26/10/2025
𝗜𝗦𝗢𝗥𝗥𝗢𝗦𝗔 𝗥𝗢𝗤𝗨𝗘: 𝗔 𝗙𝗢𝗥𝗖̧𝗔 𝗙𝗘𝗠𝗜𝗡𝗜𝗡𝗔 𝗡𝗔𝗦 𝗔𝗥𝗧𝗘𝗦 𝗖𝗘́𝗡𝗜𝗖𝗔𝗦 𝗔𝗡𝗚𝗢𝗟𝗔𝗡𝗔𝗦
𝗔 𝗻𝗼𝘃𝗮 𝗴𝗲𝗿𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 𝗱𝗲 𝘁𝗮𝗹𝗲𝗻𝘁𝗼, 𝗽𝗿𝗼𝗽𝗼́𝘀𝗶𝘁𝗼 𝗲 𝗿𝗲𝘀𝗶𝘀𝘁𝗲̂𝗻𝗰𝗶𝗮.
Ela é presença, entrega e emoção. Nos palcos e diante das câmaras, Isorrosa Roque, nome artístico de Isoleth Rosa Laurindo, representa uma nova geração de mulheres que transformam a arte em voz, coragem e identidade. Natural do Huambo, actriz e mentora do Projecto Sonho Arte, ela tem conquistado o público com a sua autenticidade e sensibilidade. Nesta entrevista à FOCO Moda, fala da sua trajectória, dos desafios da arte em Angola e da sua crença inabalável no poder transformador da representação.
𝗤𝘂𝗲𝗺 𝗲́ 𝗜𝘀𝗼𝗿𝗿𝗼𝘀𝗮 𝗥𝗼𝗾𝘂𝗲?
Sou actriz, licenciada em Teatro com especialidade em actuação cénica, bacharel em Direito, professora e CEO do Projecto Sonho Arte. Sou natural do Huambo, primogénita de seis irmãos e sempre tive uma conexão profunda com a arte. Comecei a cantar, depois a dançar e desenhar, mas foi na representação que encontrei o meu maior amor. Os filmes, novelas e programas de humor inspiraram-me a seguir esse caminho com determinação.
𝗤𝘂𝗮𝗻𝗱𝗼 𝗻𝗮𝘀𝗰𝗲𝘂 𝗼 𝘁𝗲𝘂 𝗲𝗻𝗰𝗮𝗻𝘁𝗼 𝗽𝗲𝗹𝗮𝘀 𝗮𝗿𝘁𝗲𝘀 𝗰𝗲́𝗻𝗶𝗰𝗮𝘀?
Entre 2004 e 2005, quando comecei a imitar as novelas e séries que assistia. Só em 2009 entrei efectivamente no mundo do teatro, e desde então nunca mais parei.
Relativamente a minisérie da qual está participando…
𝗖𝗼𝗺𝗼 𝘀𝘂𝗿𝗴𝗶𝘂 𝗼 𝗰𝗼𝗻𝘃𝗶𝘁𝗲 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝗳𝗮𝘇𝗲𝗿 𝗽𝗮𝗿𝘁𝗲 𝗱𝗮 𝗺𝗶𝗻𝗶𝘀𝘀𝗲́𝗿𝗶𝗲 “𝗔 𝗘𝘀𝘁𝗮𝗹𝗮”?
Foi um presente inesperado do realizador Dorivaldo Cortez. Coincidentemente, no dia em que o meu pai completava um mês de falecimento, recebi a mensagem com o convite e a sinopse. A história retratava o quotidiano de funcionários bancários, o que foi a vida do meu pai durante trinta anos. Não consegui dizer não, senti como um sinal e aceitei o papel como forma de homenageá-lo.
𝗤𝘂𝗲𝗺 𝗲́ 𝗮 𝘁𝘂𝗮 𝗽𝗲𝗿𝘀𝗼𝗻𝗮𝗴𝗲𝗺?
Interpreto Eva Mendes, uma mulher determinada e leal, que coloca a amizade acima de tudo. É intensa, humana e vive dilemas que muitos podem reconhecer.
𝗢 𝗾𝘂𝗲 𝗺𝗮𝗶𝘀 𝘁𝗲 𝗰𝗮𝘁𝗶𝘃𝗼𝘂 𝗻𝗼 𝗮𝗿𝗴𝘂𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼 𝗱𝗮 𝘀𝗲́𝗿𝗶𝗲?
O tema. “A Estala” aborda o universo corporativo, especificamente no sistema bancário, retratando a ambição, a corrupção e as lealdades improváveis. É uma ficção diferente, que desafia o espectador a questionar quem é quem.
𝗖𝗼𝗺𝗼 𝘁𝗲𝗺 𝘀𝗶𝗱𝗼 𝘁𝗿𝗮𝗯𝗮𝗹𝗵𝗮𝗿 𝗰𝗼𝗺 𝗼 𝗲𝗹𝗲𝗻𝗰𝗼 𝗲 𝗮 𝗲𝗾𝘂𝗶𝗽𝗮?
