05/02/2025
Os jagunços foram figuras marcantes na história do Brasil, especialmente no período entre os séculos XIX e XX. No entanto parece persistir até hoje. Eles surgiram como forças paramilitares que prestavam proteção a lideranças políticas e proprietários de terras em uma época onde a segurança pública era insuficiente ou ineficaz, principalmente no sertão nordestino e no interior do país como Mato Grosso. O termo "jagunço" tem origem no quimbundo "junguzu" ou no iorubá "jagun-jagun", ambos significando "soldado".
Os jagunços ganharam notoriedade durante a Guerra de Canudos, no final do século XIX, quando muitos sertanejos aderiram à luta ao lado de Antônio Conselheiro. Além disso, tiveram participação ativa na Guerra do Contestado e no combate à Coluna Prestes. Muitas vezes, atuavam como pistoleiros a serviço de coronéis e líderes políticos, participando de vinganças e disputas por terras e poder.
Os jagunços eram essencialmente indivíduos que empunhavam armas para proteção própria, de sua família ou de seus bens, eles andava de cara feia pelos cantos dos eventos. Contudo, com o tempo, passaram a servir aos interesses dos coronéis e governantes locais, garantindo a manutenção do poder dessas figuras. Com a chegada da República, sua função tornou-se ainda mais evidente, sendo usados para garantir a influência política dos poderosos nas regiões mais remotas do país.
Os jagunços eram, em muitos casos, criminosos que encontravam refúgio sob a proteção de grandes latifundiários, passando a prestar serviços diversos, como segurança privada, lida de gado e pistolagem. Alguns, porém, atuavam de maneira autônoma, sem vínculos diretos com chefes políticos, o que levou à confusão entre jagunços e cangaceiros.
No Centro-Oeste, onde a figura do jagunço se mesclava à do pistoleiro de aluguel, surgiu a lenda do Camisa de Couro. Contam que esse homem, cujo nome verdadeiro nunca foi confirmado, era um antigo peão de boiada que se tornou pistoleiro a serviço de coronéis do Mato Grosso e de Goiás. Ele era conhecido por sua habilidade no manejo do rifle Wi******er e pela coragem em duelos armados.
Sua fama se espalhou pelos rincões do Brasil Central, tornando-se uma figura temida tanto pelos jagunços quanto pelos fazendeiros que tentavam resistir à influência dos coronéis.
Com a modernização do Brasil e a centralização do poder estatal, os jagunços perderam espaço e muitos passaram a atuar como pistoleiros independentes. O fenômeno da pistolagem ainda persistiu no século XX, especialmente no Centro-Oeste e no Nordeste, mas foi gradativamente sendo combatido pelas forças de segurança do país.
Ainda hoje, lendas como a do Camisa de Couro resistem na memória popular, lembrando um período em que a lei do mais forte dominava os sertões e fazendas do Brasil. O legado dos jagunços, embora frequentemente associado à violência, faz parte da história da formação política e social do país.
Atualmente, são as milícias contemporâneas, formadas principalmente por policiais e ex-policiais, representam uma evolução do fenômeno dos jagunços, adaptada à realidade urbana e política do Brasil moderno. Assim como os capangas do passado, esses grupos atuam à margem da lei, oferecendo "proteção" a políticos, empresários e territórios, muitas vezes por meio da coerção e da violência. Em estados como Rio de Janeiro, São Paulo e diversas regiões do Centro-Oeste, essas milícias controlam comunidades inteiras, impondo regras próprias e explorando atividades ilícitas, como extorsão, grilagem de terras e até mesmo assassinatos por encomenda. O legado dos jagunços e pistoleiros do sertão se mantém vivo na figura desses novos mercenários urbanos, que operam com a mesma lógica de poder e medo que marcou o coronelismo no Brasil.
A atuação das milícias no Brasil contemporâneo pode ser comparada diretamente com os jagunços do passado. Assim como os capangas dos coronéis, as milícias exercem controle territorial e político, oferecendo "proteção" em troca de vantagens econômicas e favorecimento. No entanto, diferentemente dos jagunços, que operavam em zonas rurais e eram recrutados por grandes latifundiários e políticos locais, as milícias urbanas têm forte presença em cidades grandes e atuam de maneira mais estruturada, utilizando redes de influência dentro do próprio aparato estatal.
Os jagunços, desde o século XIX, eram símbolos do poder paralelo no sertão brasileiro, impondo respeito e medo pela força das armas. Essa tradição de violência perdurou ao longo do tempo e se manifesta até hoje na prática da pistolagem em algumas regiões do país. Muitos conflitos por terras, especialmente na Amazônia e no Centro-Oeste, ainda são resolvidos por meio da contratação de pistoleiros, perpetuando a cultura de impunidade e uso da força como mecanismo de domínio.