
08/04/2025
HAVEMOS DE AGRADECER UM DIA
Passear em Viana e não ouvir Amália Rodrigues cantar é a mesma coisa que ir a Roma e não ver o Papa. Ela continua a ser a voz de Portugal e, naturalmente, da cidade capital do Alto-Minho. As canções que dedicou a Viana são inultrapassáveis na identificação com o espírito de um povo e de uma terra.
“Havemos de ir a Viana” é e será sempre o hino da bela cidade banhada pelo rio Lima. Com o mar e a montanha a completarem o cenário que é fruto da divindade, qualquer que ela seja, e não dos homens.
É demasiada perfeita para tanto. E a prova disto mesmo está no que os vianenses têm feito dela. Não que a tenham desfeado como se vê noutras paragens. Mas poderiam, com a natureza que lhe foi oferecida, fazer algo muito superior em termos de desenvolvimento sustentado.
Falar de Amália implica por todas as razões invocar Pedro Homem de Mello, o autor das letras cantadas pela inesquecível fadista. Ele é o poeta da segunda metade do século XX vianês. E um dos grandes de Portugal. Gostava deste espaço de terra e de mar identificando-o nas cores verde, azul e vermelho (do coração). Amou Viana mais que muitos naturais desta região.
E recebeu, em troca, logo na morte e durante muito tempo, o esquecimento. O enterro na aldeia de Afife, por sua vontade expressa, constituiu uma das maiores vergonhas vividas em terras do Alto-Minho.
Era de direita. Não merecia a homenagem que se dá aos grandes homens.
E que dizer de Alain Oulman, o autor da música de que temos vindo a falar?
Nenhuma das três personalidades referidas nestas linhas recebeu, ao fim deste tempo todo, a homenagem que lhes é merecida. Na falta de mais imaginação, pelo menos a perpetuação dos seus nomes em ruas de destaque da cidade, seria o mínimo.
A antiga rua Cândido dos Reis – a mais bela de Viana – deveria chamar-se Pedro Homem de Mello. Na insistência em chamar-lhe de Passeio das Mordomas da Romaria, então, pelo menos, que substituíssem o nome de Emídio Navarro pelo do poeta.
Por sua vez, a rua que foi destinada à Amália Rodrigues, embora se compreenda as razões da escolha, está escondida no casco antigo da urbe vianesa, longe de qualquer circuito turístico.
Quanto ao Alain Oulman, coitado, ninguém se lembrou dele. Ai Viana, Viana...
Francisco Sérgio Barros
(Os bonecos da fotografia estão expostos na montra de uma casa de artigos de marriquonaria pertencente a uma conhecida marca)