23/11/2025
REFORMADA POR INVALIDEZ - Quando a vida é insuportável
Quando digo que estou “reformada”, com esta idade, muita gente imagina conforto, escolhas, sucesso fácil. Não imaginam que não foi uma opção. Foi uma invalidez que me empurrou para aqui.
A diferença está na qualidade de vida: uma reforma apertada,… e um carimbo invisível de inutilidade. Estou oficialmente reformada por invalidez há quatro meses. E nada nisto tem glamour. Não me imagino muito mais tempo assim. É insustentável.
Se eu ainda conseguisse limpar a minha casa, cozinhar uma refeição, arrumar o que fosse, pôr uma máquina a lavar… mas não. O meu corpo não permite. Obriga-me a ficar deitada 23 horas por dia, a olhar para o tecto e a pensar na vida que já não tenho. No que perdi. No que deixei de fazer. No rendimento que já não trago para a minha família. Na profissão que me definia e que já não posso exercer.
Hoje saí 30 minutos. Quinze deles numa cadeira de rodas elétrica, onde basta carregar num botão. Mesmo assim, ao fim de 15 minutos o meu marido teve de ir buscar o carro porque eu já não estava capaz de voltar. Indisposição. Tonturas. Visão turva. Fraqueza. Aquele momento em que sabes que vais desmaiar se insistires mais um pouco.
E depois vem a culpa. A culpa de sentir que, por minha causa, o passeio em família tem de acabar antes do tempo. A culpa de ser o peso que nunca quis ser.
Não vivo. Existo. E dói. Inútil. Inútil. Fardo.