Incrível. O Dorivaldo é um realizador humano e aberto, que dá liberdade ao actor para crescer. Trabalhar com colegas como José Paciência, Marlene Neto e Agú Água tem sido inspirador, entre outros, desde velhos colegas a novos contactos, que tem sido muito agradável trabalhar com eles. Recordo com carinho uma cena intensa que fiz com o Paciência e que gravámos num único take. Foi emocionante.
𝗤𝘂𝗲 𝗺𝗲𝗻𝘀𝗮𝗴𝗲𝗺 𝗮 𝘀𝗲́𝗿𝗶𝗲 𝗱𝗲𝗶𝘅𝗮 𝗮𝗼 𝗽𝘂́𝗯𝗹𝗶𝗰𝗼?
Que a honestidade e a determinação valem a pena. A série fala de poder, ambição e corrupção, mas também de resiliência, empoderamento feminino, verdade e justiça.
Retornando à Isorrosa,
𝗤𝘂𝗮𝗻𝗱𝗼 𝗽𝗲𝗿𝗰𝗲𝗯𝗲𝘀𝘁𝗲 𝗾𝘂𝗲 𝗾𝘂𝗲𝗿𝗶𝗮𝘀 𝘀𝗲𝗴𝘂𝗶𝗿 𝗮 𝗿𝗲𝗽𝗿𝗲𝘀𝗲𝗻𝘁𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼 𝗽𝗿𝗼𝗳𝗶𝘀𝘀𝗶𝗼𝗻𝗮𝗹𝗺𝗲𝗻𝘁𝗲?
Quando percebi que já não cabia em outros sonhos. Era isto que eu queria fazer.
𝗔𝗹𝗲́𝗺 𝗱𝗮 𝗿𝗲𝗽𝗿𝗲𝘀𝗲𝗻𝘁𝗮𝗰̧𝗮̃𝗼, 𝘁𝗲𝗻𝘀 𝗼𝘂𝘁𝗿𝗼𝘀 𝗶𝗻𝘁𝗲𝗿𝗲𝘀𝘀𝗲𝘀 𝗮𝗿𝘁𝗶́𝘀𝘁𝗶𝗰𝗼𝘀?
Sim. Gosto de escrever histórias e pensamentos, produzir e gerir o meu Projecto Sonho Arte. Quem sabe um dia também escreva roteiros.
𝗤𝘂𝗮𝗶𝘀 𝘁𝗲̂𝗺 𝘀𝗶𝗱𝗼 𝗼𝘀 𝗺𝗮𝗶𝗼𝗿𝗲𝘀 𝗱𝗲𝘀𝗮𝗳𝗶𝗼𝘀 𝗱𝗮 𝘁𝘂𝗮 𝗰𝗮𝗺𝗶𝗻𝗵𝗮𝗱𝗮?
Manter-me firme mesmo quando as coisas não saem como o esperado. Continuar com fé e propósito é o maior desafio e também a maior vitória.
𝗛𝗮́ 𝗳𝗶𝗴𝘂𝗿𝗮𝘀 𝗾𝘂𝗲 𝘁𝗲 𝗶𝗻𝘀𝗽𝗶𝗿𝗮𝗿𝗮𝗺?
Sim, muitas. Destaco Olga de Jesus, Florbela Nhanga, Mariana Loufranto e Vanda Pedro. São referências que respeito muito.
𝗤𝘂𝗮𝗶𝘀 𝗽𝗿𝗼𝗷𝗲𝗰𝘁𝗼𝘀 𝗱𝗲𝘀𝘁𝗮𝗰𝗮𝘀 𝗱𝗮 𝘁𝘂𝗮 𝗰𝗮𝗿𝗿𝗲𝗶𝗿𝗮?
“A Estala” é a minha primeira grande produção televisiva. Antes disso, participei em “Nascidos no Escuro” de António Guimarães e “Após Casamento” de João Cassoma. No teatro, a minha experiência é mais ampla e contínua.
𝗘 𝗾𝘂𝗮𝗻𝘁𝗼 𝗮𝗼 𝗳𝘂𝘁𝘂𝗿𝗼?
Depois de “A Estala”, quero focar-me no teatro e no Projecto Sonho Arte. Em 2026 planeamos novas edições no Huambo e Bié e, se Deus permitir, o meu primeiro monólogo.
𝗛𝗮́ 𝗮𝗹𝗴𝘂𝗺 𝘁𝗶𝗽𝗼 𝗱𝗲 𝗽𝗮𝗽𝗲𝗹 𝗾𝘂𝗲 𝗴𝗼𝘀𝘁𝗮𝗿𝗶𝗮𝘀 𝗱𝗲 𝗶𝗻𝘁𝗲𝗿𝗽𝗿𝗲𝘁𝗮𝗿?
