
02/08/2025
"PRESIDENTE FALOU, MAS NÃO DISSE TUDO": SOCIÓLOGO APONTA FALHAS NO DISCURSO DE JOÃO LOURENÇO SOBRE GREVE DOS TAXISTAS
Por: Ernesto João | Portal Destaques.ao
O sociólogo João da Silva Mbengui fez, neste sábado, 2 de Agosto, em Luanda, uma análise crítica ao discurso do Presidente da República de Angola, João Lourenço, pronunciado após a greve dos taxistas que culminou em actos de vandalismo, arruaças e pilhagens na capital do país.
Em declarações exclusivas ao Portal Destaques.ao, Mbengui avaliou a mensagem presidencial em três pontos fundamentais:
“Em primeiro lugar, é positivo o facto de o Chefe de Estado se apresentar ao povo e dar a cara. No entanto, é preciso olhar para além da presença e examinar o conteúdo real da sua mensagem”, afirmou o sociólogo.
Segundo Mbengui, o Presidente não abordou as causas reais que levaram à greve dos taxistas, focando-se apenas nos seus efeitos e nas consequências sociais dos protestos.
“Faltou clareza sobre o que motivou o protesto. A população esperava ouvir explicações sobre o aumento do preço dos combustíveis e quais seriam as medidas para atenuar o impacto no seu dia-a-dia”, apontou.
O sociólogo criticou ainda o uso do momento para fazer um balanço do mandato:
“O povo já conhece o passado. O momento exigia respostas concretas e soluções para os problemas actuais. Não era a altura para um relatório de realizações.”
Mbengui discordou do elogio feito à actuação da Polícia Nacional durante os confrontos:
“É como um pai que vê dois filhos a lutarem, e em vez de mediar e aconselhar, elogia apenas aquele que bateu. Isso não resolve, apenas agrava o conflito.”
O analista defendeu um diálogo urgente e inclusivo entre partidos políticos, associações, entidades civis e demais forças vivas da sociedade:
“Temos uma paz jovem, com apenas 23 anos, e devemos preservá-la com diálogo. Roupa suja lava-se em casa, mas a roupa rasgada precisa de ser avaliada: se ainda der para usar, vamos reparar; senão, devemos dispensar.”
Por fim, Mbengui defende políticas consistentes de mitigação e desenvolvimento:
“Se vamos remover subsídios em sectores essenciais como combustíveis, água e energia, então precisamos compensar com aumento salarial, estabilidade cambial, melhorias na cesta básica e investimento real na agricultura. A solução passa por simplificar o acesso ao crédito para quem quer cultivar, manter as estradas transitáveis e permitir o escoamento da produção. Só assim todos poderemos remar este barco rumo a um bom porto.”