐫𝐫𝐨𝐫𝐢𝐬𝐭𝐚?
𝐏𝐨𝐫 𝐉𝐞𝐫𝐫𝐲 𝐌𝐚𝐪𝐮𝐞𝐧𝐳𝐢
Nos últimos dias, o debate político em Moçambique tomou um rumo perigoso e revelador. A acusação de “terrorismo” contra o ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, por parte de órgãos ligados ao poder, levanta sérias dúvidas não apenas sobre o estado da democracia no país, mas sobre a manipulação do conceito de terrorismo para fins políticos. Afinal, quem é o verdadeiro terrorista?
Enquanto acusações controversas e politicamente motivadas ocupam os holofotes mediáticos, a verdadeira face do terror continua a assombrar o norte do país. Em distritos como Chiúre, milhares de famílias são forçadas a abandonar as suas casas, aldeias e machambas. Mulheres e crianças dormem ao relento, sem água, comida ou assistência médica. Escolas estão fechadas. Sonhos, interrompidos. E tudo isso, diante de um silêncio cúmplice, ou pior, de um Estado ausente.
𝐎 𝐮𝐬𝐨 𝐩𝐨𝐥í𝐭𝐢𝐜𝐨 𝐝𝐚 𝐩𝐚𝐥𝐚𝐯𝐫𝐚 “𝐭𝐞𝐫𝐫𝐨𝐫𝐢𝐬𝐦𝐨”
Acusar Venâncio Mondlane de terrorismo é, no mínimo, uma tentativa descarada de criminalizar a oposição. Em qualquer democracia madura, líderes da oposição têm o direito, e o dever, de fiscalizar, denunciar e propor alternativas. Quando esse direito é confundido com ameaça à segurança do Estado, a democracia já está sob ataque. Mas não é um ataque vindo de insurgentes armados: é um ataque interno, silencioso, feito a partir das instituições que deveriam proteger as liberdades civis.
A banalização da acusação de terrorismo revela algo mais profundo: 𝐨 𝐩𝐨𝐝𝐞𝐫 𝐭𝐞𝐦 𝐦𝐞𝐝𝐨 𝐝𝐚 𝐩𝐚𝐫𝐭𝐢𝐜𝐢𝐩𝐚𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐩𝐨𝐩𝐮𝐥𝐚𝐫.E diante desse medo, transforma a crítica em crime, a discordância em perigo nacional. Venâncio Mondlane, com todas as suas limitações, representa um apelo legítimo de muitos moçambicanos por um país mais justo, inclusivo e livre. Ao acusá-lo, estão, na verdade, a tentar silenciar todos os que ousam pensar diferente.
𝐎 𝐯𝐞𝐫𝐝𝐚𝐝𝐞𝐢𝐫𝐨 𝐭𝐞𝐫𝐫𝐨𝐫𝐢𝐬𝐦𝐨: 𝐟𝐨𝐦𝐞, 𝐝𝐞𝐬𝐥𝐨𝐜𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐞 𝐚𝐛𝐚𝐧𝐝𝐨𝐧𝐨
Enquanto isso, o verdadeiro terror continua a ser vivido em Cabo Delgado. Em Chiúre, crianças estão em risco de morte não por causa de balas, mas por falta de comida, água potável e medicamentos. Famílias inteiras vivem amontoadas em abrigos precários, com doenças a alastrar-se entre os deslocados. As escolas estão fechadas. Os professores fugiram. As crianças que sobrevivem ao conflito não têm garantias de futuro. Isso é ou não é terrorismo?
Se entendermos o terrorismo como um acto sistemático de violência que coloca populações em pânico, desestrutura comunidades e destrói as bases de uma vida digna, então é necessário olhar com mais seriedade para a situação humanitária em curso no norte. O abandono deliberado de milhares de cidadãos à própria sorte, sem protecção adequada do Estado, é uma forma brutal e contínua de violência institucional.
𝐃𝐞𝐬𝐥𝐨𝐜𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨, 𝐞𝐱𝐜𝐥𝐮𝐬𝐚̃𝐨 𝐞 𝐫𝐞𝐜𝐫𝐮𝐭𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐟𝐨𝐫𝐜̧𝐚𝐝𝐨
Essa violência não é apenas imediata. Ela é estrutural. Crianças e jovens expostos ao sofrimento extremo tornam-se alvos fáceis para os grupos armados. Sem escola, sem comida, sem horizonte, muitos são obrigados, ou convencidos, a juntar-se às fileiras da guerra. O terror, assim, não é apenas aquilo que mata, mas também aquilo que deixa viver num estado de sofrimento permanente.
