11/08/2025
PARTILHA DO DIA
(11 agosto 2025)
Aqui estou. Neste recanto português, lindo, mágico, que devia ser apenas silêncio e cor, no primeiro dia de férias. Trouxe as malas, fatos de banho, livros... e trouxe, inevitávelmente, o turbilhão, porque esse sou eu.
Há anos não me sentia tão esgotada.
Uma exaustão que são os ossos, uma tristeza que é nevoeiro. E o trabalho?
Pois, o trabalho. Porque quando a empresa é nossa, as férias são miragem.
Todos partem, os líderes f**am.
Ou melhor: o corpo parte, a mente f**a. Presa no escritório invisível que carrego entre as têmporas.
E nem seria preciso o trabalho. A minha mente, companhia mais antiga e mais feroz, tem turbulência própria. Imparável.
Será traço? Doença? Talvez seja apenas... eu. A Isabel.
Aceito. E sigo. Mudar de lugar acalma os olhos, mas a cabeça vem na bagagem de mão. E é aqui, entre esta vista deslumbrante e o ruído interno, que trabalho a solo na minha grande obra: encontrar paz. Desapegar. Respirar fundo quando tudo cá dentro grita "anda!".
Porque continuo a ser. Mulher. Profissional. E, sobretudo, MÃE. Este papel, sagrado e devorador, é o que mais me expõe à náusea quando a sensação de fracasso vem à tona da pele e da alma. Ser suficiente? Nunca me sinto. Aspiro à perfeição? Como mãe... sim. Desesperadamente. Quis tanto acertar. Queria ser porto seguro, mapa infalível.
Mas os anos voaram, as minhas estrelas já são jovens mulheres, e o eco dos meus erros – passados, presentes – é uma sinfonia constante nos meus ouvidos. Errei tanto. Erro tanto. E lidar com esta verdade crua, sem almanaques, sem manuais, é a solidão mais funda.
A jornada é minha, e às vezes sinto-me náufraga no próprio barco que construí.
Elas estão bem? Vão estar? São felizes? O que posso fazer mais?
As frases que ruminam o meu cérebro diariamente. Aqui, em casa, no fim do mundo.
Profissionalmente?
Os últimos meses foram um terramoto. Deitaram por terra toda a minha autoestima. A que se julgava granito, revelou-se areia. Não impus limites durante anos. Disse "sim" quando a alma já rangia "não". E o corpo, sábio e cansado, começou a gritar. Bem alto. O resultado? A doença… Esta sensação perene de estar “aquém”. Aquém do que é preciso para continuar a ser boa, orgulhosa, forte. Aquém da líder que um dia fui.
E eis-me. Primeiro dia. Neste pequeno paraíso de beleza brutal. Sozinha. Com a paisagem a desafiar a tempestade cá dentro. Com tarefas por terminar (sempre elas). E com o coração pesado, a interrogar-me: onde falhei e falho como Mulher? Profissional? Filha? Amiga? Onde falho como mãe?
Elas foram almoçar com o pai, rir na piscina, tentar desfrutar. E eu devia estar lá. Será o trabalho apenas a desculpa perfumada para a solidão que o meu coração, exausto, pede? Talvez... Talvez... Um refúgio involuntário da própria vida que tanto amo e que tanto me consome.
Mas hoje... hoje tento. Tento f**ar calma. Respirar. Fundo. Devagar.
Repito, como um mantra frágil:
Nem tudo precisa acertar-se agora.
A vida não é perfeita, mas é feita de ciclos. Belos, dolorosos, imprescindíveis.
O que é meu, talvez me encontre. O que não é, talvez se afaste.
E eu... não posso fugir de mim. Não há ilusões que valham. A viagem é para dentro.
E gostava, oh como gostava, de acreditar plenamente que quem planta com amor não teme a colheita. Mas confesso: tenho medo. Todos os dias. Medo de não ter plantado o suficiente, ou da maneira certa. Medo da geada inesperada. Medo que a colheita reflita apenas os meus tropeções.
Estou em retirada autistica meus amigos.
A fugir do ruído do mundo para tentar ouvir o silêncio cá dentro. Mas mesmo na retirada, partilho e partilho-me. Porque talvez a vossa tempestade ecoe na minha, e saber que não navegamos sós... já é uma réstia de SOL.
Agora vou respirar fundo. Olhar a paisagem. Aceitar que hoje, aqui, estou assim. Frágil. Pensativa. Cansada e “bichinho do mato”. Mas viva. E nestes gestos simples, há uma revolução silenciosa.
Há esperança.
Com amor (e um suspiro, agora menos pesado)!
Isabel Rodrigues Valente 🌻