26/10/2024
Além Tejo
Talvez sejam recordações da minha infância… quem sabe. Mas boas memórias, certamente.
Recordar aquela paisagem dourada, do mui nobre Alentejo, pontilhado de quando em vez do verde de um ou outro sobreiro. Sombra sobejamente necessária para quem labuta nesta terra fustigada pela suprema fúria de Hélios, que castiga homem e besta de tal forma que quem aqui anda ande sedento de tal local fresco.
As roupas escuras de quem desta terra tira sustento tentam expulsar o calor abrasador deste local, mesmo que a tarde já vá longa.
Trigo e centeio… searas a perder de vista… tostadas e prontas para a ceifa.
No suor de cada rosto está espelhado uma vida cheia.
Por estas terras ecoam melodias antigas cuja origem já esquecida não importa a quem as canta, que apesar do cansaço não deixam de sorrir nem de cumprimentar alegremente quem por elas passa.
Aprendi desde muito cedo de que quem muito trabalha e ganha o pão de cada dia com sacrifício é, geralmente, bastante feliz, mesmo que o bolso não reflita o esforço.
Gente sofrida, mas sempre com uma melodia nos lábios e um sorriso nos olhos… Calorosos e versados na arte de bem receber e bem tratar.
Pedia-me a contemplar aquela paisagem, e aquele céu azul sem fim…
Não teria mais de dez anos… mas a memória está tão viva hoje como naqueles dias…