Quem não tem acesso à educação, saúde, alimentação e dignidade é constantemente lembrado que sua vida vale pouco. Esse tipo de negligência é o terreno mais fértil para o radicalismo. Portanto, se quisermos verdadeiramente combater o terrorismo, o primeiro passo é garantir condições de vida básicas para todos os moçambicanos. É construir a paz a partir da justiça social, e não da repressão política.
𝐂𝐫𝐢𝐦𝐢𝐧𝐚𝐥𝐢𝐳𝐚𝐫 𝐯𝐨𝐳𝐞𝐬 𝐨𝐮 𝐬𝐚𝐥𝐯𝐚𝐫 𝐯𝐢𝐝𝐚𝐬?
O Estado moçambicano enfrenta hoje uma escolha histórica: pode continuar a perseguir opositores e alimentar o autoritarismo com narrativas de medo, ou pode investir seriamente na protecção da sua população, especialmente no norte, onde o sofrimento se tornou norma.
A perseguição a figuras da oposição, como Venâncio Mondlane, é um erro trágico de cálculo político. Ele não é o inimigo. Ao contrário, é um irmão, um filho da pátria, com ideias divergentes, mas que fazem parte do tecido democrático. Transformá-lo num “terrorista” enquanto verdadeiros crimes contra a humanidade acontecem no norte é uma inversão perversa da realidade.
A verdadeira ameaça ao Estado não são as críticas. É a fome. É o deslocamento forçado. É o abandono. É o uso selectivo da justiça. É o silêncio diante do sofrimento dos moçambicanos comuns.
𝐂𝐨𝐧𝐜𝐥𝐮𝐬𝐚̃𝐨: 𝐓𝐞𝐫𝐫𝐨𝐫𝐢𝐬𝐦𝐨 𝐞́ 𝐧𝐞𝐠𝐚𝐫 𝐡𝐮𝐦𝐚𝐧𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞
Terrorismo não é apenas o acto violento cometido com armas. É também negar humanidade. É manter crianças fora da escola. É deixar mães sem abrigo. É assistir ao sofrimento de um povo e responder com propaganda. E, talvez o mais cruel, é usar o medo para silenciar os que querem mudança.
𝐇𝐨𝐣𝐞, 𝐞𝐦 𝐌𝐨𝐜̧𝐚𝐦𝐛𝐢𝐪𝐮𝐞, 𝐨𝐬 𝐯𝐞𝐫𝐝𝐚𝐝𝐞𝐢𝐫𝐨𝐬 𝐭𝐞𝐫𝐫𝐨𝐫𝐢𝐬𝐭𝐚𝐬 𝐧𝐚̃𝐨 𝐬𝐚̃𝐨 𝐚𝐪𝐮𝐞𝐥𝐞𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐪𝐮𝐞𝐬𝐭𝐢𝐨𝐧𝐚𝐦 𝐨 𝐩𝐨𝐝𝐞𝐫, 𝐦𝐚𝐬 𝐨𝐬 𝐪𝐮𝐞 𝐨 𝐮𝐬𝐚𝐦 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐬𝐮𝐟𝐨𝐜𝐚𝐫 𝐚 𝐞𝐬𝐩𝐞𝐫𝐚𝐧𝐜̧𝐚 𝐝𝐞 𝐮𝐦 𝐩𝐨𝐯𝐨. 𝐄𝐬𝐭𝐚́ 𝐧𝐚 𝐡𝐨𝐫𝐚 𝐝𝐞 𝐦𝐮𝐝𝐚𝐫 𝐨 𝐟𝐨𝐜𝐨 𝐝𝐚 𝐠𝐮𝐞𝐫𝐫𝐚. 𝐀 𝐥𝐮𝐭𝐚 𝐪𝐮𝐞 𝐫𝐞𝐚𝐥𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐢𝐦𝐩𝐨𝐫𝐭𝐚 𝐞́ 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐚 𝐚 𝐩𝐨𝐛𝐫𝐞𝐳𝐚, 𝐚 𝐞𝐱𝐜𝐥𝐮𝐬𝐚̃𝐨 𝐞 𝐚 𝐢𝐧𝐝𝐢𝐟𝐞𝐫𝐞𝐧𝐜̧𝐚.