
20/09/2025
Cozinhar com o coração nas mãos facilita muito esta tarefa, enfim, de amar os outros através da nossa cozinha. É também vangloriar o que faz parte da nossa história alimentar e raízes.
No final, nem sempre obtemos o prato mais instagramável, mas em cada garfada, e neste caso em particular, sente-se um aroma incrível provindo do nosso monte, que por altura de maio está florido de carqueja e urze.
O que hoje vos apresento, é aos meus olhos e gosto envelhecido uma refeição soberana, diria até suprema, e parte do receituário mais antigo do nosso Alto Minho.
Um prato intenso, imenso e que necessita de pouquíssimos ingredientes comuns a tantas outras receitas que por aqui andam.
Não conheço nenhum restaurante que o prepare (pronunciem-se caso conheçam algum), talvez por ser um prato apenas para apreciadores, de uma geração que está a desaparecer. Também pela mudança dos tempos, rituais do quotidiano e consequentemente dos hábitos alimentares.
Para que não se percam estas relíquias nos livros ou memórias dos mais velhos, este arroz de lebre, com valor acrescentado pela infusão de carqueja da nossa Serra Amarela, está agora perpetuado no meu Colheita de Memórias.
Com o fervor de mostrar e incentivar a todos, mesmo que poucos, o esplendor da nossa cozinha quase esquecida, com o uso de ingredientes bravios, tal como este lepus, cuja captura autorizada decorre entre setembro e fevereiro.
Receita da pág. 130 à 133 do meu livro Colheita de Memórias, que poderão adquirir aqui: https://bit.ly/3UGEmTG
Fotografia: