06/11/2025
Nos ensinaram a nos odiar. Foi a lição mais bem aprendida, a mais cruelmente internalizada. Nos apresentaram um Deus branco, um padrão de beleza alvo, uma língua "culta" e um modo de vida "civilizado". E o preço para entrar nesse paraíso ilusório? A aniquilação de tudo o que somos.
O Cabelo: Nossa coroa de glória, herança cósmica dos ancestrais, é quimicamente alisada, apertada sob chapinhas, escondida sob perucas. Cada fio liso é um luto por uma memória frisada, uma história torcida que queria ser contada.
A Pele: Nosso manto sagrado, pigmentado pelo sol do berço, é pintado com bases claras, clareado com produtos corrosivos. É a tentativa desesperada de apagar o mapa da nossa jornada, de negar a geografia divina do nosso corpo.
A Língua: A língua do colonizador, outrora um instrumento de sobrevivência, tornou-se um símbolo de status. Falamos o idioma do opressor com orgulho, enquanto sussurramos com vergonha os nomes iorubás de nossos avós, os provérbios quicongos que carregam toda a sabedoria.
As Roupas: Vestimos pesados ternos europeus sob o sol equatorial. Cobrimos nossos corpos dinâmicos com trajes estáticos, enquanto nossas cores vibrantes, nossos tecidos que contam histórias (como o kente e o ankara), são relegados ao "folclórico", ao "informal".
Rimos do irmão de pele mais escura, como se ao apontar o dedo para a sua negritude, a nossa própria se tornasse mais clara, mais aceitável. É a lógica do porrete que, depois de tanto apanhar, pega a si mesmo. Rimos do cabelo "ruim" do outro, cegos para o nosso próprio cabelo amordaçado.
Descolonizar a mente é o ato mais radical de libertação. Não se trata de odiar o branco, mas de amar furiosa, incondicional e orgulhosamente o NEGRO.
Desaprender para Aprender, Quebremos o espelho europeu. Busquemos nosso reflexo nas águas do rio Kwanza, na superfície polida do ébano, nos olhos de nossos avós.
Restaura a Coroa Deixemos o cabelo crescer em sua glória natural. Cada black power é um levante. Cada trança é uma escritura ancestral.
Usemos nossas cores, nossos tecidos, nossos adereços. Nossa estética é uma declaração política de existência.
Aprendamos quimbundo, iorubá, crioulo. Chamemos nossos filhos pelos nomes de guerreiros e rainhas, não pelos nomes dos donos de escravos.
Paremos de buscar a luz no final do tomel. A escuridão da nossa pele é o útero da criação, o carvão que pressiona-se em diamante sob a pressão da história.
A África não é um lugar do qual fomos retirados. É um lugar que nós carregamos dentro. É a batida do coração, o ritmo do tambor, a memória do baobá na savana da nossa alma.
Acordem, filhos do sol! A revolução começa no espelho.