22/10/2025
Pedra Basilar de Nacionalidades: Cândido de Figueiredo, 100 Anos Depois
"Mas hão de rodar os séculos, e nas páginas eternas do grande livro dos nossos bisnetos, talvez se não soletrem os nomes dos políticos de hoje, mas se encontrem, por certo, na primeira fila dos defensores da língua – pedra basilar de todas as nacionalidades – o nome de Cândido de Figueiredo."
Estas palavras, de 7 de Outubro de 1925, ganham uma urgência devastadora nos nossos dias.
A língua portuguesa está a morrer. Não de golpe, mas de mil pequenas mortes quotidianas. Nas nossas conversas vazias. Nos nossos livros simplificados. Nas traduções apressadas. Nas aulas reduzidas à técnica. Nas comunicações corporativas que ninguém compreende. Nos pensadores portugueses que publicam em inglês. Nas nossas crianças que adotam brasileirismos...
Simultaneamente, as máquinas colonizam a nossa expressão. Adotamos "download" em vez de "descarregar". Transformamo-nos em espetadores passivos das nossas próprias vidas. Delegamos à IA o que deveria ser o nosso pensamento mais profundo.
Mas Cândido de Figueiredo continua a falar-nos, com urgência: a defesa da língua portuguesa é a defesa da nossa capacidade de sermos portugueses, de pensarmos profundamente, de resistirmos à homogeneização global, de termos identidade, de sermos.
Isto não é xenofobia. É vigilância e coragem. É coragem de dizermos "não" ao caminho fácil, de defendermos a nossa dama, a língua portuguesa. É escolhermos a profundidade quando tudo nos pressiona para a superficialidade e abandono.
Há, portanto, uma invasão silenciosa do dragão dos estrangeirismos, da linguagem mecânica das máquinas, da IA que elimina a singularidade, da nossa transformação em espetadores, e da pobreza sistemática que invadiu cada aspeto da nossa língua.
Face a isto, a pergunta é simples: de que lado estamos?
Do lado do esquecimento acelerado, ou ao lado de Cândido de Figueiredo, daqueles que insistem que a língua importa, que a profundidade importa, que ser-se português importa, que ter-se identidade importa?
A pedra basilar do que somos permanece enquanto houver portugueses que insistam em ser plenamente portugueses através da sua língua.
́nguaportuguesa ̧ão