16/11/2025
Capítulo III - FIM - A HISTÓRIA DO MATEUS
O MENINO DO S**O AMARELO - LUBANGO
"A Vitória e o Eco da Huíla"
😭😭
O sol da tarde ainda ardia sobre o Lubango, espalhando uma luz dourada que fazia o pó brilhar nas ruas como pequenos fragmentos de esperança. O segundo dia da Feira das Comunidades — último da celebração — estava em seu auge. O pátio do ISCED-Huíla pulsava vida. Cada som, cada voz, cada passo era uma celebração da alma africana.
Do outro lado do muro, Mateus, Pedro e Julho permaneciam firmes, de olhos atentos e corações abertos.
Não precisavam entrar para sentir o que acontecia lá dentro — o vento trazia-lhes tudo: o cheiro da moamba e do mufete, o eco dos batuques, o murmúrio das vozes entoadas em coro.
A cada intervalo de música, o riso dos estudantes misturava-se ao som distante do trânsito da cidade, criando uma harmonia curiosa entre dois mundos — o do privilégio e o da sobrevivência.
O apresentador anunciou com entusiasmo:
> — “Agora, o grupo representando a Província do Bié!”
As palmas ecoaram, e um grupo de jovens com panos vermelhos e pretos entrou, dançando com energia. Pedro observava, encantado, enquanto Julho tentava imitar os passos, tropeçando e rindo.
— “Olha só, parece que os pés deles nem tocam no chão!” — dizia ele.
Depois veio o grupo do Uíge, com o som dos tambores e vozes graves que lembravam rezas antigas.
Seguiu-se o grupo do Namibe, com as dançarinas vestidas de azul, rodopiando como ondas do mar.
Os meninos observavam tudo pela fresta da grade, com os olhos brilhando e o peito apertado.
Era como assistir à vida de um mundo que lhes era negado, mas que, ainda assim, os chamava.
Pedro, por um instante, fechou os olhos. Imaginou-se lá dentro, não como espectador, mas como participante — vestido com uma túnica africana, dançando entre os colegas, aplaudido, reconhecido.
Mas quando abriu os olhos, o muro ainda estava lá.
O muro, e a vida que ele separava.
As horas passavam, e o sol começava a ceder o lugar à sombra das montanhas.
De repente, um burburinho cresceu entre a multidão: era o momento mais esperado — o grupo da Província da Huíla, o anfitrião da festa, entrava em cena.
Os tambores ressoaram tão fortes que os vidros do portão vibraram.
As vozes femininas ergueram-se como aves em voo, e os rapazes batiam os pés no chão em perfeita cadência.
As roupas traziam os tons da terra: vermelho queimado, castanho e dourado — as cores do próprio solo do Lubango.
Pedro segurou firme a grade com as duas mãos, os olhos marejados.
— “É a nossa terra…” murmurou.
Julho respondeu, emocionado:
— “A Huíla é África em cada batida.”
De repente, o ritmo abrandou. Um silêncio respeitoso caiu sobre o pátio.
As dançarinas recuaram e, ao centro, entrou uma menina coberta por um pano branco.
Os mais velhos do grupo começaram a entoar um cântico grave, que soava como uma prece antiga saída das aldeias:
> “Yelele… yelele…”
“Ulu… ulu…”
O público prendeu a respiração.
Representavam o Efiko, a cerimónia tradicional que marca a transição da infância para a maturidade entre os povos da Huíla.
Com gestos lentos e solenes, os jovens cobriram a menina — símbolo da pureza e do saber que desperta — e depois, num círculo, começaram a cantar e dançar em volta dela.
Cada passo, cada batida de tambor contava uma história de origem, respeito e renascimento.
A encenação não era apenas uma dança — era memória viva, era o coração da tradição huilana pulsando diante de todos.
Mateus, do outro lado do muro, observava com o olhar brilhando de lágrimas.
Pedro apertava o peito.
Julho, maravilhado, sussurrou:
— “Parece um sonho…”
E, de certa forma, era.
Um sonho de pertença, de cultura e de orgulho.
Quando o ritual terminou, os aplausos ecoaram como trovões.
A plateia ergueu-se, emocionada.
A Huíla não trouxera apenas música — trouxera a alma.
Pouco depois, o apresentador voltou ao microfone, sorridente:
> — “E o grupo vencedor da Feira das Comunidades — edição do Dia de África — é… o grupo da Província da Huíla!”
O pátio vibrou.
Os estudantes gritavam, abraçavam-se, batiam palmas e erguiam bandeiras.
Do outro lado do muro, Mateus, Pedro e Julho também festejavam.
Saltavam, riam e dançavam como se tivessem vencido junto.
Porque, no fundo, tinham.
Pedro ergueu o punho fechado e gritou:
— “Huílaaaa! É nós também!”
Julho e Mateus repetiram, entre gargalhadas.
A tarde começava a morrer.
O relógio marcava 17 horas em ponto quando o apresentador anunciou o encerramento das atividades.
O público começou a sair, o pátio foi esvaziando, e o vento carregava o som dos últimos aplausos.
Os três meninos permaneceram por um momento imóveis, olhando para o portão que agora se fechava.
Atrás dele, ficava a festa; diante deles, voltava a rua — a mesma rua fria, com o mesmo destino incerto.
Mateus apertou o s**o amarelo contra o peito.
No horizonte, o sol desaparecia, e apenas o eco dos tambores restava.
> “Nem todos os filhos de África tiveram a chance de celebrar.
Mas, mesmo de fora, eles continuam a sonhar.”
FIM " OBRIGADO" SE GOSTOU DA HISTÓRIA DEIXE SEU COMENTÁRIO, NÃO ESQUECENDO DE SEGUIR A PÁGINA A Palavra da História