26/07/2025
O complô dos mesmos
(AEMO sem saber escrever roteiros diferentes)
Dizem que eleições são a festa da democracia. Mas, se for verdade, as nossas festas são sempre no mesmo salão, com os mesmos convivas e a mesma música desafinada. Das eleições gerais de 2024, marcadas por protestos e contestações, à CTA, onde a disputa empresarial foi mais parecida com briga de família que com debate de ideias, o enredo tem sido previsível: um teatro onde todos fingem surpresa no final.
Chegamos agora à AEMO, Associação dos Escritores Moçambicanos, e, se alguém esperava um sopro de frescura literária, enganou-se no endereço. O que vimos foi mais um capítulo da mesma novela, só que sem o protagonista de antes. Carlos Paradona, secretário-geral reeleito em 2021 num processo que ficou célebre pela gritaria, acusações de complô e insultos a escritores até então considerados idóneos, decidiu não concorrer este ano. A saída dele do palco parecia abrir espaço para uma renovação. Parecia.
Porque o fantasma de Paradona pairou sobre cada voto. O trauma da eleição anterior, que dividiu a associação em bandos e deixou feridas abertas, não foi esquecido. Pior: os mesmos nomes envolvidos no tal “complô” de 2021, acusados de manobrar bastidores para garantir a vitória do secretário-geral, agora surgem em lados opostos. Os que antes eram cúmplices hoje atiram pedras uns aos outros com a mesma convicção poética de quem recita versos num campo de batalha.
E assim seguimos, num ciclo de repetições que mistura política e literatura em doses iguais de tragédia e farsa. A assembleia da AEMO de 2025 foi anunciada como momento de viragem, mas soou mais a eco: discursos inflamados prometendo mudança, velhos ressentimentos reciclados, a mesma sensação de déjà-vu. O espelho da democracia, já rachado nas gerais e na CTA, quebrou-se de vez no corredor dos escritores.
No fim, a pergunta permanece: será que um dia vamos trocar o guião ou continuaremos a repetir, com actores fatigados, a mesma peça? Até lá, seguimos aplaudindo o espectáculo dos mesmos – e rindo para não chorar.
por Leonel Matusse Jr.