30/11/2025
ALEMBAMENTO: O CORAÇÃO DO CASAMENTO ENTRE OS POVOS BANTU DE ANGOLA
A África constitui um continente profundamente rico em diversidade cultural. A sua vastidão territorial e a multiplicidade de povos, línguas e sistemas sociais fazem com que práticas como o casamento variem amplamente entre povos. Apesar dessa pluralidade, existe um elemento comum que atravessa muitas sociedades africanas: "o dote", entendido como um símbolo de honra, responsabilidade e reciprocidade familiar.
No contexto angolano, destaca-se a cerimónia do "alembamento", uma prática ancestral que permanece central no reconhecimento das uniões familiares e que, ao longo da história, passou a coexistir com dois outros modelos de casamento introduzidos pelo colonialismo: o casamento religioso cristão e o casamento civil.
𝗔 𝗢𝗥𝗜𝗚𝗘𝗠 𝗘 𝗦𝗜𝗚𝗡𝗜𝗙𝗜𝗖𝗔𝗗𝗢 𝗗𝗢 𝗔𝗟𝗘𝗠𝗕𝗔𝗠𝗘𝗡𝗧𝗢
Normalmente conhecido por muitos como “alambamento”, o termo correto é alembamento. Trata-se de uma cerimónia praticada há séculos pelos povos que habitam o território que hoje chamamos Angola, marcando a união entre duas famílias e antecedendo a vida conjugal de um jovem casal.
A palavra tem origem no kimbundu "kulemba", ligado à Lemba, entidade espiritual associada à fertilidade, à proteção das mulheres grávidas e à harmonia familiar. Assim, o alembamento não é apenas um ato social: ele carrega em si uma profunda dimensão espiritual e simbólica, que honra a continuidade da vida e a proteção da nova família que está prestes a ser formada.
O casamento não era apenas uma união entre duas pessoas; tratava-se de um compromisso reconhecido pela comunidade, pelos antepassados e por Nzambi, a entidade suprema na cosmovisão desses povos bantu. Assim, o alembamento funcionava como legitimação espiritual, social e cultural da união.
Acreditava-se que a ausência do alembamento podia comprometer a fertilidade do casal ou gerar consequências negativas para os descendentes. Desta forma, a cerimónia assumia um caráter não