Gostaria de viver uma personagem sulana de raiz, com elementos da língua umbundu. Seria uma forma de representar as minhas origens.
𝗖𝗼𝗺𝗼 𝘃𝗲̂𝘀 𝗼 𝗮𝗰𝘁𝘂𝗮𝗹 𝗲𝘀𝘁𝗮𝗱𝗼 𝗱𝗮𝘀 𝗮𝗿𝘁𝗲𝘀 𝗰𝗲́𝗻𝗶𝗰𝗮𝘀 𝗲𝗺 𝗔𝗻𝗴𝗼𝗹𝗮?
Há muito talento e esforço, mas ainda faltam condições, espaços e apoio. Temos artistas e até escolas, mas precisamos de políticas e infraestruturas que sustentem o sector.
𝗔𝘀 𝗽𝗹𝗮𝘁𝗮𝗳𝗼𝗿𝗺𝗮𝘀 𝘁𝗲̂𝗺 𝗮𝗷𝘂𝗱𝗮𝗱𝗼?
Sim. O Kwenda Magic, de forma especial, e as redes sociais deram visibilidade ao talento angolano. É um passo importante para o crescimento do audiovisual nacional.
𝗢 𝗾𝘂𝗲 𝗲́ 𝗲𝘀𝘀𝗲𝗻𝗰𝗶𝗮𝗹 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝗳𝗼𝗿𝘁𝗮𝗹𝗲𝗰𝗲𝗿 𝗼 𝘀𝗲𝗰𝘁𝗼𝗿?
Investimento, políticas culturais eficazes, formação contínua e promoção internacional das produções locais. Precisamos de acreditar na nossa própria arte.
𝗢 𝗾𝘂𝗲 𝘁𝗲 𝗺𝗼𝘃𝗲 𝗲𝗺 𝗰𝗲𝗻𝗮?
As emoções. Cada personagem traz um novo desafio e é isso que me alimenta.
𝗧𝗲𝗻𝘀 𝘂𝗺𝗮 𝗳𝗶𝗹𝗼𝘀𝗼𝗳𝗶𝗮 𝗱𝗲 𝘃𝗶𝗱𝗮?
Sim: “Enquanto houver saúde, trabalhe pela sua arte todos os dias. Bons há muitos, mas a excelência não é para todos.”
𝗖𝗼𝗺𝗼 𝗹𝗶𝗱𝗮𝘀 𝗰𝗼𝗺 𝗮 𝗲𝘅𝗽𝗼𝘀𝗶𝗰̧𝗮̃𝗼 𝗱𝗮 𝗽𝗿𝗼𝗳𝗶𝘀𝘀𝗮̃𝗼?
Com serenidade e maturidade. A exposição faz parte, mas aprendi a manter-me fiel a mim mesma.
𝗤𝘂𝗲 𝗶𝗺𝗽𝗮𝗰𝘁𝗼 𝗾𝘂𝗲𝗿𝗲𝘀 𝗱𝗲𝗶𝘅𝗮𝗿 𝗮𝘁𝗿𝗮𝘃𝗲́𝘀 𝗱𝗮 𝘁𝘂𝗮 𝗮𝗿𝘁𝗲?
Quero inspirar reflexão, empatia e consciência. Que as minhas personagens provoquem emoções e fiquem na memória das pessoas.
𝗢 𝗾𝘂𝗲 𝗱𝗶𝗿𝗶𝗮𝘀 𝗮𝗼𝘀 𝗷𝗼𝘃𝗲𝗻𝘀 𝗾𝘂𝗲 𝘀𝗼𝗻𝗵𝗮𝗺 𝘀𝗲𝗴𝘂𝗶𝗿 𝗲𝘀𝘁𝗮 𝗰𝗮𝗿𝗿𝗲𝗶𝗿𝗮?
Que coloquem Deus à frente, estudem, tenham fé, paciência e persistência. É um caminho difícil, mas possível.
𝗤𝘂𝗲 𝗽𝗮𝗹𝗮𝘃𝗿𝗮 𝗱𝗲𝗳𝗶𝗻𝗲 𝗲𝘀𝘁𝗲 𝗺𝗼𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼 𝗱𝗮 𝘁𝘂𝗮 𝘃𝗶𝗱𝗮?
Resistência. As verdadeiras batalhas começam agora.
𝗘 𝘂𝗺𝗮 𝗺𝗲𝗻𝘀𝗮𝗴𝗲𝗺 𝗳𝗶𝗻𝗮𝗹?
Todo ser humano deveria experimentar ser artista uma vez na vida, porque o verdadeiro artista é o ser mais espirituoso que existe na Terra.
Em foco: Isorrosa Roque (Isorrosa Iso )
FOCO Moda
Celebramos a beleza.
Texto e Edição: Tayano Alfredo
Design/Capa: Walufe - Assessoria & Marketing
Foto:Mil Letras Audiovisual