28/03/2025
QUANDO O FEMINICÍDIO ATINGE A MULHER FORA DE SEU CORPO
“Fiz uma loucurinha”, disse o assassino de Theo, de apenas cinco anos, em ligação para alguém da família. Para a sua ex-companheira e mãe do menino, de quem planejava se vingar, Tiago (40) enviou a mensagem: “Aguenta o coração para o resto da vida, atirei o Theo debaixo da ponte agora”.
Em depoimento à polícia, Tiago teria dito que matar o filho era o Plano B, porque o plano A seria matar a ex-companheira e “todos os seus namorados”. Eles estavam separados desde novembro passado, mas o homem não aceitava.
Inconformidade com a separação é uma das motivações mais alegadas por feminicidas para matar. Mas é preciso atentar para a verdade que poucas pessoas estão dispostas a encarar: feminicídio é um CRIME DE ÓDIO.
No Caso Theo, ocorrido em São Gabriel-RS na última terça-feira (25), o alvo não era ele, e podemos entender como um feminicídio correlato ou FEMINICÍDIO PASSIVO. Ele só se tornou alvo e vítima porque o alvo era sua mãe.
O ódio desse homem era tanto que ele escolheu uma tortura continuada, permanente, uma morte em vida para castigar Abigail porque ela não o queria mais. Não há descontrole ou forte emoção, há planejamento e orquestração do crime e ele mesmo declarou à polícia: “A mãe dele tem que pagar um pouquinho para depois eu me arrepender”.
Ele tem certeza do que fez, já tinha tentado por esganadura na noite anterior, não demonstra arrependimento, apenas o desejo de fazer sofrer. Usou a vida do “filho” meramente como um meio para consumar sua vingança.
Neste cenário, a única conclusão é que se trata de um FEMINICÍDIO. Um feminicídio fora do corpo de Abigail, que enfrentará a morte em vida, tal como seu algoz selou o seu destino.
Esse caso nos traz a URGÊNCIA de estender as Medidas Protetivas de Urgência (MPU) aos filhos. Um agressor não é um bom pai e para proteger de fato a vida das mulheres é preciso também salvaguardar a vida de seus filhos.
(texto: Niara de Oliveira)
[a imagem está descrita].
imagem com fundo claro com as logomarcas da Fundação Luterana de Diaconia e Coletivo Feminino Plural no alto à esquerda, um girassol no alto à direita com uma pétala vermelha que cai e se transforma numa pingo de sangue e mancha de vermelho os girrassóis desenhados na borda de baixo; no centro a frase CASO THEO: UMA FORMA INDIRETA DE MATAR UMA MULHER e a indicação para ler o texto na legenda e logo abaixo as logomarcas do Levante Feminista Contra o Feminicídio, o Lesbocídio e o Transfeminicídio, da Lupa Feminista e do Querela Jornalistas Feministas.