26/12/2025
É finais de 1941, e Daniel Kahneman, de sete anos, ficou em casa de um amigo depois do recolher obrigatório. Antes de se apressar a regressar a casa pelas ruas vazias da Paris ocupada pelos n***s, vira a camisola do avesso, escondendo a estrela amarela de David cosida à frente.
Quando um soldado alemão, com uniforme das SS, o avista na rua e lhe faz sinal, Daniel f**a aterrorizado, com medo de que ele consiga ver a estrela amarela através da camisola. Mas, em vez de o prender, o soldado pega nele ao colo e abraça-o. Depois de o pousar no chão, fala-lhe em alemão e, muito emocionado, abre a carteira para lhe mostrar a fotografia de um menino pequeno, mais ou menos da sua idade. O n**i, em lágrimas, entrega-lhe então algum dinheiro da carteira e manda-o seguir o seu caminho.
Esse momento deixou-lhe uma pergunta que o acompanharia durante o resto da vida: como pode uma pessoa ser capaz de ternura e de atrocidade ao mesmo tempo? Como pode uma mente albergar verdades mutuamente exclusivas sem colapsar?
Décadas mais tarde, Kahneman e o seu colaborador de toda a vida, Amos Tversky, demonstraram que os seres humanos não são, de forma sistemática, seres racionais. Na verdade, somos inteiramente (e previsivelmente) irracionais. Os seus estudos mostraram que os nossos cérebros estão construídos para recorrer a atalhos (chamados heurísticas), que conduzem a erros que cometemos repetidamente. Não é que sejamos preguiçosos; é que confundimos esses atalhos com intuição ou compreensão profunda.
O que eles descobriram reformulou a psicologia e alterou a forma como entendemos o julgamento em áreas como a medicina, o direito, as finanças e a política.