05/12/2025
Hoje foi sem dúvida um dia cinzento.
Logo agora que tinha decidido, que a cor podia fazer parte da minha vida, apesar de tudo.
Começou logo de manhã no trabalho, quando vi a Mariana com umas olheiras enormes e lhe perguntei o que tinha.começou a contar como o seu filho, apesar de ter dois anos ainda não a deixa dormir, não a deixa comer, não a deixa fazer nada. Contou-me ao pormenor o que se passou na noite passada, parecia cansada só de contar.
Suspirou, olhou para mim e disse que eu tinha sorte, pois não imaginava como é difícil ser mãe. Antes de começarmos a trabalhar, ainda me lançou um : aproveita bem a tua vida assim.
Na hora de almoço do trabalho, peguei no meu espelho de bolso, costumo fazê-lo para me certificar que a maquiagem ainda não borrou, vejo-me com olheiras também, o que me faz lembrar que hoje de manhã não devia ter perguntado pelas olheiras.
O Gustavo que estava a comer sabe-se lá o quê,não se conteve a meter conversa:
⁃ ui que olheiras, o teu homem não te deixa dormir. Não me digas que andam nos treinos.
Apetece-me responder-lhe com sinceridade, e dizer-lhes que sempre que adormeço a chorar fico com os olhos naquele estado, mas quando abro a boca sai-me um: sabes como é. Enquanto sorrio
A Júlia lá do fundo, como se a conversa fosse dela, afirma como se fosse uma verdade absoluta que já não é sem tempo que eu e o meu marido tenhamos filhos, afinal de contas já estamos casados há 7 anos.
Pergunto-me por dentro porque raio anda ela a contar os meus anos de casada, mas o meu sorriso mantém-se na minha cara e atiro um : qualquer dia.
Fico sem apetite, acabo por deitar fora mais que metade do que trouxe.
Volto a trabalhar e na hora de saída apresso-me a ir visitar a Vera.
Chego a casa da Vera que acabou de ser mãe, ainda não a visitei desde esse dia.
Entro no quarto do bebé, todo rosa; mas na minha cabeça só vejo cinzento, tem aquele boneco a tocar uma música de embalar doce, mas nos meus ouvidos soa a uma melodia tão triste.
Conheço a Inês, e vejo cor, é realmente a coisa mais fofa que já vi, e por isso volto a ver cinzento.
A Vera começa a contar uma data de coisas complicadas, mas remata com um : mas vale a pena, a sério, é o melhor do mundo. Tens que ter filhos.
É aí que digo que tenho que ir embora.
Chego a casa e ele ainda não chegou, ainda bem, assim não tem que me ver mais uma vez cinzenta, afinal, nem ele nem ninguém do meu dia, tem culpa que eu não consiga ter filhos.
Assinado : alguém por aí