15/05/2023
O MEU DIAGNÓSTICO:
Muitos assumem que o diagnóstico de doença celíaca (DC) acontece quando somos bebés. A verdade é que não é bem assim e eu sou exemplo disso.
Mas antes de vos contar um pouco da minha história, devo apresentar-me, certo?
Eu sou a Ana, tenho 35 anos e sou alentejana de gema.
Tive uma infância feliz, cheia de liberdade e sem grandes sobressaltos. No entanto, queixava-me com frequência de dores ósseas. Os médicos sempre indicaram que era normal, afinal estava em crescimento. Acontece que, ao longo dos anos, a situação tornou-se mais difícil de suportar. Era cada vez mais difícil caminhar. Mas como diagnosticar DC sem os sintomas ditos comuns (gastrointestinais)?
Quando tinha cerca de 26 anos, aos poucos, comecei com os tais sintomas comuns. Durante meses fui alterando a minha dieta de modo a evitar comida que pudesse potenciar o meu mal-estar, mas havia algo que estava sempre presente: o pão e os cereais.
Desde o momento que tive consulta com a médica de família até ao diagnóstico não passou muito tempo. Lembro-me de dizer “penso que sou intolerante ao glúten” e de ouvir “Ana, vamos fazer análises específicas para a DC”. Naquele momento não tive consciência da mudança que haveria na minha vida caso tivesse um diagnóstico positivo. Diagnóstico esse que tardou uns meros dias.
E agora? Faltavam quatro dias para regressar ao Reino Unido e começar o meu doutoramento. A situação não era a melhor naquele momento, mas a minha teimosia falou mais alto. Mudei de país, num estado vulnerável. Estava prestes a começar um sonho, mas mal sonhava eu que a minha investigação principal seria aquela que me manteria viva e, acima de tudo, saudável.
Posso dizer que demorei uns bons meses até me voltar a sentir “eu”. Mas posso também dizer que aceitei o desafio de bom grado e a dieta isenta de glúten sempre foi seguida à risca.
Com o tempo percebi que não era um “bicho de 7 cabeças”. Tinha o privilégio de conseguir controlar o meu tratamento, o único.
Adaptar receitas, procurar ingredientes novos, descobrir restaurantes seguros. Descobri que afinal a comida sem glúten podia ser deliciosa! Na altura, decidi criar a minha página . Tinha de mostrar que era possível descomplicar esta doença e ter uma vida normal dentro dos cuidados exigidos.
É sempre esta a mensagem que tento deixar: é possível ter DC, ser saudável e aproveitar a comida tanto, ou melhor, como as pessoas com uma dieta dita normal.