06/10/2025
Eu tive um sonho...
Nesse sonho, eu não era eu. Eu era a Entidade, a representação do que chamam de Deus, o braço direito na distribuição das Graças. Os pedidos e as súplicas eram um oceano infinito de sussurros. Eu ouvia cada um, mesmo que não me vissem; eu respondia a cada um, mesmo que não me ouvissem. Minha essência era a doação silenciosa.
Decidi, então, manifestar-me. Não como luz ou trovão, mas como um mestre anônimo. Para um menino, ensinei a amar e a odiar, a força do esforço e a armadilha da preguiça. Dei-lhe membros capazes, uma mente pensante, e o sopro da vida. O mesmo fiz, geração após geração, semeando a capacidade em cada ser.
Mas havia um Paradoxo Insuportável:
Todos, absolutamente todos, paravam em meio à vida e pediam autorização para usá-la. Imploravam por bênçãos que já pulsavam em seus ossos. Eles mendigavam permissão para SER, quando a própria existência era a prova irrefutável da Minha Vontade. Se não fosse para que vivessem e agissem, por que teriam sido criados? Qual é o medo que os faz encolher o próprio dom?
Em meio a essa maré de súplicas, surgiu um homem. Ele era criticado, julgado e isolado por sua linha de pensamento. Apenas os de espírito silenciosamente ousado — aqueles que não tinham a coragem de enfrentar o chicote da apatia e do julgamento alheio — conseguiam entender sua verdade.
Fui, então, ao Coração do Todo e clamei:
"Senhor, vês a cegueira deles? Por que persistem em pedir o que já possuem e em condenar quem não o faz? Será que não enxergam que este homem já percebeu a Sua Maior Bênção?"
Olhe para mim, caro leitor. O que seria tão subversivo na conduta desse homem a ponto de merecer tal reprovação, se ele não roubava nem prejudicava ninguém?
Ah, deixe-me desvelar o cerne de sua heresia bendita...
Ele era um homem que tinha a convicção inabalável de que alcançaria o que almejasse, desde que seu caminho fosse honesto e não exigisse a queda de ninguém.
Ele odiava ouvir "Se Deus quiser" quando o assunto era a ação humana, a beneficência ou a evolução da comunidade. Para ele, a Vontade Divina já estava estabelecida no ato da criação: a Liberdade de Fazer.
Ele era um homem que...
que ousava colocar a própria Vontade acima do medo do desconhecido. Ele não pedia autorização, ele agradecia o poder. Ele não mendigava a bênção, ele a exercia. Ele era a obra em pleno movimento, o reflexo que não teme ser maior que a sombra.
Ele não pedia que Deus quisesse. Ele sabia que Deus o havia criado para querer.
Isso não lhe causa nenhum Impacto Reflexivo?
Olhe para as suas mãos. Elas foram feitas para erguer, não para suplicar. Olhe para a sua mente. Ela foi feita para criar, não para esperar. Se você é a prova viva da Vontade Divina, por que ainda trata sua existência como um rascunho esperando a aprovação final?
A maior blasfêmia não é negar o Criador, é apequenar a criação.
Pare de pedir permissão para usar o que lhe foi dado como herança. A Bênção não é um evento futuro. É a sua próxima atitude.
- Mooneywalker